Ana Baddi

17 0 0
                                    

~Eu quero~

30.

Franzi o cenho esperando a bomba, entreabriu os lábios e maneou a cabeça e antes que ele pudesse falar a casa foi invadida pelo homem que vi lá embaixo, ele se parecia um pouco com o senhor Farid, apenas parecia ser pouco mais velho e extrovertido, usava uma camisa de botões amarela, e parecia recém saído de férias animadas. Abraçou Khalid quase o erguendo que parecia constrangido, mas muito feliz.

- Hali inta tauil!- Olhou para o sobrinho de cima para baixo- 3ammii, hie ma3 immi- Olhou para mim por alguns segundos e acenei constrangida- Hie?

- Thália, hie echteghil immi- Ele olhou Khalid e concordou rapidamente com a cabeça- Thália esse é meu tio Amir Faris, 3amm Amir, Thália Alves.

- Marhaba- Esticou a mão e cumprimentei tentando parecer o mais simpática possível a família Faris coleciona tantos parentes inéditos que me sentia em um programa de TV dos anos 80. Em alguns minutos de uma conversa enrolada saíram me deixando novamente sozinha para continuar no meu mórbido dia.

Khalid

Meu tio me acompanhava pelas escadas, falando sobre os campeonatos que meu primo andava participando, que me cobrava uma revanche no basquete, apenas dispersava a proposta sabendo que ele não aguentaria muito. Amir é um homem de quase sessenta anos, que renova sua aparência sempre, nunca vi meu tio se admitir mais velho do que é, e meu pai sempre odiou a forma como ele fala sobre idade.

Entramos na sala e minha tia Sorayah estava apoiada a mesa da cozinha, acompanhada de minha jiddani que parecia muito feliz, ela sempre ficava muito satisfeita com essas visitas, isso enfurece minha mãe, não acho muito justo, ela se esforça muito para se encaixar.

- Então Hali, e a casa?- Perguntou me dando leves batidas nas costas, a casa no Nilo foi herdada pelo meu tio, ele não se importava tanto com ela e me vendeu por um preço bem pequeno.

- Estou reformando a sala- Não gosto definitivamente de me enturmar, mas notei o interesse dele pelo assunto, ele e meu pai concordavam com unanimidade que deveria deixar toda a bagunça central de Cairo e me mudar logo.

- Eu nunca vi alguém ter tanto gosto por uma casa tão ruim- Minha avó soltou e eu suspirei, sempre tentando me convencer que a casa era péssima e que me mudar seria um erro.

- É a minha casa Jiddani, investi tempo e dinheiro, se for ruim...Não posso fazer absolutamente nada a não ser me mudar- Meu tio suspirou e soltou um assobio agudo sentindo o clima que eu e Amira estávamos mantendo nos últimos tempos, estou me estressando com tudo, não é motivo para manter uma briga com minha avó, mas ela é muito difícil quando quer.

Nesse mesmo dia meu khali me fez concordar com a abertura de uma nova sociedade, a verdade é que nada está dando certo em Alexandria, teria que convencer Íman e sinceramente não quero ter algum contato com aquele cara.

- Vamos sair para comer mais tarde?- Immi perguntou e recebeu um sim animado de meu tio que abraçou minha tia de lado- Hali? Vamos?

- Eu tenho planos, sinto muito- Eu na verdade acabava de inventar um, não queria perder duas horas vendo minha jiddani quase engasgando minha imm enquanto meu tio se diverte e meu pai tenta ter controle da situação.

Algo diferente me animava, a possibilidade de respirar coisas diferentes, e descobrir alguns mistérios sobre um véu de cachos escuros e um sorriso largo. Me instigava a imaginação saber mais sobre a senhorita Alves, me interessa saber os perigos e os deleites de estar perto dela, me parecia mais interessante que qualquer atração.

Respirei fundo e fechei os olhos, e nos últimos dias eu só me lembrava do hospital, do rosto dela, sentia um profundo pesar por tudo que havia acontecido, gostava de discutir com ela, deixá-la nervosa e agora apenas a via como uma vítima das consequências de minhas ações e tentava cuidar para que nada mais fosse capaz de machucar algo tão simples, tão leve, bravo e lindo.

Lindo? O que eu estou falando?

Não gosto do jeito como penso nela, me parece perigosos demais pensar assim, pensar como a coisa mais inalcançável da minha vida, e o que me deixa mais ferrado é pensar que talvez eu esteja pensando demais no que tanto critiquei, me deliciando do sorriso de uma mulher, é o pior destino, se viciar em sorrisos tão perfeitos que chegam a ser tão distantes.

Fui para o quarto e me sentei em minha antiga cama tirando minhas botas e esticando meus pés, ainda a vendo ali, com a testa rachada , ri internamente e logo me lembrei das pirâmides, e talvez fosse boa ideia leva-la até Gizé, talvez um tempo a mais com a senhorita Alves me convencesse que estou enganado e apenas sigo curioso para saber mais sobre ela. Coloquei minhas mãos no rosto e eu não posso e não poderia estar cogitando estar mais próximo, eu não preciso estar mais próximo.

Bismillahi, eu estou falando sozinho.

Eu vou sim, vou levar Thália até as pirâmides e quando ela me contar mais alguns detalhes vou perceber que estou apenas curioso, isso, curioso. Sai novamente deixando todos muito confusos, subi as escadas rapidamente e bati na porta, ao abrir ela estava simples escorada no beiral, me observou com o canto dos olhos e sorriu.

- O que foi?- Perguntou me dedicando mais um sorriso, fechei os olhos e pensei no quanto minha solução não faz nenhum sentido, mas preciso e eu quero pela primeira vez em minha vida ver aquela mulher impossível sorrir com o que mais sonhou, com oque a maioria das pessoas sonha, Gizé.

- Sobre as pirâmides...Quer mesmo ir?

- Claro, quando?

- Agora!

Nota

Eu estou aprontando? Claro!...Me aguarde.

NiloOnde as histórias ganham vida. Descobre agora