Singularidades de um Amor (sem cerimônias) ✔

Capítulo 11

Eu obviamente não fazia ideia do que usar em uma igreja, principalmente em um culto de domingo, mas eu nem precisei fazer esforço nenhum, porque Kate parecia empolgada ao extremo – aposto que deve ter sido infectada pelo vírus Jackson de pura euforia. Com toda aquela animação, se eu deixasse, ela mesma iria tocar piano lá.

Kate decidiu que as minhas roupas não eram "adequadas", o que me fez pensar que eu estava recebendo dicas de moda da minha irmã mais nova, que, vamos ser sinceros, usava jardineira e all star para qualquer evento. Ironia nunca teve definição melhor, a não ser pela minha própria, já que eu estava aceitando as tais dicas.

De repente, Kate jogou um monte de vestidos em cima da cama do meu atual quarto, e começou a checar todos eles, enquanto estendia um a um na minha direção para averiguar se estava do seu agrado.

— Alguns são antigos, comprei no início do casamento, sabe. Eu sei que sou mais magra e você mais alta, mas acho que vão servir — ela começou a tagarelar sem esperar que eu desse realmente a minha opinião sobre aquilo tudo.

Alguns vestidos eram bonitos, o que me fez pensar nela os vestindo e parecia impressionante que eu conseguisse enxergar não mais uma menina pequena e chatinha como eu costumava lembrar, mas uma mulher bonita, gentil e corajosa. Minha irmã, Kate, a quem eu deveria ser um exemplo, a quem eu deveria cuidar, enquanto na verdade ela cuida de mim e me inspira a ser alguém melhor. Ou quase isso.

De repente, um pensamento que eu jamais tive antes passou pela minha cabeça. "Eu quero que ela goste de mim, quero que ela sinta orgulho de mim", o que me faz acreditar que eu mesma não tenho mais o orgulho que costumava ter, pelo menos não de um jeito totalmente ruim. É claro que eu não vou dizer isso a ela, mas gostaria de ser alguém com quem ela possa se dar bem.

— Que tal esse? — Kate encarou o vestido branco e o avaliou um pouco mais do que os outros que ela descartou com tanta facilidade. — Não! — ela negou por fim, falando sozinha, e o jogou na segunda pilha de vestidos, formada pelos rejeitados.

Peguei o vestido branco que ela acabara de jogar ali e o estendi, dessa vez na direção de Kate e então soube porque eu o achava tão familiar.

— Esse não é o vestido do seu casamento?

O vestido era curto e simples, mas bem delicado. E emoldurado nela ficava perfeito, como se tivesse sido feito único e exclusivamente para Kate.

— É... — Ela olhou sorrindo para o vestido e tocou o tecido, parecendo nostálgica. E então pareceu confusa, mas continuou esboçando um leve sorriso enquanto perguntava. — Espera, como você sabe?

A encaro por pelo menos um minuto inteiro, lembrando do porquê de eu ter conhecimento daquele fato.

Eu vi minha irmã se casar pela tela de um celular, através dos vídeos e fotos que alguns conhecidos que me deviam favores me mandaram. E então algumas semanas depois voltei para infernizar o casamento dela quando achava que aquele seria o único jeito de continuar tendo algum dinheiro.

Se eu pudesse, falaria sobre o que aconteceu anos atrás. Mas eu não podia, em parte porque eu não queria e em parte porque eu achava que ela não ia entender. Eu me enganei sobre isso antes. Fugir pareceu ser mais fácil, mas realmente não foi. Além de enganar a mim mesma e me colocar em uma situação ruim, isso só serviu para me deixar completamente sem dinheiro e sem família.

— Eu vi uma foto. Alguém deve ter me mandado, sei lá — desconverso e puxo o próximo vestido da pilha dos ainda não rejeitados.

— Entendi — ela murmurou, deixando o assunto de lado e voltando a observar os vestidos.

Prestei atenção no que eu estava segurando. Aquele eu também conhecia. Era um vestido vermelho, elegante e volumoso. Lembro perfeitamente da foto que Jim tinha me mandado. Kate dançando com o Sr. Campbell, valsando e sorrindo no meio do salão com aquele vestido incrível. Lembro de pensar que ela estava bonita, e com certeza eu devo ter enfiado esse pensamento no baço, porque na época eu me irritei e senti muita raiva para disfarçar a inveja como uma menininha fútil e mimada, a velha Kaila.