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A lua estava alta quando o movimento na taverna começou a diminuir

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A lua estava alta quando o movimento na taverna começou a diminuir. Alguns poucos ainda permaneceram aproveitando o calor da lareira e a bebida, mas, no geral, deu-se início a uma mudança súbita nos ares. O festejo perdeu a força, a música findou e o fogão parou de trabalhar na cozinha. O recinto encontrou seu primeiro momento de sossego, algo que Calendra a princípio estranhou, apesar de também ter ficado aliviada. Ela se divertira ao dançar e rir com amigos pela primeira vez em muitos anos, mas aquele não era seu estado natural. Necessitava de um descanso para as pernas cansadas e fôlego para a respiração agitada.

Pavetta, das duas a mais afetada pela recente folia, encontrava-se estirada ao lado de Calendra, seus braços estendidos de qualquer jeito em cima da mesa a fim de apoiar a própria cabeça, que pesava sobre eles. Seu corpo volta e meia pendia um pouco da cadeira, equilibrando-se no assento apenas porque Calendra a empurrava de volta ao lugar quando estava a ponto de cair.

Depois de mais uma vez ajeitá-la em uma posição confortável, Pavetta virou o rosto levemente embriagado na sua direção, um sorriso abestalhado estampado nos lábios carnudos ao murmurar, contente:

— Fazia muito tempo que eu não me divertia tanto assim. — Sem que ela percebesse, uma mecha de seu cabelo resvalou do coque e caiu diante de seus olhos. Calendra de imediato estendeu a mão e a repôs atrás da orelha dela, sentindo o próprio sorriso querendo lhe escapar. No entanto, tentou se fingir de séria, encarando-a com a sua melhor expressão preocupada.

— Para mim, divertiu-se até demais, mocinha.

Pavetta fez uma careta, bufando.

— Uh, falando assim até parece a minha mãe.

— Bom lembrar dela, não acha? O que ela diria se a visse assim?

— Provavelmente o mesmo que você, se quer saber. Na verdade, posso jurar que ela iria te adorar, toda certinha como você é. Mas eu sempre digo a ela que só se vive uma vez, apesar de toda essa baboseira que nos contam sobre nossas almas serem eternas. Eu não acredito nisso. Penso que temos que aproveitar os momentos que possuímos ao alcance das mãos, antes que seja tarde demais. De que vai me servir respeitar todas as regras? Se fosse pela minha mãe, eu estaria muito bem em casa, ou presa em meu quarto, ou a ajudando com os deveres domésticos. Não! Estou farta disso. E você também deveria estar! Deveria se permitir mais, aproveitar mais as diversões da vida.

— E quem disse que eu não me diverti hoje à noite?

Pavetta lhe lançou um olhar espertalhão, beirando à travessura.

— É, mas eu sei qual foi o motivo dessa alegria toda.

Calendra franziu o cenho.

— Qual?

— Vai me dizer que não houve nenhum empurrãozinho de certa pessoa com um belo par de olhos azuis?

Calendra enrubesceu.

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