Garotinha

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 Aviso de gatilho: gore leve e abuso infantil.

 Seria irracional alguém de tão alto posto estar em ronda aleatoriamente próximo a um baile funk, na verdade seu objetivo era investigar Chisaki, com suspeitas de envolvimento com a nova droga criada recentemente. A substância foi registrada no sangue de alguns assaltantes presos, estes chegaram na delegacia completamente alterados.

 Como se não fosse ilegalidade o bastante, indícios levavam os responsáveis pelo caso a pensar que tráfico humano estava envolvido. A área na qual comumente atuavam troca de comando como quem troca de roupa, com a liga da quebrada tentando retomar o território pela enésima vez, consequentemente requerindo apoio de quem lidava com o crime organizado por Overhaul diariamente.

 Centipeder assumiu a liderança, por ter o posto de segundo tenente a mais tempo foi condecorado capitão, aceitando a homenagem com o coração pesado pela falta que Mirai fazia. Entrou em contato com Fatgum e Dragão, pretendendo criar uma operação que desmantelaria a Shie Hassaikai e colocaria seu líder sob custódia policial. Togata e Midoriya tiveram a permanência permitida para o caso, no entanto no momento faziam ronda entre a favela e o asfalto, fitando principalmente o parque infantil.

 O esverdeado pisou no freio imediatamente quando uma garotinha correu até o meio da rua, parando somente com o medo iminente de ser atingida pela viatura. Conseguiu encerrar o movimento antes de machucar a pequena, devido à distância, com os pneus riscando o asfalto, em seguida ambos saindo para verificar o estado dela. Tremia extremamente ao se agarrar a Izuku, quando este se abaixou intencionando dialogar, mudando o foco para acalma-la, notando os diversos curativos espalhados pelo corpo e alguns hematomas cobertos de forma porca.

 A pelúcia que ela carregava tinha a orelha quase descosturada e o pelo falso encardido, assemelhando-se mais ao amarelo claro que ao branco comum de um coelho. O zíper que liberava o acesso a seu enchimento se via meio aberto, o agarre era tremendamente forte, como se sua vida dependesse do animalzinho de mentira. Da viela mal iluminada surgiu uma figura humana, esta se revelou ser Kai, trajado com o habitual casaco verde aberto e camisa preta, alem da calça de mesma cor em conjunto com tênis brancos:

 — Não pode correr para o meio da rua assim, filha. — ergueu o foco para os dois profissionais fardados, no fundo curiosos desaceleravam na pista ao lado para observar a cena, boa parte tornando ao ritmo comum quando identificavam o jovem — Foi mal por qualquer problema que ela tenha causado, policial. Ela fica empolgada demais quando brinca e acaba se machucando, coisa de criança.

 — Está tudo bem, meu colega conseguiu frear a tempo. — pousou a mão no ombro do citado, um leve apertar indicando que o seguisse no teatro — Pela máscara bonita, acredito que seja da Shie Hassaikai.

 — Não ligue muito pra máscara, tenho alergia a poeira e sujeira. Nunca vi vocês por aqui, fazem operações nessa área?

 — Não, acho que desviamos um pouco da rota da ronda. — puxou levemente o local em contato com Izuku — Vamos voltar para a viatura.

 — Ah, certo...

 Preparou a posição para se levantar, sendo impedido pelos pequenos dedos desesperados da pequena, torcendo a blusa com pavor e suplicando baixo:

 — Não vá...

 As orbes marejadas o fizeram incapaz de mover, entrara no poder executivo para ajudar as pessoas e não conseguia ignorar aquilo:

 — Sua filha parece assustada.

 — Ela acabou de levar uma bronca, não passa de drama infantil. — encarou o esverdeado de maneira afiada — Ficou falando que ia fugir de casa e outras besteiras da idade.

 — Quem nunca fez isso quando era menor, não? — o mais velho tentou desviar, realizando mais um toque no outro militar — Vamos indo.

 — Tantas feridas assim não aparecem só por brincadeiras. — retribuiu a expressão carrancuda, ainda que com um certo medo interno.

 — Ela é serelepe, cai demais. — o tom de irritação aumentava a cada fala.

 — Simplesmente não acho normal a aflição dela.

 — Não tente me dizer como criar minha filha.

 — Família é algo muito pessoal. — o mais alto tentou mais uma intromissão, sendo ignorado.

 — O que esteve fazendo com essa garota?

 O criminoso suspirou, um barulho audível mesmo com o pano instalado sobre a boca, fazendo um gesto aparentemente mais receptivo, com as mãos afastadas:

 — Vocês da polícia são tão sensíveis a coisas tão pequenas. Tudo bem, eu tenho uma certa vergonha, não quero ninguém escutando, podem me seguir?

 Os quatro adentraram o espaço, a escuridão crescendo na mesma proporção do receio coletivo entre três:

 — Estive me preocupando com a Eri faz um tempo, não importa o que eu diga ou faça ela continua na malcriação.

 — Cuidar de uma criança parece um trabalho difícil. — comentou Mirio.

 — Sim, são difíceis. Muitas vezes eu me pergunto o que elas vão se tornar.

 A palma subiu a camisa discretamente, com o casaco já fora do caminho, exibindo a parte da pistola propícia para segura-la. Como reflexo, os restantes desceram as próprias para os coldres, prontos para retirar as armas se necessário fosse, no entanto a garota se soltou do abraço protetor e correu em direção ao pai, deixando um Midoriya atônito para trás:

 — Já terminou com a birra? É sempre isso. Desculpa incomodar, não foi na intenção.

 — Espera... — tentou uma última vez, andando na direção que seguiram, impedido pelo cabo.

 — Não vamos iniciar um tiroteio, uma bala perdida pode pegar nela. Vamos seguir as ordens do tenen... capitão. Precisamos de paciência, agora não é lugar.

 Míseras duas quadras depois, Overhaul estava em casa, recepcionado por um loiro de máscara, um mero traficante sem importância pedindo perdão por não ter sido suficiente no trabalho confiado a si de vigiar a pequena. Puxou a glock, apontando no meio do nariz do infeliz e encerrando a existência com um disparo só, preferia não gastar munição com um verme daqueles. O sangue e miolos se espalharam na parede, com respingos em si, o causando imediata agonia.

 Choronostasis tinha a menina nos braços, enfiada em seu pescoço desde que percebeu a cena que poderia presenciar, não seria a primeira vez, portanto já sabia que devia tampar os ouvidos, mesmo que não fosse suficiente para suplantar todo o ruído:

 — Prepare meu banho e arranje alguém para limpar essa droga. Aquele bando de filhos da puta...

 — Vou organizar tudo, tente relaxar um pouco.

 Mais uma vez estava trancada naquele cômodo infernal, com a janela propriamente trancada, sem qualquer visão do mundo afora. Os brinquedos sendo seus únicos amigos, porém nem estes preenchiam o vazio que sentia, lhe faltava vontade de se divertir naquele ambiente abusivo.

Boku no morroOnde histórias criam vida. Descubra agora