Segredos de um Herói.

(26) Sutil

Aizawa permaneceu paralisado na soleira da porta sem saber como interpretar a expressão distorcida da ômega.

__ Está tudo bem? __ perguntou após alguns segundos.

__ Acho melhor você entrar __ Inko retrucou evitando responder deliberadamente. O moreno percebeu e não insistiu.

Quando entrou na pequena sala foi tomado por uma atmosfera que agitou seu alfa interior. Cada centímetro do apartamento estava cheio dos feromônios da ômega, o que lhe trouxe uma intensa vontade de liberar o próprio para completar o ambiente. Nada lhe traria mais satisfação que ter ambos aromas misturados.

__ A Eri dormiu enquanto assistiamos um filme, acho melhor não acordar.__ Inko falou baixinho mostrando a menina aconchegada no sofá.

__ Precisamos voltar para a escola, terei que a acordar de toda maneira. __ Eraser respondeu. Apesar do semblante neutro por fora, ele odiava ter que interromper o descanso da menina.

__ Deixe-a dormir mais um pouco. Você não pode sair de toda forma __ Inko suspirou baixinho ao final da frase.

__ Por quê não?

__ Essa região sofre com alagamentos, no momento em que começou a chover, ficamos ilhados. Podem passar a noite aqui. __ Inko respondeu com indiferença, apesar de seu coração ter disparado no peito. Medo, apreensão e ansiedade a envolveu feito uma serpente gigante.

__ Vou agradecer sua hospitalidade. Me dê só um instante para estacionar o carro e fazer uma ligação. Já estarei de volta. __ Aizawa se curvou um pouco antes de sair do apartamento.

A ômega respirou fundo assim que se viu à sós. Um alfa dormiria em sua casa! O medo aumentou ao ponto dela tremer.

"Ele não vai fazer nada... Tem uma criança aqui... Ele não vai fazer nada... esse homem não é ele... não vai acontecer nada...", Inko repetiu como um mantra até que se acalmou quase por completo. Sim, tudo ia ficar bem.

Enquanto essa crise de ansiedade sumia Aizawa queria ter asas nos pés quase correndo até o carro, ignorando a chuva que molhava suas roupas. Dirigiu o veículo até o estacionamento do pequeno complexo de apartamentos. Dali mesmo enviou uma mensagem para Yamada avisando brevemente que não poderia voltar esta noite.

Esticou os braços para recolher os ingredientes que tinha comprado mais cedo, já que a esverdeada estava recebendo Eri e ele tão bem, nada mais justo que retribuir com uma boa refeição, certo?

Possuído por uma animação que não sentia a muito tempo correu de volta.

__ Foi rápido __ Inko comentou conseguindo manter o controle.

__ Não tinha muito para resolver. A senhora já jantou? __ Eraser perguntou tentando soar impessoal.

__ Ainda não, estava começando a preparar quando foi atender a porta. __ Inko respondeu notando as sacolas na mão do moreno.

__ Se não se importa, posso usar sua cozinha? Vou preparar o jantar como agradecimento por nos acolher.__ Shota perguntou.

__ Você quer... cozinhar?

__ Sim, se for possível. Hoje tinha combinado em fazer o jantar de Eri, ela estava ansiosa por isso. __ Aizawa respondeu desviando os olhos. Tinha exagerado na última parte, porém realmente havia prometido para a menina. Talvez Inko não gostasse de um estranho em seu território?

__P-po-de! Fique a vontade! __ Inko o conduziu.

Ao contrário do quê Eraser Head imaginou Inko não tinha problemas com alguém em seu espaço, era surpresa. Em toda sua vida, a ômega nunca tinha visto um homem entrar na cozinha de forma voluntária. Seja seu pai, seu marido ou qualquer outro homem que já viu, nenhum deles tinham pisado lá. Na verdade, eles eram incapazes de até mesmo fritar um ovo! Que dirá preparar uma refeição completa.