Eu não sabia se ele estava bancando o bom cristão que deveria ser. Ou se estava sendo o bom amigo que Kate, Karl e até Mark prometeram que ele era. Certo que também poderia ter alguma coisa a ver com o Pastor Johnson pedindo para ele me tratar bem.
Querendo ou não, de alguma forma, Ben me ajudou todas as vezes, do seu jeito meio bruto, é claro. Na boate. No supermercado. E muito provavelmente na igreja também – considerando que eu só recebi a ligação do emprego depois que nos esbarramos por acaso naquele dia.
Mas se eu pensasse muito sobre qualquer coisa relacionada a Ben poderia me confundir ainda mais.
— Eu conheço um restaurante aqui perto. Podemos ir andando — ele sugere assim que saímos do elevador.
Me reservei a confirmar com um aceno de cabeça e segui-lo em silêncio. Conforme viramos a primeira esquina, pensei na possibilidade de sair correndo. Quando eu cogitava "fugir", não significava correr que nem doida, então continuei andando ao lado dele.
Mais um quarteirão depois e estávamos finalmente entrando em um restaurante japonês. E, para minha surpresa, de comida vegana.
Uma garçonete asiática sorriu para nós, mas entregou o cardápio apenas para mim, recitando um "o mesmo de sempre" enquanto anotava em seu bloco de pedidos. Com certeza, Ben vinha ali com bastante frequência.
— Sua mãe está bem? — ele perguntou para a moça, puxando conversa.
— Está preocupada com a Naomi, então a comida com certeza vai estar deliciosa — ela brincou de modo casual.
— Quanto mais preocupação, mais dedicação, não é mesmo?
Ben parecia tão habituado a ser carismático com as pessoas ao seu redor, que eu só podia imaginar que ser arrogante comigo era um outro lado da sua personalidade, algo destinado apenas a mim – alguém que ele odiava.
Eu só notei que estava mais interessada na conversa dos dois do que no cardápio quando a garçonete me encarou sorridente e com expectativa.
— Ah, eu vou querer... — comecei, mas não fazia ideia do que comer.
Apesar do nome do lugar ser Restaurante Miyazaki, as refeições japonesas se restringiam apenas há algumas opções, dando lugar a pratos veganos e vegetarianos de diversos tipos. Como eu adorava comida japonesa, decidi optar por uma delas.
— Um poke vegano, por favor — indiquei a escolha e entreguei o menu para ela.
— Anotado. — E ela realmente anotou, mas ao contrário do que eu esperava não foi embora.
A garçonete me fitou por um segundo e depois olhou para Ben, e de volta para mim. E em seguida para ele. Isso tudo com um sorrisinho curioso estampado no rosto.
— Akemi... — Ben deve ter obviamente notado que ela queria mais do que saber o meu pedido. — Essa é a Kaila. Irmã do Karl.
— Karl, o fofo galanteador que vem com você de vez em quando? — Ela colocou a mão no peito, demonstrando o quanto aquela novidade era adorável e a deixava feliz. É, esse é o irmão que tenho. — Vocês não se parecem.
O sorriso que eu estava começando a esboçar desapareceu. Aquela era uma afirmação que eu costumava ouvir com muita constância no passado. Mesmo que fizesse anos desde a última vez que Karl e eu estivemos lado a lado em algum evento social, o comentário ainda era insistente – como uma alfinetada no braço. E eu quase tinha me esquecido disso.
— Quer dizer, você é bem mais bonita — ela acrescentou, talvez percebendo o meu incomodo com a comparação. — Eu vou deixar vocês agora. — E finalmente se foi, um pouco envergonhada.
DU LÄSER
Singularidades de um Amor (sem cerimônias) ✔
ChickLitSegundo livro da trilogia Os Collards Status: Concluído Classificação indicativa: +14 Design de capa por @EfitiaLexa #1 em ficçãofeminina (15/05/2023) #1 em chick-lit (02/09/2023) #8 em piano (15/06/2023) #10 em completo (07/08/2023) Mimada desde se...