Shoto

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 Izuku era desastrado, se confundia de forma recorrente e acabava por marcar duas coisas no mesmo dia, hoje era uma destas vezes. Só percebeu o que havia feito quando recebeu a ligação no interfone branco, com a voz masculina grave do porteiro o desejando um bom dia, avisando que sua mãe e seu padrasto estavam na entrada do condomínio e perguntando se podia autorizar a subida. Respondeu positivamente, retornando para a sala em seguida para avisar o recente namorado da confusão:

 — Shoto, me desculpa, eu combinei com minha mãe e padrasto que eles podiam vir aqui hoje pra a gente conversar e cozinhar e esqueci disso quando te chamei. Então... — mordeu o lábio inferior, incerto quanto ao que iria falar.

 — Tudo bem, eu posso ir. — estava prestes a levantar até ouvir o resto.

 — Não! — se assustou com a conclusão precipitada, corrigindo em seguida — Quer dizer, não era isso que eu ia falar... na verdade eu queria que você ficasse pra conhecer eles... mas se for demais não precisa! Pode ser meio cedo pra você nãosei,seficardesconfortávelpodeirnãotemproblema... — passou a murmurar de forma confusa, perdendo a coerência e o espaço entre as palavras quanto mais continuava.

 — Eu fico então. — resolveu, tranquilizando o esverdeado com um sorriso — Só não consegui entender o final.

 — Ah, eu falei que...

 Foi interrompido pelo som emitido pela campainha, pensou consigo mesmo que nunca o elevador foi tão inconvenientemente rápido como naquele momento. Abriu a porta e abraçou Inko, permitindo que esta entrasse enquanto cumprimentava Toshinori. A mulher lançou um sorriso ao bicolor, quem estava em pé com uma atmosfera estranha, tentando compreender se deveria se apresentar ou se aguardava o dono da casa o fazer, no final a segunda opção prevaleceu:

 — Esse é o Shoto, a gente começou a namorar recentemente. Esses são minha mãe Inko e meu padrasto All Might. — era tão comum o chamar pelo apelido, que inconscientemente apresentara o loiro assim.

 Os homens de visita se reconheceram com uma expressão surpresa, o de cabeleira dividida se viu um tanto envergonhado com a eventualidade, visto que não tinha exatamente conversado com o parceiro sobre sua vida antes da favela. Torceu internamente para que o mais velho também achasse aquilo estranho o suficiente para preferir fingir que não se conhecem, não foi o caso:

 — Que coincidência! Como vai? Fazia um tempo que não escutava de você.

 — Se conhecem? — a saudação deixou ambos os Midoriya curiosos, com o menor questionando.

 — Bom te ver, senhor Yagi. — tudo que o Todoroki conseguia pensar era como não teria escolhido ficar se soubesse quem era o famoso padrasto — Vou bem, e o senhor?

 — Shoto é filho de um... antigo colega de trabalho meu. — continuou o aposentado — Como anda seu pai?

 — Não temos conversado desde que eu saí de casa. — cortou a conversa o melhor que pode sem parecer rude.

 — Entendo. — recebeu a dica o suficiente para não pressionar mais.

 Os dois espectadores que ainda processavam a informação foram os que tiveram que quebrar o clima de silêncio, lembrando da parte do programado em que cozinhavam e atraindo a atenção para o cômodo propício. O katsudon os manteve ocupados e se tornou uma ponte para a iniciação de conversas de outro teor. O meio a meio decidiu que era mais fácil contar para a sogra a parte relacionada à blitz em que conseguiu o número de seu filho do que se reconhecer no baile funk por causa de um rapa.

 Acabaram separados em duplas, a mãe querendo saber mais de com quem o filho se relacionava e Izuku um tanto indagador quanto ao pouco de informação que ganhara mais cedo:

 — Você disse que Shoto é filho de um ex-colega seu?

 — Bem, cá entre nós, ele não pareceu muito confortável, acho que falei mais do que devia. — coçou atrás da nuca, repassando a conversa mentalmente — Talvez ele tenha brigado com o pai ou algo do gênero, é um tanto novo pra sair de casa, achei que ele estava na faculdade.

 — Bem, que eu saiba ele mora no morro.

 — No morro? Desde quando?

 — É isso, eu não sei. — terminou de cortar a cebola que tinha em mãos — Eu achei que ele era de lá... se bem que ele nunca disse isso, eu só assumi.

 All Might suspirou, negligenciando os ovos batidos para analisar a situação apresentada, para si nada fazia sentido naquela conta, simplesmente sabia que havia um fator problemático desconhecido na família alheia:

 — Ele mora sozinho?

 — Kirishima o ouviu citar um irmão uma vez, mas ele nunca conversou comigo sobre isso... ele mora na área da liga então é difícil ir lá.

 — Há quanto tempo vocês namoram? — sentia que quanto mais ouvia, pior a falta de comunicação ficava.

 — Sinceramente eu esqueci que vocês vinham e marquei duas coisas no mesmo dia então não foi planejado vocês conhecerem ele agora, sabe... — deu uma enrolada antes de realmente responder — Uma semana e meia...

 — Jovem, não acha que estão indo rápido demais? Devia saber mais sobre ele antes.

 — Vocês dois já terminaram sua parte? — questionou Inko, pronta para pegar os ingredientes e passar para outra tarefa.

 No fim, a opinião foi unânime quanto ao gosto delicioso da refeição. O bicolor ainda se encontrava agitado depois da comida, mesmo com as tentativas falhas dos mais velhos em o acomodar no ambiente. Saiu da casa justificando que sua amiga lhe chamara e precisava de ajuda com um assunto pessoal, agradeceu mentalmente por Momo e sua mensagem sobre como queria companhia por sua casa ser constantemente vazia.

 Pegou a moto e rumou para a entrada do condomínio, admirando a fachada luxuosa do conjunto de casas. Foi admitido em questão de segundos, encontrando a residência Yaoyorozu facilmente, aberta tão quanto chegou no tapete externo, provavelmente o som do motor anunciara a chegada:

 — Por que veio tão rápido? Achei que estava com seu namorado hoje.

 — Longa história... um grande fiasco, inclusive.

 — Entra e me conta. — saiu da frente para permitir a passagem do mais alto — Vou fazer um pouco de chá, vai querer?

 — Por favor.

Boku no morroWhere stories live. Discover now