Toya

39 3 3
                                    

 Suspirou ao desligar o carro, descendo em seguida com a bolsa mediana a tiracolo. Recebeu alguns olhares dos clientes presentes, estes a fitavam de cima abaixo, constatando pelo vestido prendado que não era uma frequentadora do bairro. Ser encarada a fez desconfortável, todavia não permitiria que a impedissem de fazer qualquer coisa. Sentou-se à mesa plástica, sendo atendida por uma moça:

 — O que vai querer?

 — Gostaria de falar com Hawks, se possível. — respondeu.

 Recebeu uma análise de cima a baixo, assim como uma sobrancelha erguida em estranheza, antes que saísse em direção a um homem loiro. Fuyumi estava perto o suficiente para escutar que possuía "cara de patricinha do asfalto", acanhando-se com os adjetivos conferidos. Logo o dono do estabelecimento sentou-se em sua frente com uma expressão amigável, não tomou muito tempo para que reconhecesse os traços de Rei presentes na face feminina, evidenciados ainda mais pelas íris cinzentas. Optou por não revelar o que sabia de início, tomando uma aproximação mais impessoal:

 — Em que posso ajudar? É raro ter gente do asfalto por aqui, é bom tomar cuidado com o celular.

 — Queria saber: conhece Toya Todoroki? — foi direto ao ponto, ansiosa pela resposta.

 — Boa pergunta. — bebericou a cerveja sem álcool que trazia consigo, pesando as palavras — Qual o seu nome?

 Um momento de silêncio, a mulher considerava como deveria responder, era um tanto suspeito apesar do sorriso gentil, por outro lado com certeza tinha contato com seu irmão:

 — Você usa um apelido, por que precisa do meu nome?

 — Vocês Todorokis são tão cautelosos... na verdade estou surpreso que tenha vindo até aqui, duvido que Endeavor deixaria você saber sobre mim.

 — Vocês são próximos?

 — Assim, informação não é de graça. — terminou a substância, pousando a lata na superfície em frente — Pede um suco, ou pode me contar seu nome.

 — Fuyumi.

 — Bonito nome. Sobre Toya... vocês não mantém contato?

 Hesitou novamente, desta vez pensando em como o mais velho iria agir em suas mensagens quando descobrisse que estava o perseguindo via terceiros:

 — É complicado, sabe onde ele mora?

 — Não tá achando que é boa ideia ir visitar ele do nada, né? — era o terceiro olhar que recebia de cima a baixo, estava incomodada.

 — Tem algo de errado com a minha roupa? — questionou, desconfortável e confusa. Havia saído de seu encontro com Tensei não fazia tanto tempo, jurava que estava no mínimo apresentável.

 — Não me leve a mal, se veste bem, o problema é que sua roupa é cara. Nenhuma regra de não roubar na favela te protege desse jeito, vão saber que você não é daqui e dá pra imaginar o problema que isso dá, né? — o rosto feminino revelou decepção com o choque de realidade, assentindo em compreensão — Eu posso falar com ele por você, se quiser. Só quero que se cuide, não parece acostumada com a favela.

 — Obrigada pela preocupação. — lembrou-se do surto raivoso do pai na semana passada e sentiu a necessidade de mencionar — De onde conhece meu pai?

 — Hm, isso é meio complicado de te contar, foi mal, talvez depois que a gente se conhecer mais. Com sorte seu irmão não vai se revoltar com a minha cara.

 — O quão próximos vocês são?

 — O suficiente pra eu querer me dar bem com a família dele. — um piscar seguiu, mantendo a face brincalhona.

 — No caso você já conhece o Shoto? — direcionou a conversa para onde lhe interessava mais.

 — Sim, ele ficou bem de cabelo pintado.

 — Quando ele pintou o cabelo?

 — Faz um tempo aí, uns meses.

 Foi um susto para Dabi entrar no local e reconhecer o cabelo branco com partes vermelhas, a pior parte foi o sorriso discreto que Keigo lhe lançou. Deu dedo para o loiro e desapareceu do lado de fora, se encontrar com a família ali seria uma péssima ideia, nunca autorizaria ninguém mais a saber do seu passado:

 — Eu não sabia, sinceramente não vejo ele faz um bom tempo... — confessou a Todoroki — Como conheceu Toya?

 — Melhor não saber, tenho amor à minha vida.

 — Grave assim? — deu um risinho, se acostumando com o outro presente.

 — É seu irmão, conhece a peça.

 — Acho que sim. — deu um suspiro e logo se ergueu — Já vou indo então. Obrigada pela ajuda.

 — Espero ter causado uma boa impressão.

 — O suficiente. — brincou, rumando ao próprio automóvel.

 Somente quando o meio de transporte cinza virou a rua, o outro cliente surgiu novamente. Takami sequer se deu o trabalho de levantar, apenas ajustou-se para ficar mais confortável em uma postura curvada, ciente que Dabi iria se instalar na cadeira vaga, foi o que aconteceu:

 — Que porra ela tava fazendo aqui?

 — Adivinha.

 — Não tenho tempo pra essa palhaçada, responde. — cruzou os braços em uma postura séria.

 — Relaxa, ela só tá com saudade do irmãozão dela.

 — Ela tem meu número, por que viria aqui?

 — Quando foi a última vez que se viram pessoalmente? — silêncio — Taí tua resposta.

 — Intrometido do caralho.

 — Pode-se dizer que eu tenho um olho de águia.

 — Você é um passarinho ousado, hein? Não tem medo de brincar com fogo?

 — Pretende me queimar?

 — Vou te poupar por agora.

 — Que generoso. — rodou o liquido dentro da lata, observando o movimento — Fazia um tempo que não aparecia, sentiu saudades de mim foi?

 — Não tem muita gente comprando recentemente, pensei em procurar algo pra fazer. — as íris turquesa passearam pelo corpo alheio de modo sugestivo, parando no olhar dourado, focado em si.

 — Pode subir, me dá cinco minuto que apareço lá.

 Permaneceu no lugar por mais três minutos, enquanto Hawks já estava rodando o espaço novamente em busca de utilidades, se levantando e dirigindo-se para a entrada de pessoal restrito em seguida. Todos os funcionários já estavam acostumados com sua presença, ninguém questionava seu acesso ao andar superior, simplesmente aceitavam sem pensar muito no assunto. Era conveniente morar em cima do próprio bar, não só por não precisar de fato estar no térreo para escutar diálogos como o deslocamento quase insignificante entre trabalho e morada.

 O local era organizado como sempre, assim como havia um número que o Todoroki considerava excessivo de almofadas no sofá. Sentou-se no móvel, abrindo algum jogo qualquer no eletrônico e atirando o casaco ao lado, aguardando o parceiro.

Boku no morroWhere stories live. Discover now