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Era uma noite de ventania, de uma calidez que anunciava a vinda da chuva

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Era uma noite de ventania, de uma calidez que anunciava a vinda da chuva. Onde quer que o vento soprasse, uma saraivada de folhas despencava das árvores, cujos galhos eram arremessados sem piedade de um lado a outro. Nuvens grossas eram carregadas desde o Norte, trazendo consigo o som cada vez mais insuportável da trovoada. Não era uma noite propícia para se estar fora da segurança do lar, e a maioria das criaturas encontrava-se recolhida.

Com a exceção de uma.

Bem no centro do gigantesco lago, no exato ponto em que a lua crescente se espelhava na superfície da água, uma figura emergia de modo lento e delicado. O líquido fluía por seu corpo, avivando-o, e a luminescência do astro prateado dava forma a seus contornos. Assim que chegou à superfície, com seus longos cabelos flutuando à deriva, enrolou-se ao reflexo da lua, fazendo-o deslizar como se fosse um brinquedo entre suas mãos. Sua luz se espalhou, cobrindo-a por inteiro, o que a permitiu se libertar do antigo aprisionamento. Foi se dirigindo a passos vagarosos até a orla, na qual, ao firmar os pés, transformou-se em brumas. O vento a capturou, e com ele rodopiou e rodopiou em direção ao céu. Por um momento, a figura sentiu a alegria que a liberdade traz, esquecendo-se quase completamente de suas obrigações, mas não tardou a retomá-las.

Seu destino era certo e só havia uma coisa em sua consciência. Avançou pela escuridão como um sonho, alcançando por fim o chalé de madeira ao sopé da montanha. Circundou-o à procura de uma brecha para entrar, encontrando o buraco da chaminé. Por ali penetrou a residência, circulando pelos cômodos um de cada vez.

Em um deles, avistou uma superfície forrada com um material macio e de aparência aconchegante, na qual duas jovens se deitavam. Uma delas, com um volumoso cabelo negro, ressonava baixinho em seu sono. A figura foi em sua direção, espreitando-a. Em sua testa, havia um pequenino sinal prateado, indício de que se tratava da alma que viera buscar. Pairou sobre ela e, com a voz suave e calorosa, começou a cantar uma canção ao pé de seu ouvido.

O som límpido preencheu o espaço, pois era de uma beleza tal que não havia quem pudesse ignorá-lo. O canto envolveu-a aos poucos, misturando-se aos seus sonhos. Um sorriso esticou seus lábios, e as feições graves automaticamente relaxaram. A figura usou aquele momento específico para murmurar um nome:

Calendra... desperte...

Por sua parte, as pálpebras de Calendra tremelicaram levemente, seduzidas por aquele som maravilhoso. Ela se alongou dentre as cobertas, sentindo a quentura tomar-lhe a pele. Um ligeiro e súbito pensamento lhe veio à mente, de que estava segura. Sem hesitação, descobriu-se e pôs os pés para fora do colchão, firmando-os no chão na intenção de erguer o corpo. Sentiu-se acolhida como se alguém a abraçasse protetoramente, e foi com confiança que seguiu para fora do quarto e deixou para trás o seu lar.

O ar cálido bateu contra seu rosto assim que se embrenhou na noite. Era uma sensação um tanto incômoda; porém, engolfada no chamado melodioso, estranhamente não se importou. Havia um sorriso aberto na face e uma risada escapando da garganta. Seus braços se estenderam para receber a luz ofuscante da lua, cultuando-a e às estrelas em seu brilho cintilante.

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