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Os dias seguintes se passaram na maior tranquilidade, isto é, se não fosse considerado o estado lastimável de Rohden

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Os dias seguintes se passaram na maior tranquilidade, isto é, se não fosse considerado o estado lastimável de Rohden. O irmão estava gravemente ferido no rosto, com diversos cortes profundos no supercílio e nos lábios. Seu abdome também tinha um tom arroxeado bem preocupante, e enquanto Marion e Calendra limpavam os machucados, ele mal podia conter os grunhidos que escapavam da garganta.

— Acho que eu não nasci para a luta. — Gracejara ele, rindo parcamente.

No meio tempo, certamente por estranhar sua prolongada ausência, Pavetta tentara se comunicar com ela por meio de Ishtar, que passara a lhe trazer mensagens amarradas à pata quase diariamente. Os bilhetes no começo tinham um teor interrogativo, incitando-a a sair de casa e respirar um pouco de ar puro; porém, conforme os dias seguiam sem nenhuma resposta por parte de Calendra, Pavetta ficara mais e mais preocupada, perguntando-lhe o que estava acontecendo para não lhe responder.

Calendra não queria sair, não queria respirar o ar puro. Sentia que não merecia nada disso, não quando Halim pudesse estar preso em um lugar abafado e escuro, não quando Faris pudesse estar chorando em desespero e Emir e Adilah, impotentes.

E assim, enquanto as temperaturas baixavam e a neve começava a despencar sobre o vale, transformando tudo em um manto branco e brilhante, o chalé ao sopé da montanha continuava a ser um refúgio encantado, não apenas para Calendra, mas para toda a sua família. Certo dia, ela estava na cozinha preparando uma refeição para todos. Ainda não se acostumara a tanto silêncio, ansiando ouvir os risos estridentes e a tagarelice que parecia preencher cada canto da casa com alegria, por isso tentava se distrair enquanto cozinhava. Com uma colher, retirava as sementes da abóbora entre suas mãos, concentrada na tarefa de não raspar a parte suculenta. Estava tão absorta que não notara Rohden. Viu-o apenas quando ele parou ao seu lado.

— Eu trouxe um recado para você. — Disse ele.

Calendra sequer desviou o olhar da abóbora.

— Se for de Pavetta, deixe na mesa que eu já vejo. Ela deve estar querendo me tirar de casa novamente.

— Não é de Pavetta.

— Não? — Calendra imediatamente interrompeu o movimento do punho e lançou um olhar ao irmão. Notou com alívio que as marcas horrendas que maculavam o seu rosto estavam praticamente saradas, restando apenas as linhas rosadas das cicatrizes. Havia olheiras escuras sob seus olhos, bem como uma porção a mais de rugas que não existia antes, em especial na testa. — Então, de quem é?

— De Aspen.

Calendra franziu o cenho.

— De Aspen? Mas...

— Ele me pediu para entregar isso a você, mas não quis me dizer sobre o que se tratava. Também me disse para não ler. — Ele balançou o bilhete no ar, sorrindo. — Ele me contou que pensava em pedir a Pavetta, e não a mim, que lhe entregasse o bilhete, mas, por alguma razão, não confiou que ela fosse entregá-lo sem ler. Então, preferiu mandá-lo por minhas mãos.

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