Capítulo 38

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— O que está fazendo? — indaguei, curiosa, observando Ben se abaixar para catar uma pedra no chão.

Tínhamos acabado de estacionar na rua de sua casa. E eu estava levemente ansiosa por ficar a sós com ele.

Com seu sorriso encantador, ele se levantou e colocou a pedra na minha mão. Não fazia ideia do que significava, só esperava que não fosse para tacar na casa dos outros e depois sair correndo. A pedra estava um pouco suja de terra, mas era lisa e de um marrom bem escuro. Também era ligeiramente grande, e não consegui fechar todos os meus dedos ao redor dela.

— Eu coleciono pedras — Ben segredou para mim. Dei uma risada divertida sem perceber que ele estava falando sério. Um contador vegano com medo de aranhas, cobras e fantasmas, leitor de fantasias adolescentes, e agora um colecionador de pedras. Aquele homem era mesmo uma caixinha de surpresas. — Quando eu era criança, minha mãe costumava dizer: "Não se preocupe com as pedras que aparecem no seu caminho, use-as para construir um castelo". Eu sei que era uma metáfora clichê e não literal, mas eu comecei a juntar todas as pedras que eu via por aí.

Das poucas vezes que ouvi Ben falando sobre a mãe, eu conseguia sentir seu amor e devoção a ela. Muito diferente de mim, que não tinha o mínimo respeito pelas pessoas da minha vida que já haviam partido.

Ainda segurando a pedra, entramos em sua casa, e eu sabia que ele não estava me levando para seu quarto quando cobriu meus olhos com as mãos e me guiou pelo espaço.

— Não vale espiar — ele cochichou de brincadeira no meu ouvido, e eu fiquei ainda mais interessada no que se tratava aquele mistério todo.

Ouvi ele abrir uma porta, e me incentivar a entrar no lugar desconhecido. Assim que Ben deixou que eu olhasse para o interior da saleta, eu paralisei extasiada.

— Ai meu Deus... — Não pude evitar a euforia que me veio ao ver a construção de pedras quase chegando ao teto no meio do cômodo. — Você literalmente fez isso. Construiu um castelo usando pedras!

Deslumbrada e emocionada, o encarei, me derretendo de amor. Cada pedacinho da sua história sendo revelada aos poucos para mim só fazia com que eu me apaixonasse mais intensamente.

Ben me instruiu a colocar a nova pedra em seu projeto, e depois que admiramos o feito, ele abraçou e me ergueu no ar, me carregando em seus braços para fora.

— Eu acho que luxúria é pecado — brinquei, sentindo seus beijos em meu pescoço, enquanto me carregava.

— Você é a única deusa que pode me punir de qualquer forma. — Os quatro segundos que ele levou para dizer isso foi a única folga que a minha pele teve de sua boca.

Estávamos finalmente em seu quarto, mas minha motivação em observar qualquer coisa que não fosse seus lábios quentes desapareceu. Ben me deitou em sua cama e eu o puxei para sentir seu corpo sobre o meu. Ele voltou a me cobrir de beijos, e pelo modo como suas mãos me veneravam eu realmente tinha a sensação de que era um ser divino.

— Tenho certeza que isso foi uma blasfêmia — tentei dizer em tom de brincadeira, mas eu começava a ficar ofegante demais para gracejar.

— Eu quero estar com você desde que te vi naquela noite na boate. — Ele parou o que estava fazendo para me olhar nos olhos e exibir a intensidade do seu desejo. — Estava linda naquele vestido. Você reluzia como ouro.

— De que vestido estamos falando? — Um pouco confusa, acarinhei seu cabelo, recordando da nossa noite de bebedeira. Eu tinha certeza que, apesar de o vestido do meu aniversário ser metálico, a comparação não parecia certa.

— Do dourado. Que parecia bem caro — ele revelou, e eu demorei um momento muito longo para assimilar do que raios ele estava falando.

Flashes de memória de um possível vestido dourado passaram pela minha mente. Não deveria ser o mesmo, já que...

Singularidades de um Amor (sem cerimônias) ✔Where stories live. Discover now