Capítulo 35

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Bastou uma ausência minha de 15 minutos – uma pausa merecida para lavar o cabelo e me livrar da areia impregnada nele –, para o carro de Ben sumir do estacionamento.

No fim, ficar animada com um momento tão efêmero não valeu tanto a pena. Eu não queria que ele fosse embora. Mas estávamos nos afastando, e aquele precipício entre nós estava cada vez mais fundo. Mesmo que eu quisesse pular de cabeça, tinha medo de me machucar demais – ou pior, machucá-lo.

— Por quê o Ben foi almoçar em outro lugar? — Melissa perguntou quando estávamos todos juntos durante o almoço.

Parei a ação de levar a colher a boca no mesmo instante, prestando atenção descaradamente na conversa.

— Não é uma mesa muito convidativa para um vegano. — Mark apontou para os pratos de carne assada. — Eu disse que cozinharia algo pra ele, mas ele insistiu que não precisava.

Uma fagulha de esperança se ascendeu em mim. Então, ele não havia de fato ido embora, apenas se ausentado momentaneamente.

Encarei as comidas por um segundo. Como se eu entendesse o que Ben me disse semanas atrás, eu me senti egoísta ao pensar que poderia parar de comer carne. Não por moralidade – não por obediência –, somente para ter algo em comum com ele.

Balancei a cabeça, afastando o pensamento, e voltei a comer.

Kate servia salada para mim e Karl toda vez que nossos pratos ameaçavam ficar vazios, e eu não pude deixar de notar no quanto aquilo se assimilava com Melissa obrigando os gêmeos a comer verduras. Estava na cara que minha irmãzinha tinha ativado o modo mamãe em treinamento, e nós erámos suas cobaias.

Depois da refeição, a quietude se instalou por um tempo. Embora Mark, Dillan, Karl e Dennis tenham se aglomerado no sofá da sala para jogar videogame, não fizemos nada tão interessante pelo resto da tarde. Melissa e Kate até se aventuraram na praia outra vez, mas eu preferi ficar de boas e relaxar na espreguiçadeira da varanda.

O livro de Ben ainda estava em uma das cadeiras, confirmando que ele voltaria. Então, esperei por vários minutos. Já tinha se passado mais de uma hora desde que ele havia saído, e era um pouco frustrante ficar tão ansiosa pelo seu retorno.

Peguei o exemplar de Percy Jackson e folheei o livro. Nunca gostei muito de ler, mas gostava de mitologia. Sem muita expectativa fui virando as páginas e assimilando a história, muito intrigante, por sinal. Não cheguei a terminar – não cheguei nem até a metade –, e não estava chato, mas acabei cochilando.

Despertei com vozes vindo da praia. Lentamente, tateei em busca do meu celular e chequei o horário, quase duas horas haviam se passado. Ainda sonolenta, me sentei na espreguiçadeira e fitei o estacionamento. O carro vermelho estava lá outra vez. Olhei ao redor, não tinha ninguém a vista na casa.

Eu não recordava de ter colocado o livro de volta na cadeira, tinha quase certeza que adormeci com ele na mão, mas ele estava lá, e a última página que eu lembrava ter lido estava marcada com um cartão – era o cartão da Mancini, talvez a única coisa que ele tinha no bolso.

Vozes masculinas me alcançaram de novo. Na praia, uma rede de vôlei tinha sido armada e Mark e Dillan estavam jogando contra Karl e Ben. Achei que demoraria pelo menos uma eternidade para eu conseguir assimilar a cena, mas foi bem rápido. Ben estava sem camisa – todos os quatro estavam, mas meu olhos se pregaram no heterocromata meio italiano.

Meu cérebro indecoroso agora estava mais acordado do que nunca. Acho que não importava para mim se ele tinha o corpo de um atleta grego com todos os gominhos destacados no abdômen, músculos dos braços e das pernas salientes e bem definidos, mesmo que não fosse assim, eu ainda perderia o fôlego.

Singularidades de um Amor (sem cerimônias) ✔Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon