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Shawn me acompanha até o hospital um pouco mais cedo pela manhã, antes do horário do embarque no avião que nos levará diretamente para a Europa, primeiramente França

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Shawn me acompanha até o hospital um pouco mais cedo pela manhã, antes do horário do embarque no avião que nos levará diretamente para a Europa, primeiramente França. Não poderia ser mais grata a ele por compreender minhas necessidades nesse momento, e por me dar espaço para lidar com essa situação a minha forma.

Não quero falar com ninguém porque não sinto que tenham palavras que precisam ser ditas, muito menos me sinto confortável para agir como se nada tivesse acontecido. Clover poderia ter sofrido algo ainda pior e bem na nossa cara e não teríamos feito absolutamente nada para impedir, entorpecidos demais por nosso próprio mundo para ver as pequenas ações de um psicopata em nosso meio.

Independente de quem seja, é muito mais inteligente e tem muito mais contatos que Robert esperava quando contratou Shawn. Eu sei disso, apesar dele não confessar, sua expressão ontem a noite no hospital mostrou que o empresário não faz ideia de que caminho as coisas estão tomando.

E eu também não sei.

É como se eu estivesse seguindo um roteiro de um script de alguma história bizarramente real, o script que esse psicopata escreveu para que eu atuasse nos próximos três meses, e tenho medo verdadeiro do que ele possa fazer se caso eu ousar não ser a personagem perfeita para sua pequena peça trágica de teatro.

— Sinto muito. — Falo assim que fecho a porta do quarto atrás de mim. Clover está deitada na cama de hospital com aquela roupa típica de enfermaria, o rosto mais pálido provavelmente pelas altas doses de soro, e com um tipo de tubo ligado a sua veia do braço. A garota ergue seus olhos na minha direção e deixa sua cabeça pender para trás no travesseiro como se a minha presença a deixasse confortável novamente.

— Que merda aconteceu, Natália? — Pergunta cansada, sua voz é fraca e eu sei que isso é por conta de toda essa merda que infelizmente ela teve que passar nas ultimas vinte e quatro horas.

— Você acabou ingerindo algumas drogas, a essa altura a maior parte deve estar fora do seu organismo... — Dou de ombros incapaz de falar qualquer coisa além disso.

— Sim, disso eu sei. — Ela fala entediada. — Mas porque diabos teriam drogas na minha bebida, e por que aparentemente você é causa disso? — Seus olhos caem sobre mim vasculhando-me.

— A bebida deveria ser pra mim, aparentemente. — Respondo omitindo a parte que Shawn comentou sobre desconfiar que na verdade a real intenção desse idiota não era me atingir, e sim drogar intencionalmente Clover para só então me afetar. O que é ainda pior, e eu prefiro não confessar a ela.

Imaginar que foi drogada acidentalmente é menos pior do que perceber que você foi usada como uma peça descartável no plano maléfico de um psicopata.

— Meu deus, e você fala isso naturalmente? — Seu tom levanta um pouco mais, e mantenho-me calada. Já chorei demais ontem, enquanto Shawn me segurava em seus braços e esperava enquanto eu me recomponha. Depois dormir em meio aos pensamentos mais caóticos possíveis, não sou do tipo que grita e joga as coisas na parede do quarto de hotel, não nasci com sangue de uma estrela de banda de rock. — Eu poderia estar morta! —

Abaixo meu olhar para minhas mãos, não tem absolutamente nada que eu possa dizer agora e sei disso. Clover está em seu total direito de sentir raiva de mim, até mesmo de não querer nunca mais na vida olhar pra minha cara. Ela está certa, poderia estar morta, e a culpa seria inteiramente minha.

Afinal, se não fosse a minha presença ali, ela estaria bem até agora.

[...]

— Como você está? — Amanda me pergunta conforme entramos no avião, Shawn me acompanha a todo momento, e não tentou puxar comigo desde que saímos do hospital. Provavelmente percebendo meu estado mesmo que tente me esconder sob os óculos escuros, balanço minha cabeça tentando mostrar para Amanda que as cosias continuam as mesmas.

Temo que ao tentar dizer alguma coisa, acabe desabando aqui mesmo.

Tenho uma peça para apresentar daqui dois dias, amanhã tenho ensaio, e simplesmente me sinto a porra de um desastre agora. Sinto que vou chorar a qualquer momento, e isso é uma fraqueza que não me permito mostrar nem mesmo para as pessoas mais próximas da minha equipe, irônico, porque não levou duas semanas para que Shawn me visse chorando caoticamente.

— Aqui está, querida. — Helen fala me entregando o copo com os dois comprimidos dentro e suspiro colocando o cinto de segurança do avião e pegando o copo de plástico. — Você vai se sentir melhor. — Garante e sorrio meia luz, esperando do fundo do meu coração que isso seja verdade.

Shawn sentado a duas cadeiras de distancia na lateral do ambiente me observa calado com um pequeno vinco entre suas sobrancelhas, e sinto seus olhos queimarem sobre minhas mãos que seguram em uma mão a garrafa de água e na outra o copo de plástico com os dois comprimidos dentro.

Bebo de uma única vez, e suspiro deixando minha cabeça pender para trás, sentindo-me totalmente exausta. Não fisicamente somente, mas emocionalmente, e até mesmo psicologicamente. Estou exausta, me sinto a merda de um saco de batata, e não é em um sentido humorístico, eu simplesmente me sinto um nada.

Clover provavelmente não vai voltar a falar comigo por um tempo, e talvez nem mesmo fale comigo um dia novamente. E não poderia cobrar isso dela, não consigo nem me imaginar na sua situação, e me sinto péssima por ter que entrar em um avião pra França enquanto ela termina de ser acompanhada no hospital, felizmente alguns amigos em comum garantiram que ficariam com ela. E quero me responsabilizar por todos os custos dos tratamento, e até mesmo de um acompanhamento psiquiátrico caso ela precise, mas sei que isso nem mesmo repara metade do que eu causei a ela.

Fecho meus olhos com a sensação tão reconhecida por mim dos meus músculos aos poucos indo se desfazendo, amolecendo e a inconsciência me puxando de uma única vez como um solavanco nada gentil.

Que merda você acha que está fazendo? A voz do professor de canto soa alta o suficiente para se expandir por toda a sala ampla da minha casa. Ele ergue os olhos do teclado do piano me olhando com claro desgosto em sua carranca tomada pela pelanca que salta de sua garganta.

Pensei que eu deveria subir alguns tons nessa parte da musica. Me defendo dando de ombros, minhas mãos entrelaçadas espremem meus dedos um no outro enquanto torço para que o homem não perceba que eu acabei me distraindo no meio da aula e me deixei levar pela musica.

Garota patética! O desprezo pinga em seu tom causando a mesma sensação desconfortável dentro de mim. Não tem que fazer o que não está previsto para que faça, se tem que seguir as notas de uma música então faça. E não fique "improvisando" por aí querendo se amostrar.Ele declara em um tom rude o suficiente para fazer até que o vento que entrava no cômodo pela janela aberta, e balança as cortinas, se retrair e evitar o contato com a área interna da casa. Novamente, do inicio. Manda começando a mover seus dedos sobre a tecla do piano.

 — Manda começando a mover seus dedos sobre a tecla do piano

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SHE | S.M ( completo)Where stories live. Discover now