Sabah Hazin

13 2 0
                                    

~Manhã triste~

22.

- Bom dia- Parecia envergonhado, sentia muito por ver a culpa estampada em seu rosto.

Veio até mim e repousou tranquilamente Poirot sobre meu colo, o aninhei e observei Khalid.

- Tive que esconder ele na jaqueta para entrar- Deu um sorriso simpático.

- Obrigada pelo cuidado com ele!- Acenou com a cabeça e se sentou na poltrona livre ao meu lado.

- Eu sinto muito- Não me encarava ao dizer- Sofreu claramente um atentado, a polícia quer seu depoimento, ninguém teria motivos aqui em Cairo para fazer isso com você, eu só vejo um...

- Khalid, tá tudo bem, foi um acidente!- Exclamei com medo que a história sobre como vim parar aqui teria sido revelada.

Se virou conclusivo e olhou nos meu olhos.

- Não, não está tudo bem- Parecia ter sido atordoado por algo, talvez minha angustia não fosse tão evidente, implorava para que nada tivesse saído para ele- Perderam o voo, e até você dar seu depoimento e estar segura vai ter que ficar e como foram ao seu hotel eu te ofereço a minha cha.a, eu volto pro meu quarto no primeiro andar e vocês ficam com o meu.

- Obrigada, mas eu arranjei um voo esta tarde- Tremi ao pensar que estaria me condenando outra vez.

Joe se levantou e me observou entendo que eu estaria voltando para a Inglaterra com Flyn.

- Não tem não, ele tem razão, vai estar segura na casa do senhor Faris- Deixou subtendido de que se voltasse para Oxford talvez fosse parar no hospital de novo, estaria no mesmo teto que a senhora Faris e portanto se ela também quiser me mandar pro hospital vai ter a chance de fazer isso.

- Joe e o que me garantiria proteção daqueles homens? Se estão mesmo tentando me atacar vão tentar de novo.

- Eu sei que isso não vai ser reconfortante, mas eu prometo fazer meu melhor, enquanto isso ainda estiver acontecendo, tem minha proteção- Soltou me fazendo sentir um baque, estaria na casa de um militar, então Flyn não me machucaria com medo da perseguição que sofre, se Khalid estivesse perto talvez Nancy também não se aproximasse negativamente, de qualquer forma estou assumindo um risco, mas é melhor que voltar com Flyn e ter aquela vida outra vez, de qualquer forma estou perdida.

- Eu vou aceitar sua proposta senhor Faris- Ele acenou positivamente- Mas assim que eu achar uma solução pra tudo isso, eu voltarei para a Inglaterra, porque no momento, com essa perna, o depoimento e outras questões não posso nem voltar ao Brasil- Não voltaria ao Brasil por medo de Flyn tentar algo contra meu pai e minha mãe.

- Bem já que está tudo certo e sua alta é hoje acho que eu vim busca-las, vou procurar seu médico, pedir uma cadeira e ver se sua alta já foi assinada ou se precisamos de mais algumas horas- Saiu e eu soltei o ar com tudo.

- Droga, não queria envolver ele nisso.

- Querendo ou não, você precisa disso- Joe me observou- Vamos, trouxemos umas roupas, tem que trocar.

Depois de muita ajuda me vesti e Mi e Joe me colocaram na cadeira, me ajeitei e Joe guardou as coisas.

- Deixe que eu empurro, ela é pesada- Ele brincou e me fez dar um leve sorriso, Mi concordou também dando um leve sorriso.

- E ela é- Joe o acompanhou aliviando minha tensão- A hora de testar seus músculos chegou, vamos ver se a academia daqui é eficiente.

Passando pelo corredor do hospital agradeci por pelo menos estar sendo acolhida, por ter duas fieis e grandes amigas, um gato cinza e um guia me empurrando. Não, pela perna quebrada não agradeço.

Um carro diferente estava no estacionamento, diferente da van que conhecia, ele abriu o carro e me viu o observar.

- Meu tio me emprestou- Parou com a cadeira perto da porta e o vi estar confuso e constrangido- Como vamos...Colocar ela lá?

- A porta e meio estreita, por mais que ela se apoie no outro pé- Enquanto falavam encostei a cadeira, abri a porta com o braço bom e coloquei força na outra perna me escorando no braço dolorido- Thalia? O que você tá fazendo?

- Entrando- Tinha trocado de roupa na cama, e estava deitada desde ontem sem noção de em quais outros lugares tinha me machucado, senti uma dor de cabeça seguida por uma tontura e voltei a cadeira.

- É complicado agir assim em público- Ele soltou.

- Tá vazio e ela tá toda arrebentada, escora ela.

Veio até mim e olhou para os lados, me ergueu levemente e me sentou no banco, passou o cinto e abriu a porta para Joe e Mi, assim que elas entraram ele deu a volta entrando e dando partida. O caminho foi bem silencioso e constrangedor, observava ainda me sentindo abatida.

Perto do bairro pude ver de longe Tarek parado na porta nos observando, ele estava como sempre atrapalhado, ansioso e sorridente. Khalid estacionou e o amigo tentou abrir a porta, mas ele logo impediu, soltou- se do cinto e novamente mais rápido que o possível me colocando na escadaria.

- Vou pegar a cadeira.

Pude ver a senhora Faris pela janela, quando me notou saiu rapidamente e veio em minha direção.

- Querida, como se sente?

- Sinto algumas dores.

- Pode me chamar sempre que precisar, seja bem vinda, eu e Farid recebemos vocês, ele teve que sair, mas também está mais tranquilo que você esteja aqui- Me deu um leve abraço e ainda não posso acreditar que ela seja alguém de índole ruim.

- Okay moças, vamos subir- As meninas subiram primeiro enquanto ele me levava ao segundo andar, no fim da escadaria pude ver o véu preto nos observar e ele também olhar para cima, ela balançou a cabeça negativamente e sumiu- Minha jiddani é uma mulher tradicional, ela achou estranho, mas logo vai ficar tudo bem- Continuou subindo e parou em uma porta de madeira.

Joe abriu a cadeira e me sentei nela, ele destrancou a porta e revelou um apartamento amplo, com uma sala grande paredes acinzentadas, uma televisão pequenas e muitas almofadas, uma cortina gigante balançava da abertura da varanda e a casa tinha o impressionante cheiro de canela.

Ele me empurrou para dentro e nos observou por alguns segundos, assim que refleti sobre a cadeira me veio a questão do hospital.

- Ah senhor Faris, eu faço questão de devolver o dinheiro da internação.

- Me desculpe, mas eu não paguei sua internação- Ele parecia confuso- Não sabe quem pagou?

- Esquecemos de falar, seu pai Lia, falamos que teve problemas e ele mandou dinheiro para os cuidados- Sabia que Mi estava tentando me tirar de problemas, provavelmente Flyn pagou o hospital.

- Eu vou descer, se quiserem comer algo antes do almoço podem pegar no armário, tem dois quartos, vocês podem se organizar como acharem melhor- Ele desceu e Joe fechou a porta.

- As 24 horas mais longas da porra da minha vida- Ela sentou no sofá e colocou Poirot no chão.

- Já tive dias mais longos- Falei e elas concordaram com a cabeça- Me sinto mal, por não falar sobre o Flyn.

- Não precisa falar, porque de qualquer forma estão querendo seu pescoço, foi o Flyn, mas poderia ter sido outro.

- Acha que alguém tentaria me matar por causa de peças de museu?- Falei e ela deu de ombros.

NiloOnde as histórias ganham vida. Descobre agora