Capítulo 31

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Em meio ao vendaval de homens, andaimes e fios elétricos, eu estava no centro de tudo "supervisionando" o que seria feito com a minha preciosa escola, que por enquanto ainda era uma ideia em construção, mas se parecia cada vez mais com a realidade.

Karl comprara o lugar, Ben estava investindo nele, mas nenhum dos dois moveu músculos para ver como as coisas estavam indo desde que as obras começaram. Por outro lado, eu estive aqui todos dias – a escola era minha afinal, e claro eles eram ocupados.

No galpão, um palco de madeira estava sendo construído. As janelas estavam sendo trocadas, e as paredes rebocadas. O eletricista decretou uma nova fiação para o prédio inteiro, e cabia a mim determinar onde tomadas e interruptores deveriam ser instalados.

Com toda certeza, eu não sabia nada daquilo, por isso recorri aos universitários, enchendo a caixa de mensagens de Damian com inúmeras perguntas, que eram respondidas aos poucos em meio a sua arrogância latente e o sarcasmo ácido – ambos ligeiramente toleráveis.

Meu lugar favorito tinha se tornado o pátio, agora limpo – mas, sim, algumas cobras e aranhas foram realmente encontradas ali –, e onde uma brisa fresca entrava pelo topo dos muros e a luz do sol enchia o lugar, deixando o clima tão agradável.

O mato e as ervas daninhas que nasceram no chão foram cortados, com exceção de uma árvore que crescia próximo ao muro e fazia sombra para a fonte. Um dos carpinteiros me avisou que as raízes poderiam causar um problema de infiltração, mas eu – teimosa como uma mula – decidi mantê-la mesmo assim. E também não deixei que arrancassem o visco que se espalhava pelas paredes tanto do galpão quanto do anexo.

Caminhei até a fonte e me sentei na borda. Ela ainda precisava ser lavada, e me disseram que poderia funcionar de novo, o que seria ótimo. Alguns trabalhadores passavam carregando materiais e sorriam para mim todas as vezes. Mesmo não estando sozinha e o barulho de máquinas ligadas repercutindo pelo espaço, ainda considerava o lugar tão pacifico quanto um nascer do sol na praia, visto que tudo o que eu conseguia projetar eram crianças e adolescentes andando pelos corredores, sentados em frente a violões e teclados, e a música inundando o ar.

Me levantei e voltei para o galpão. Já tinha checado o anexo mais vezes do que eu poderia contar, e o chefe da obra estava começando a ficar impaciente com a minha "curiosidade".

A estrutura de madeira começava a se parecer com um palco, e agora escadas e rampas estavam sendo erguidas nas laterais. Imaginei como seria se apresentar ali, e que tipo de pessoa iria querer assistir.

Mais cedo, em casa, Karl havia me dado um presente.

— Já está na hora de você ficar com isso — ele disse, enquanto eu estava de pé na sala, comendo torradas de café da manhã e verificando notificações no celular.

— Isso o quê? — mal o encarei, mas quando ele não voltou a falar, tive que levantar os olhos para vê-lo responder, meneando a cabeça em direção ao piano da vovó. Talvez ele achasse que o instrumento era imaculado e sagrado demais para ser mencionado em voz alta. — Ele pertence a essa casa.

— Sempre foi seu, e você sabe. — Aquilo era verdade. No testamento de vovó, o instrumento havia sido deixado para mim, mas eu nunca considerei tirá-lo dali. — Ela ficaria muito orgulhosa de tudo que está fazendo.

Passei a mão no colar de citrinos da vovó no meu pescoço. Karl pousou o braço no meu ombro, famoso por seus meios abraços reconfortantes. E ficamos encarando o piano e revivendo as memórias.

Então agora eu estava planejando trazê-lo para cá. Colocar no palco, e finalmente tocá-lo depois de todos esses anos.

— Tudo parece estar indo bem — a voz de Ben chegou aos meus ouvidos mais alta do que o som da furadeira sendo usada naquele segundo.

Singularidades de um Amor (sem cerimônias) ✔Where stories live. Discover now