— Tudo bem. — Respondo calmo.

Observo Natália terminar de retirar cada um dos barbantes, e então suas costas ficam completamente nuas e ela não se importa nenhum pouco que eu esteja aqui, e infelizmente não posso espera-la do lado de fora porque a própria atriz afirmou que eu deveria estar por perto o tempo todo.

E aparentemente ficar do lado de fora do camarim é uma distancia muito grande para sua segurança.

Tento encarar o chão enquanto de relance ainda tenho consciência dela andando pelo lugar com a mão na parte da frente do espartilho o segurando para não revelar seus seios, e procurando onde deixou seu sutiã.

Então noto o pano preto ao meu lado, em cima do braço do sofá e o pego erguendo para ela ainda sem encara-la inteiramente.

— Acho que está procurando por isso. — Falo ainda com a ponta do sutiã presa entre meus dedos, e meu olhar no chão.

— Oh, merda. — Ela se aproxima com o som de seus saltos sendo como um tic tac mortal para meus pensamentos.

Eu sou humano, não consigo ignorar as coisas tão facilmente. E já ficou mais que óbvio que Natália está fazendo algumas coisas para me provocar de proposito, não sei se sua intenção é realmente tentar alguma coisa comigo, ou só me enlouquecer.

Mas independente disso, ela está conseguindo a segunda opção facilmente.

Engulo seco enquanto ela retira o pano das minhas mãos, e amaldiçoo meus olhos por ter visualizado o pedaço maldito de pano que agora eu sei que ela vai colocar em seu corpo atrás daquela cortina que não esconde suas silhueta.

Respiro fundo tentando controlar meus pensamentos quando involuntariamente olho na direção enquanto a vejo erguendo um dos braços para puxar a alça do sutiã sobre o ombro, e em seguida passando a mão pelo cabelo. Se abaixando para descer a meia calça pelas pernas, passo a mão por meu rosto decidindo virar para a porta ficando de costas para a cortina quando a mulher balança o quadril subindo o vestido que infelizmente eu já sei como ficará em seu corpo.

Colado como um inferno para meus piores pesadelos.

— Estou pronta. — Sua voz soa atrás de mim e dou um passo para longe quando sinto sua mão em meu ombro, então olho para o seu rosto a vendo sorrir. — Ao menos que queira continuar encarando a parede. — Arqueia a sobrancelha.

— Vamos. — Falo abrindo primeiro a porta e me certificando que não tem ninguém.

Então saímos os dois juntos andando pelo corredor, algumas pessoas parabenizam pela centésima vez Natália por sua apresentação. Decidimos que não é tão mais seguro, pelo menos por enquanto, que Natália volte ao palco quando as luzes acendem e todos estão visíveis para o agradecimento ao publico.

Fica um pouco mais eufórico, e o pessoal se mistura. Sem dizer que é melhor que ela consiga sair sem que notem para que não tenha sua vida em jogo.

Também aconselhei aos investidores da peça que aumente a segurança de todos os envolvidos, não sabemos até onde esse criminoso poderá ir para conseguir alcançar Natália.

— Você estava tão espetacular hoje a noite! — Helen fala animada quando entramos na van que tem os vidros todos escuros, assim como a maioria das vans usadas pelos atores da peça. — Estou tão orgulhosa.

— Obrigada. — Natália fala feliz entrando na van e se sentando próxima da janela, e me sento na cadeira lateral que me da vista tanto da porta, quanto das duas garotas sentadas em fileiras diferentes.

Helen está digitando no celular com um dos fones no ouvido, parece concentrada enquanto Natália bebe uma garrafa de água. O motorista começa a nos levar na direção da estrada, e respiro fundo apoiando minha cabeça para trás e tentando descansar um pouco.

Os últimos dias foram tão intensos, e tensos que mal tenho dormido porque passo a maioria das noites cuidando do sono de Natália, e vigiando se alguém vai aparecer no quarto. Durantes os dias a acompanho nos ensaios, e em suas caminhadas pela área do hotel. Então mal tenho tempo de descansar, sinto que meu corpo esta se desfalecendo aos poucos, se dou três cochilos por noite é muita coisa!

Quando estamos chegando na via que liga a principal que nos levará para o lado da cidade que fica o hotel, percebo que a van começa a acelerar um pouco mais que o normal. Helen e Natália parecem nem notar isso, então mantenho-me calado, olho na direção do motorista que move seus olhos duas vezes seguidas para o retrovisor.

Franzindo meus olhos, sigo seu olhar disfarçadamente olhando para a estrada logo após a nossa vendo um carro vermelho acompanhando a direção que estamos tomando ao entrar em uma via que não deveria ser a que iriamos pegar.

— Desculpem pegar esse caminho. — O motorista fala puxando o cinto de segurança. — Senhor Mendes, o senhor tem uma arma? — Questiona.

— Sim, e sei muito bem como usa-la. — Respondo já com a mão nela pronta para desbloqueá-la.

— Então acredito que esse será o momento... — Avisa temeroso virando o carro brutalmente em outra rua, fazendo o pneu gritar contra o asfalto.

— O que está acontecendo?! — Helen grita com seu notebook caindo no chão e Natália me olha com sua expressão repleta de medo.

Acredito que nunca mais esquecei isso.

— Acredito que estamos sendo perseguidos. — O motorista avisa.

SHE | S.M ( completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora