Na vida erros são cometidos, arrependimentos são colecionados e traumas são criados. Foi um conjunto de todas essas coisas que fez com que Alice Mazzaropi construísse várias barreiras em torno do seu coração, para ela, estar protegida era prioridade...
Encaro-me no espelho pela milésima vez. Fazia uma semana que eu tinha chegado do Brasil e tudo estava correndo bem, até as apresentações de trabalho chegar. Reparo em uma pequena espinha no canto da minha testa e me inclino para espremê-la, no segundo seguinte me repreendo mentalmente e continuo o exercício que estava praticando antes.
— São só olhares, eu posso lidar com isso, ninguém aqui sabe o que aconteceu comigo — repito dessa vez com mais firmeza.
O banheiro da faculdade estava vazio, todos em salas de aula, alguns fazendo provas, outros arrumando os detalhes finais nos relatórios. Já eu, me encontrava mais uma vez no meio de um surto PAT ou surto pré-apresentação de trabalho.
Eu não me considerava uma pessoa tímida, ou alguém sem confiança, eu tinha aprendido a reconquistar uma boa parte disso com a terapia. Havia apenas uma coisa com que eu não sabia lidar e era definitivamente os olhares e os comentários sobre mim.
Eu não era assim. Costumava não ligar para o que diziam ao meu respeito.
Mas isso foi antes, o agora é diferente. Não gosto de muitos olhos em cima de mim, tenho medo de que algum deles possa ultrapassar minhas barreiras e consigam enxergar minha história e os meus traumas. Fico apavorada só de pensar em algo do tipo, mas eu tinha que aprender a controlar isso se quisesse sobreviver.
— Eu consigo, não é a primeira vez não é mesmo? Eu sou Alice Mazzaropi e eu declaro que posso lidar com isso.
Com uma fagulha de coragem que surgiu dentro de mim, caminho de volta à sala, respiro fundo e abro a porta.
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— Como foi a apresentação? — mal tinha fechado a porta do apartamento que divido com Emma quando ela me lança esse questionamento. Entro na cozinha de onde saiu o som da sua voz e a vejo preparando uma massa.
— Boa tarde pra você também — digo com ironia, mas ela só balança a mão, como se dispensasse o meu cumprimento — tudo ocorrido bem dentro do possível. Noite da pizza? — pergunto apontando para o que ela estava fazendo, aproveitando para mudar de assunto.
— Amo la pizza — ela responde cantarolando num falso sotaque italiano e eu solto uma risada — aliás, Steven me ligou e disse que tá vindo aí — bufo com seu comentário.
Steven era nosso melhor amigo no quinto período da faculdade, e tudo ia muito bem até ele decidir que gostava de mim. Eu não queria me envolver com ninguém, o antes afetou essa área da minha vida, e desde que tudo aconteceu nunca mais me senti confortável com a possibilidade de me envolver romanticamente com alguém. Mas depois de tanta insistência das pessoas ao meu redor, decidir dar uma chance, afinal nós éramos amigos e ele saberia respeitar o meu tempo, certo? Não, errado! Namoramos por seis meses.
