Easifat ramalia

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~Tempestade de areia~

9.

Thalia.

A madrugada foi intensa, e mesmo passando tudo para trás eu ainda ouvia os ruídos daquela noite sem fim, mas como de costume agora teria que voltar para meu estágio no museu, dessa vez minha missão era ajudar a senhora Faris a desembarcar todas as suas coisas, tínhamos um sítio para visitar.

Ela sempre estava bem disposta e com uma postura impecável, o senhor Faris era realmente um homem de sorte, guardando seus livros e materiais ela parou colocando a caixa na mesa.

- Então, me fale mais sobre você, sobre sua família- Sorriu.

- Ah, tenho muita coisa relevante no passado, cresci numa fazenda, meus pais trabalhavam muito e se conheceram durante uma briga na cidade, entraram em uma briga e depois... Nem se lembravam mais do que estava acontecendo- É definitivamente a melhor história da minha família .

- Família animada- Deu risada- Eu e Farid nos conhecemos no trabalho- Mostrou um retrato com o marido um pouco antigo, ambos estavam em Karnak abraçados e sorridentes- Ele nem falava comigo, até me pedir em casamento, é um pouco tímido, nessa foto eu já esperava Khalid.

- São uma linda família- A entreguei o retrato.

- É... Me lembro do Hali pequeno, sempre animado- Falou e como mágica de fala ele apareceu, sempre com encontros frequentes e ranzinzas- Não vai tão cedo, estávamos falando de você.

- Então eu estou rendendo alguma história- Abriu o armário papeis na parte de baixo- Não se esqueça que o tempo vai estar ruim, vamos levar dois carros, não queremos ficar presos em Alexandria.

Voltei a guardar as coisas do outro lado da sala, e Nancy desceu tudo, eu a acompanhava como um escudeiro, Alexandria, me deixava nervosa, a ideia de ir a Alexandria me deixava nervosa. Tarek levaria minhas amigas assim que a senhora Faris determinasse se a expedição iria ficar por mais tempo no templo de Isis, o que era variável, com o tempo certamente iríamos voltar no mesmo dia, mas por enquanto apenas o senhor Thomas, a senhora Faris, Khalid e eu iríamos até o local.

O senhor Henry é cautelosamente quieto, e muito desconfiado, ele se isolou em um carro e seguimos por duas horas a cidade, tudo parecia bem diferente do Cairo, até o ar, a maresia de Alexandria era caótica e estabilizadora, os prédios, as ruas, o mar e tudo faz mesmo que minimamente parte disso tinha uma identidade própria.

O templo ficava consideravelmente mais longe do centro, e a posição costeira não ajudava no clima, me embalei no casaco e desci vendo a senhora Faris fechar sua feição.

- Americanos- Falou entrando no templo, a olhei intrigada, ela também é americana- Está feito errado, escavaram errado, vai demorar três semanas para fazer direito, essa área deveria estar mapeada de outra forma.

- Poderia usar a antecâmara, no mínimo deve levar para onde quer chegar- Falei e ela concordou com a cabeça.

- Vou para os fundos, você vai pela antecâmara, são escuras e ariscas, não vá para o final- Seguiu, mas logo parou e me observou- Volte em duas horas okay? Precisamos voltar rápido.

Peguei a lanterna segundo para a antecâmara, o complexo não era totalmente acessível ao público, não pelo lado que acessamos, a câmara mais ao fundo não deveria ter mais de um metro e meio em sua entrada me fazendo me encolher para passar, caminhei pelo estreito para chegar ao fim da primeira parte cercada de caminhos, peguei meu caderno e deixei a lanterna pressionada contra o peito para enxergar as anotações.

- Okay senhora Faris, temos uma antecâmara com quatro saídas que pela passagem já foram adentradas, todas com uma visão diurna pouco iluminadas pelo sol, mas ainda transpassadas- Antei observando todo o meu caminho, encostada bem onde havia saído- Esse caminho é inviabilizado, não deve... Ter nada aqui.

Quando se ouve um pisar em um antigo templo é a forma mais prática de testar a saúde de seu coração, me afastei da entrada indo para o centro e apontando a lanterna, como não vi nada relevante fui para a bifurcação a direita, rever meus conceitos de escolha será um item interessante para uma lista do que não fazer.

Passei chegando a mais uma ligação, e o mais prático era voltar, os caminhos pequenos eram de larga extensão e tanto tempo encurvada me fazer ter dores nas costas. Ouvi novamente um barulho no fim junto com um suspirar, admito que estava com medo de levantar a lanterna, mas quando apontei apenas vi Khalid vindo em minha direção como um caranguejo.

- Não se dá um susto deste em alguém nesse lugar- Ele me observou e caminhou mais rápido, saindo do pequeno túnel.

- Queria ver a nova antecâmara- Apontou sua lanterna para todos os lados- Apenas túneis, vamos por aquele ali, esta vendo os hieróglifos? Ísis, uma construção a parte.

- Não, nos vamos voltar, sua mãe disse duas horas, essa câmara deve ter meio quilômetro além da bifurcação dela- Juntei minhas coisas preparada para voltar.

- Que pena- Ele falou irônico- Acho que não tem coragem de continuar- Me virei lentamente- E um trabalho para poucos- Deu de ombros e entrou na câmara.

- Por Deus- Falei e ele parou me encarando- Sai da minha frente, eu entro primeiro.

Contrariada atravessei chagando até outra câmara, iluminada com refletores e equipamentos no chão, Khalid saiu do túnel vitorioso, com meio sorriso no rosto.

- Não ir até o final significa não descubrir que já encontramos o que precisávamos- Pegou a pá a observou atentamente o lugar- A senhora Faris mente as vezes, ou meu tio, alguém esta coordenando algo, droga.

- São três e trinta e cinco, eles já foram- Passei pela câmara tentando sair o mais rápido possível, ficar presa não é uma opção.

- Passou pela câmara errada- Me seguiu e mostrou que estamos em um novo complexo- Eles vão voltar, não dá chilique.

- Chilique? Eu não ligo se já estão escavando, eu tinha um trabalho, eu nem sei o que está fazendo, não é arqueólogo!

- Nem você- Falou me encarando- Acha que uns livros, carbono 14 e jarrinhos de mumificação ensinam sobre isso? Estou nisso desde que sai da minha mãe, não me tache de incompetente.

- Não haja como um, minha primeira investida em um templo e eu fico nessa situação- Me sentei em qualquer lugar do chão- O que eu estou fazendo aqui?

- Esta falando sozinha, desvairada- Se sentou do outro lado- Allai, entendi, você é bem dependente do que está fazendo aqui.

- E você é bem inquieto, o suficiente para meter o nariz onde não é chamado.

Abracei meus joelhos e tentei ligar algumas vezes para o senhor Henry, sem sucesso, voltei a encarar minha infame companhia o que estaria procurando? Quem realmente é?Antigamente alguém me dizia que meu dom era observar, acabei observando demais e ele me notou forçando um sorriso.

- Alias, aproveitando...- Me observou e assumo que pensei em me perder mais um pouco com o olhar que me lançou, acompanhado de uma fala pouco amistosa- Sua amiga, Tarek está se desviando do que realmente tem que fazer, chegaram agora, e ele já esta caidinho por ela.

Joe sempre foi óbvia com seus sentimentos, a intenção dela jamais seria conquistar Tarek por conquistar, e não acredito que tenha sido sua intenção, ela sempre se comporta livremente com qualquer pessoa, seu jeitinho especial.

NiloOnde as histórias ganham vida. Descobre agora