Boku no morro

Tiroteio

 Aviso de gatilho: Gore leve.

 Nenhum lado se importou o suficiente para aguardar os moradores se dispersarem completamente, as balas já estavam sendo distribuídas entre os criminosos. Para agravar a situação, a polícia militar estava em ronda por perto e escutou o tiroteio protagonizado pela Liga da Quebrada. Enquanto as viaturas dirigiam em direção ao conflito, Dabi estava simplesmente revoltado, com pensamentos nada amigáveis em relação a Tomura, entre estes, de onde diabos tinha tirado a ideia de não avisar a ele sobre a invasão.

 Hawks havia levado um tiro no braço esquerdo, com um sangramento moderado tingindo as vestes enquanto sugava ar entredentes por causa da dor. Quando ambos encontraram um lugar fora do alcance das armas de fogo, Toya examinou o ferimento alheio, xingando enquanto o mandava remover a jaqueta. O ferido obedeceu, atento enquanto via o outro cortar o resto do tecido que ainda unia a manga atingida ao resto da roupa:

 — Precisa disso? — sentiu pena das linhas despedaçadas, infelizmente não haveria mais concerto.

 — Que tal você calar a boca e agradecer que pegou de raspão? — aplicou pressão na abertura sob o pano, amarrando com um nó forte — Deixa eu achar meu irmão que a gente vaza.

 — Dabi! — o citado apareceu do outro lado da rua, já separado do grupo com quem estava antes, seu olhar era assustado e seus batimentos cardíacos acelerados — O que tá rolando?

 — Invasão, o desgraçado do Shigaraki decidiu não me contar. — puxou a Glock e destravou — Eu vou precisar que você leve a moto pra casa, eu vou pegar a do Hawks e te encontro lá.

 — No meio do tiroteio? — ergueu uma sobrancelha.

 — É a maneira mais rápida de sair daqui.

 — Eu não tenho como... — foi interrompido pela entrada de uma quarta pessoa na cena.

 A loira permaneceu atirando até a esquina, onde se colocou contra a parede fora da mira inimiga e começou a recarregar, realizando a atividade com um sorriso no rosto exibindo as presas proeminentes. A mulher de penteado peculiar reconheceu dois dos adultos, cumprimentando apenas um:

 — Oi Dabi! Não sabia que você vinha.

 — Porque eu não vim, eu tava aqui. — o tom de voz elevou no final da frase, todavia logo retomou o timbre comum, relembrando-se que não era hora de brigar com companheiros — Esquece, eu preciso que você cubra meu irmão aqui até ele chegar na moto, ela tá perto de uma grade, subindo a rua que eu te deixei, lado direito.

 — É seu irmão? Que bonitinho. — disparou contra membros do Shie Hassaikai mais uma vez antes de continuar — E esse cheiro de sangue é seu, Hawks?

 Optou por manter-se calado, não instigaria Himiko não importa o quanto o pagassem, a preferia longe enquanto estivesse machucado. O mais velho insistiu no pedido, com seriedade e urgência:

 — Vai fazer ou não?

 — Com prazer. Qual o seu nome, lindo? — apertou o gatilho por dois segundos.

 Fitou o outro Todoroki mais uma vez, incerto em confiar na colega dele, recebendo um aceno de cabeça como confirmação, respirando fundo e seguindo o que lhe foi dito. Relevando as perguntas inoportunas incorrespondidas, era uma guarda costas eficiente, encontrando o destino sem nenhum arranhão e permitindo que a fora da lei retornasse à missão a ser realizada.

 O baile já havia incorporado uma verdadeira zona de guerra, os policiais alcançaram a algazarra e engajaram em troca de tiros contra ambas as facções. Nighteye, Mirio e os presentes foram forcados a requisitar reforços, os quais só chegaram no local quando os bandidos já estavam preparados para fugir do local. Em uma das saraivadas de disparos, o capitão foi acertado com três tiros, um deles no crânio, enquanto o cabo recebeu dois, nenhum colocando a vida em risco.

 As perdas foram de uma em cada lado, porém o efeito em cada um era crescente, a começar pelo Shie Hassaikai, morto um traficante de baixa importância. Em seguida na escala, a Liga da quebrada, agora faltava Magne na volta ao seu território, abalando principalmente a Spinner, quem era amigo próximo da mulher. A impossibilidade de trazer seu cadáver e a fornecer um enterro digno pesava em si mais do que qualquer outro fator apresentado, havia estado com ela na facção por anos, desenvolvendo um amor fraternal profundo.

 E, por fim, os reforçadores da lei, pesarosos na ausência de um capitão adorado, mesmo que rigoroso e perfeccionista. Togata foi incapaz de conter as lágrimas durante a ocorrência grotesca, o chefe se engasgava no próprio fluido vermelho proveniente da bochecha perfurada pelo projétil alojado na ossada, palavras desconexas tentavam se formar, falhando em serem compreensíveis enquanto o oficial deslizava gradualmente ao campo da inconsciência.

 Não havia sequer família para receber a notícia, sem irmãos, pais falecidos e nunca demonstrado interesse em namoros ou filhos, morava só, sempre lhe foi suficiente. O luto se estendeu entre os colegas de trabalho atuais e antigos que realizaram seu funeral de bom grado, recordando de seu valor com honra. Lágrimas não desceram pelo rosto de All Might, a tristeza o corroía por dentro o tornando incapaz de expressar em palavras o estado em que se encontrava.

 Midoriya se sentia horrível, estar presente e ser incapaz de ajudar por o faltar uma pistola sequer deixou um gosto amargo em sua boca, remoído por dias a fio. Dentre tudo que podia passar por, a impotência era o que mais odiava com fervor, era traumatizante assistir de camarote a palidez tomar conta de um corpo antes tão cheio de vida. Amaldiçoaria Chisaki até perder a voz, perseguiria o assassino até alcançá-lo, investigaria até condená-lo, seria impossível deixar passar aquilo.

 Sua sede de vingança era compartilhada por Mirio, hospitalizado e tendo vitoriosamente passado por uma cirurgia sem complicações, descansava na instituição. Sua mente o relembrava de tudo na primeira oportunidade possível, um mínimo detalhe bastava para que o dia completo se repetisse em sua cabeça, desde o beijo dado em Tamaki de manhã antes de saírem de casa para trabalhar ao asfalto frio onde jazia o superior durante a noite.

 Kai ganhara inimigos imparáveis e certamente sentiria o peso das suas ações criminosas.