O início

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Alice
22/08/2014

Observo-o enquanto corre na quadra com a bola de futebol nos pés. Ele está confiante e cada movimento seu parece ter sido ensaiado. Reparo que está próximo do gol, seu peito se infla indicando que está ofegante e segundos depois ele dá um chute certeiro. A rede do gol balança, o placar muda e o sorriso presunçoso estampa seu rosto, no mesmo momento, os raios de sol o atingem e seu cabelo parece emitir um brilho dourado por conta própria, contrastando com seus olhos tão escuros quanto à noite.

Ele podia facilmente ser confundido como um anjo na terra, talvez um anjo caído que estava aqui apenas para roubar o coração de milhares meninas, assim como tinha roubado o meu desde a primeira vez que eu o vi. Seu nome era Vinícius Santiago, apelidado por mim de o anjo em forma de gente.

— Fecha a boca porque se não entra mosca — reviro os olhos para o comentário de Fernanda, ela provavelmente era a única menina que estava imune aos encantos de Vinicius. O motivo? Eles eram primos e se odiavam completamente — já te disse que esse menino é encrenca, desencana logo dele amiga, é pro seu bem que estou falando.

— Deixa de ser chata, o que eu sinto é só platônico, da mesma forma que você tem com os garotos daquela banda — digo para ela enquanto observo com o olhar o menino dourado saindo da quadra. Vejo-o olhar para mim e dar um sorriso de lado, mas com certeza deve ser somente o efeito da insolação que estava me atormentando desde que tinha sentado na arquibancada quarenta minutos atrás — Vamos sair daqui esse sol em cima da minha cabeça tá me fazendo ver coisas já.

— É completamente diferente com os meninos da One Direction ok? Porque eu sei que nunca irei conhecê-los — ela diz e faz questão de falar mais alto a palavra "sei" — agora você convive com o Vinícius diariamente Lice, essa é a diferença — reviro os olhos pensando que ela não ia deixar esse assunto de lado tão cedo. Por que eu fui comparar mesmo?

— Vou dormir na sua casa amanhã, ok? — pergunto querendo mudar seu foco e vejo-a assentir — precisa que eu chegue mais cedo para ajudar com alguma coisa? — ela me lança um olhar interrogativo — sei lá, com a decoração, comida ou coisas do gênero.

— Minha mãe adora organizar uma festa, você sabe disso, se eu oferecer ajuda com alguma coisa ela leva até mesmo como uma afronta à capacidade dela — sorrio, aquilo era verdade, mas não me fazia me sentir menos inútil por não contribuir em nada no aniversário da minha melhor amiga — Eu vou ir embora mais cedo hoje porque tenho consulta então não me espere na saída, ok? — assinto com a cabeça e fazemos nosso próprio toque de mãos — até amanhã Lice — diz entrando na sua sala de aula.

Suspiro triste enquanto observo Fernanda conversando com uma menina que eu não conhecia. Estudamos na mesma sala durante toda a nossa vida, mas justamente no nosso segundo ano do ensino médio nossa escola resolveu reorganizar as turmas e ela acabou caindo na turma A, já eu estava na B. Prendo meu cabelo num rabo de cavalo enquanto viro o corredor procurando pelo banheiro.

— Ei Alice, espera — congelo no lugar quando escuto aquela voz. Engulo em seco e solto o cabelo na mesma hora passando a mão entre meus fios tentando deixá-lo no lugar — estou te procurando desde que saí do vestiário — diz sorrindo — você vai ao aniversário da Nanda amanhã, não vai? — apenas assinto com a cabeça — ótimo, pode me encontrar naquela casa de boneca que ela tem no jardim depois dos parabéns? acho que a gente precisa conversar.

— Tudo bem — é tudo que eu consigo dizer.

— Não conta pra ela, por favor — fico confusa, ela é minha melhor amiga, eu conto absolutamente tudo pra ela — quero dizer, você conhece a Fernanda, é dramática além de me odiar, ela vai fazer uma tempestade num copo d'água com tudo isso — penso um pouco e apenas assinto com a cabeça, eu poderia contar para ela depois que encontrar com ele, não é mesmo? — obrigado, te vejo lá depois do parabéns — ele dá um beijo na minha bochecha e eu observo ele fazer o caminho de volta entrando na mesma sala que Fernanda tinha entrado minutos antes.

Fico um tempo parada no mesmo local absorvendo tudo o que aconteceu, quando meu cérebro parece finalmente ter associado tudo meu rosto forma um sorriso e eu mudo meu caminho para procurar pelo banheiro. Eu não iria assistir a aula hoje, não quando tinha urgentemente que pensar em que roupa usar e em qual maquiagem fazer para amanhã à noite.

23/08/2014

   Respiro fundo observando minha amiga chamando os convidados para a hora do parabéns. Eu já estava em frente à mesa do bolo, ansiosa para que isso acabasse logo e eu pudesse me encontrar com Vinicius.

Cerca de dez minutos se passam e agora que o parabéns já foi cantado, todos os convidados se encontram em volta da minha amiga para parabeniza-la individualmente, como já tinha feito isso mais cedo uso desse momento como a deixa perfeita para escapar sem que ninguém perceba.

Paro na sala de jantar da casa de Fernanda, me observando no enorme espelho que tem ali e dou os toques finais no meu cabelo, eu precisava estar perfeita. Sorrio para o espelho quando finalmente fico satisfeita com a imagem que ele reflete de mim, tomo confiança e sigo até o quintal dos fundos.

Noto uma luz fraca saindo de dentro da casa de bonecas e quando chego na porta da frente respiro fundo, batendo logo em seguida.

— Pode entrar — uma voz baixa diz de dentro. Abaixo um pouco para não bater com a cabeça no teto e adentro aquele pequeno quadrado de madeira. Observo Vinícius sentado no chão com um sorriso no rosto — você veio mesmo.

— Por que eu não viria? — digo confusa e seu sorriso some.

— Senta aqui — ele diz batendo a mão no chão ao seu lado e eu sigo suas instruções — eu estive te observando durante tanto tempo Alice, sonhando se esse momento um dia iria chegar. Mas aí eu notei que você sentia o mesmo, e eu gosto de você Lice — ele fala em disparada e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

Sinto minha respiração falhar, ele gostava de mim como eu gostava dele?

Seu olhar se direciona a minha boca e nesse momento eu esqueço tudo o que aconteceu naquela festa em Belo Horizonte no inicio do ano, esqueço os meus medos e esqueço o porquê de eu ter decidido que nunca mais iria me relacionar com ninguém. Porque nada disso importa, tudo o que eu precisava estava ali. Ele gostava de mim e se um dia fosse saber do meu passado iria compreender porque ele gostava de mim da mesma maneira que eu gostava dele.

— Me beije Vinícius — peço e ele atende o meu pedido numa urgência, como se estivesse desesperado.

Minha cabeça gira e minhas mãos formigam, sinto algo diferente dentro de mim, algo que parece explodir e o nome disso era esperança. Esperança de que talvez eu não seja um caso perdido.

Os muros criados em volta do meu coração caem, e então, me deixo ser frágil novamente porque ele gostava de mim, então, nunca iria me machucar.


CONTINUA...

Hoje vocês puderam ter uma pequena noção do passado da nossa querida Alice. Quais são os segredos que ela guarda?

DEFENCELESS | H.S |Where stories live. Discover now