Capítulo 33

246 37 7
                                    

Quando acordei de manhã, a primeira coisa que pensei foi: Maldito seja o sol. E em seguida: Eu nunca mais vou beber!

Puxei as cortinas agressivamente, tentando evitar que o quarto ficasse claro e que a minha visão fosse afetada no processo. Levei a mão as têmporas, grunhindo de imediato. Minha cabeça parecia que ia explodir.

Me movi na cama e, contra a minha sanidade e vontade de me enterrar nos lençóis para o resto da vida, coloquei os pés no chão. O barulho dos meus saltos em encontro com o piso me fez ficar desnorteada por um segundo. Sentei devagar e esperei que a minha meus olhos se acostumassem com o ambiente meio escuro.

Ainda usando a roupa da noite passada, eu estava no meu quarto. Meu diminuto atual quarto dos fundos de casa, que eu adorava por poder ver o sol nascer todos os dias. Era isso, eu não odiava o sol, então bendito fosse ele, e maldita fosse eu.

No fim, eu ainda era uma tremenda vadia.

Tal qual uma iluminação divina, as lembranças da noite passada estavam nítidas na minha mente. A sensação do beijo de Ben, seu toque, seus lábios, a melhor coisa do mundo. Cada detalhe, eu conseguia lembrar com precisão. O momento exato em que sua mão tocou meu queixo, que seu braço me trouxe para perto. Que nossas bocas se encontraram.

Tão perfeito quanto uma noite estrelada. Eu senti uma faísca transpassar meu corpo por inteiro. Senti vontade de morar naquele beijo. E o ímpeto de continuar nele até o fim dos tempos.

Mas eu não devia ter feito isso. Não depois de ter prometido a Lenora que não daria em cima dele, que não precisava se preocupar. Foi por isso que bebi muito mais depois daquilo.

Mesmo sabendo que ela poderia não ter chances. E que agora eu tinha. Ela ainda gostava dele, e esse era o ponto. Era muita desonestidade da minha parte. E eu havia decidido que essa não seria uma das minhas características.

Caminhei com passos tortos e desbalanceados pelo corredor. O barulho de panelas sendo mexidas tilintando diretamente no meu cérebro. Adentrei a cozinha para encontrar uma Beatrice furiosa e um irmão preguiçoso.

— Parece que estão explodindo bombas na minha cabeça. — Consegui chegar até o balcão e me jogar na banqueta.

— Bom dia pra você também. — Karl estava bebendo uma xícara de café, enquanto lia um livro – não saberia dizer se era para a faculdade ou para o trabalho, mas por vontade própria com certeza não.

Como ele estava tão inteiro, era um mistério. Bem, eu sabia que ele não bebeu muito porque estava dirigindo.

— Por que você tá gritando? — resmunguei, chorosa, e roubei a sua xícara. Ah, café! Sim, café poderia elucidar as coisas. — Como foi que eu cheguei em casa?

— Você não lembra? — Ele me fitou confuso.

Não, eu não lembrava. Consegui refazer apenas fragmentos depois do beijo. Eu talvez tenha voltado a pista de dança, talvez tivesse cantado alto, e talvez tenha beijado Ben mais vezes...

— Ah! — chiei, detestando estar sentindo tanta dor. Passei a mão pelo rosto e pelos cabelos, que com certeza estavam mais embaraçados do que arame embolado. — Beatrice, eu preciso de um abraço.

— Você precisa de vergonha na cara — ela reclamou, me apontando uma concha.

Mas no instante seguinte, ela veio até mim.

— Eu te adoro tanto, Trice. — Me joguei nos braços dela, e recostei minha cabeça em seu busto confortável.

— Minhas panelas estão me esperando — mesmo afirmando isso, ela não se afastou – pelo menos não por mais alguns segundos.

Singularidades de um Amor (sem cerimônias) ✔Where stories live. Discover now