Capítulo 5

982 91 16
                                    

— Kate! — um homem gordo gritou animado quando nos viu entrar na cafeteria e veio até nós. — E... essa não é a sua irmã do mal? — Ele parou de repente, passando seus olhos de Kate para mim e para Kate outra vez, incrédulo e provavelmente sem entender nada.

— É — Kate apenas deu de ombros com um sorrisinho e o abraçou rapidamente. — Galera, junta aqui, quero que conheçam uma pessoa — ela gritou para o nada.

O lugar estava vazio, porque era uma cafeteria noturna, mas de repente uma penca de garotos surgiu de uma das portas de serviço.

— Kate gatinha... Não te via faz tempo. — O menor dos três caras que apareceram correu até a Kate e a abraçou cheio de alegria.

Bem mais baixo do que eu, 1,60 cm no máximo, isso me dava uma vantagem de mais de 10 cm de altura. Ele, além de pequeno e magro, era bastante infantil, não parecia ter mais de 15 anos. Mas se um era baixinho, o segundo era do tamanho de um poste. Juro que o outro cara tinha quase 2 metros e parecia bem desengonçado.

O terceiro e mais bonitinho deles era praticamente da minha altura. Estava com as mãos nos bolsos da calça jeans, tinha pele morena, olhos cor de mel, fortinho até, usando uma jaqueta preta, parecendo um astro Pop. Com certeza, ficável. Só que ele me encarou com a cara fechada. E então perdeu o charme.

E ali estava: o julgamento de alguém que claramente sabia quem eu era. Será que todo mundo nessa droga de cidade me conhece?

Pensando bem, lembrando agora, o cara dos olhos tonteantes da boate também me olhou exatamente assim, e eu só queria muito dar uns beijos nele, talvez, porque estivesse bêbada.

— Agora a madame da ciência deu de aparecer só quando dá na telha — uma loira apareceu atrás do balcão e falou com Kate como se estivesse irritada, enquanto estourava uma bolha de chiclete na boca. — Fala rápido que as minhas panelas estão no fogo.

A loira percebeu que eu estava ali também e me olhou dos pés à cabeça em uma linha que variava entre o divertimento e o desdém no olhar, como se sua expressão significasse "É muito engraçado que essa vaca esteja aqui". Digo o mesmo, querida. Outra que me conhece.

— Gente, essa é Kaila Collard — Kate me apresentou. — Musicista talentosa e minha irmã mais velha.

— Só eu que estou pasmo, ou mais alguém acha que a Kate foi abduzida — o homem gordo falou ainda assustado com a minha presença.

— Eu também acho — concordei com um suspiro e ele me encarou em uma correspondência relutante.

— Gary, todos merecem segundas chances — Kate falou, finalmente revelando o nome do cara. — E eu vou ser logo direta. Kaila precisa de um emprego. Como lembrei que tinha contrato os meninos para tocar aqui, pensei que pudessem adicionar mais um integrante à banda.

— O que você toca? — o moreno ranzinza perguntou ainda me julgando.

— Estou acostumada com instrumentos eruditos, mas toco qualquer coisa. Piano, minha especialidade, teclado, violino, violoncelo e harpa, posso me arriscar no contrabaixo, violão ou até mesmo na guitarra. Também toco instrumentos de sopro — especifiquei com certa confiança.

Se tinha uma única coisa no mundo em que eu era boa de verdade, era música. Não foi à toa que mamãe me enfiou em aulas de canto, piano e afins desde os quatro anos de idade.

— Já temos um tecladista — o mais alto exclamou alerta.

Estava estampado na cara dele que era ele quem tocava teclado e também que era bem inseguro, já que estava cogitando a possibilidade de ser trocado.

Singularidades de um Amor (sem cerimônias) ✔Onde as histórias ganham vida. Descobre agora