Fúria

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 Aviso de gatilho: ataque de raiva e menção a abuso.

 O sangue do ruivo fervia, as unhas cravavam nas próprias palmas como resultado da tentativa de segurar a emoção que vinha se acumulando cada vez mais fortemente em seu ser. Que havia algo errado antes não era dúvida, porém nunca imaginaria qual era o verdadeiro motivo de ter aquilo escondido de si. Agora que estava ciente, pouco lhe importava a comoção que criaria: Enji estava determinado a distribuir galinha frita.

 Obviamente não era possível que em anos não encontrara a casa de Dabi, sabia muito bem, mesmo assim havia demorado de recorrer a outro informante, havia o feito finalmente, e não estava nada feliz com o resultado. Keigo não só sabia onde morava, como comparecia ao local para ter encontros sexuais com seu filho. Desligou o carro com ódio e bateu a porta com força bem maior que a necessária ao sair, adentrando o estabelecimento com passos pesados.

 Takami percebeu, no olhar de fogo do Todoroki, que não poderia mais enganar o diabo e fugir de suas ações. Tentou sutilmente desviar para fora do campo de visão do maior, largando o traficante com quem conversava para desaparecer. Sem sucesso, foi segurado pelo colarinho e restringido de seu acesso ao chão:

 — Filho da puta, eu te ajudo a erguer essa merda de bar e é assim que me paga?! — rosnou entredentes, furioso.

 — Endeavor, meu caro, não vamos criar uma cena. — pediu com a expressão controlada — Só me pôr no chão que a gente conversa sobre isso.

 — Conversar sobre o que? Sobre como você só pensa com a cabeça de baixo?! Você é a porra de um coelho?!

 — Pense um pouco no que está fazendo. — o loiro segurou os antebraços do coroa, falando em tom de aviso e face séria — Não pega bem me agredir considerando sua posição.

 Com as mãos tremendo de ódio, encarou a face alheia mais uma vez, ponderando o que acabara de escutar. Tokoyami colocou a bandeja cheia em uma mesa vazia para tentar ajudar, intrometendo-se a uma distância segura:

 — Brigas não são permitidas no bar, nem imediatamente em frente a ele.

 — Eu espero é que esta espelunca venha abaixo. — amaldiçoou ao soltar o dono do lugar de forma agressiva.

 Keigo recuperou o equilíbrio com o apoio de uma cadeira, esticando as roupas em seguida e retomando a compostura antes de enfrentar o policial federal:

 — Você tem alguns problemas de raiva, hein?

 — Tenho todo o direito de ficar com raiva, sabe o que fez.

 — Sobre a mentira, talvez. — tomou um assento em um dos móveis plásticos e entrelaçou os dedos, sua postura comum afastando a atenção atraída previamente — No mais, nada que mereça uma reação agressiva.

 — Nada? — recusou a se sentar, o desgosto era grande demais para isto — Vocês estiveram se comendo por sabe-se lá quanto tempo, me fazendo de idiota!

 — Ok, e? Vamos ser sinceros, você nunca me disse que era proibido nem nada.

 — Achei que estava óbvio como a porra do resto que, inclusive, você não seguiu. — aproximou-se com a postura imponente.

 — Nem tudo é tão oito ou oitenta, omiti pequenas coisas, tudo que eu te disse sobre Shoto continua sendo verdade.

 — Você acobertou um traficante para um oficial da lei. — sussurrou quando estava perto o suficiente para não ser escutado por outros, com uma das palmas no encosto da cadeira plástica de Hawks — Não ache que vai ficar assim. Vou fazer de tudo para facilitar o trabalho da polícia militar e colocar os dois atrás das grades.

 — Um oficial que estava conduzindo uma investigação ilegal nos filhos quem abusou física e psicologicamente? — afrontou, determinado — Eu quero ver você tentar.

 Irritado e sem argumentos, simplesmente empurrou o outro para trás por meio do objeto, desta vez o mais novo foi incapaz de se recuperar a tempo, caindo de costas e se tornando o foco dos presentes novamente:

 — Não sabe com quem se meteu.

 Se levantou com a ajuda de Fumikage enquanto Enji desaparecia na rua, suspirando ciente que estava diante de mais um problema, como se já não fossem suficientes os outros. Começou a pensar nas medidas a tomar para evitar que o homem subisse o morro novamente, decidindo em fim que já passara tempo demais neutro em meio à guerra. Por mais que não gostasse de se aliar a criminosos, pelo tempo que sua rua fosse território da Shie Hassaikai, estava sujeito a topar com o Todoroki.

 Endeavor chegou em casa no pior humor possível, em uma ira nada saudável, sequer cumprimentou a filha antes de fechar a porta do escritório e passar a destruir o cômodo. Papéis voaram, livros foram rasgados, o teclado acabou em pedaços e na cadeira passaram a faltar todas as quatro pernas de madeira. A bancada não se salvou, tendo uma tesoura de ponta enfiada em sua superfície sem qualquer misericórdia.

 Fuyumi escutou o ataque de raiva encostada na parede que separava o corredor e o espaço vítima do ódio do pai, tentando compreender a situação e como poderia ajudar. Os xingamentos eram principalmente direcionados a Hawks, apelido que a mulher se esforçou em guardar assim que ouviu a menção a Toya através do gesso. Puxou o celular e abriu o aplicativo de notas, digitando as duas palavras chaves anteriores em conjunto com "bar do Falcão".

 Quando os sons de destruição se extinguiram, ela fez sua escapada, receosa que ele estivesse planejando sair e acabasse a encontrando a espiar. Retornou para a cozinha, cuidando do lanche que preparava anteriormente e salvando o lembrete afim de investigar quem seria o proprietário e o que haveria feito para que o ruivo chegasse naquele estado. Guardou a geleia de morango na geladeira, felizmente havia feito um pouco mais de chá de camomila, faria bem o oferecer ao progenitor.

 Com o ataque de raiva encerrado, Enji tentava estabilizar a respiração ao inspirar pelo nariz e expirar pela boca, decepcionado consigo mesmo pelo acontecido. Quem dera fosse fácil, estava ciente que decidiu mudar tarde e que nunca poderia ser completamente perdoado pela prole, Fuyumi era a única que se mantinha por perto atualmente e ele era grato por isso. Envergonhou-se ao analisar o estrago, teria muita coisa a repor e uma quantidade ainda maior a trabalhar na próxima consulta ao psicólogo.

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