Capítulo 39

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Não via a hora de encontrar Ben e contar sobre o que acontecera. Ele disse que não gostava de me ver triste, mas havia um pouco de alegria naquela tristeza. Além do mais, seria um alívio finalmente revelar para alguém a história que martelava a minha consciência há anos.

Como se adivinhasse que eu estava pensando nele, mensagens de Ben começaram a chegar no meu celular.


Olhos estonteantes (11:20AM):

Vamos almoçar juntos?

Estou no galpão da igreja se aceitar.

Posso te buscar na verdade.

Meu raio de sol


Abri um sorriso derretido ao ler o apelido que ele atribuíra a mim. Até por mensagem eu percebia que ele estava ansioso por passar mais tempo comigo.

Nada que um coração bobo e apaixonado não possa acalmar as agonias da vida.

Decidi que faria uma surpresa, e peguei o metrô para ir até a igreja. E nesse meio tempo, comecei a matutar como abordaria a questão do meu recente relacionamento com Ben para Lenora. Eu não estava de fato apreensiva, na verdade eu até acreditava que a ruiva iria entender. Ou pelo menos esperava muito que fosse assim.

Desde que estive ali pela primeira vez, soube que aquela igreja não era muito comum. Se havia mais como ela por aí, eu não sabia, mas era muito adorável que os membros se empenhassem tanto para serem benfeitores da comunidade. O galpão e todos os eventos que se realizavam ali era prova disso. O mais comum era que à noite eles se revezassem e oferecessem refeições para moradores de ruas e pessoas carentes.

A igreja estava fechada, e aparentemente o galpão também. Mas a porta se abriu quando empurrei. Pensei em chamar por alguém, mas ouvi conversas vindo da direção da cozinha. Provavelmente era Ben e mais alguém.

Não soube dizer porque fiz isso, mas fechei a porta com cuidado para não ser ouvida. O meu eu intrometido e bisbilhoteiro estava de volta, já que caminhei sorrateiramente até a porta da cozinha.

A conversa continuou, e conforme eu me aproximava consegui distinguir a quem pertencia a outra voz. Era Lenora. Meu coração acelerou um pouco, me sentindo covarde demais para encará-la agora que tinha a oportunidade. Mas eu deveria fazê-lo, era só entrar e cumprimenta-los, e então contar para ela.

Criei coragem e dei um passo à frente, estendendo a mão para empurrar a porta entreaberta. E então paralisei no último segundo.

— Eu não aguento mais ela — Lenora desabafou, sem reservas e com frustração em sua voz.

— Eu sei, Leny, só mais um pouco e vai se livrar dela, ok?! — Ben ofereceu consolo para a amiga como a ótima pessoa que era.

Só que eu de repente não me sentia uma ótima pessoa. Eu me sentia agoniada, e alarmada. Ou talvez um pouco como a pessoa de quem eles falavam.

— Eu sei que não devo, mas eu a odeio — Lenora continuou em um tom de culpa e raiva simultaneamente.

— Não tem problema odiá-la. — Ben pareceu se aproximar de Lenora. — Eu mesmo a acho insuportável.

De repente, meu chão começou a despencar sob meus pés, e eu quase perdi o equilíbrio. Me apoiei no batente da porta e tentei entender o que estava acontecendo.

— Então porque você é tão bondoso com ela? Como consegue? — Lenora interpôs, e eu imediatamente apurei meus ouvidos na expectativa da resposta de Ben.

Singularidades de um Amor (sem cerimônias) ✔Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum