Extra 2

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Não gostava muito de beber. Saía com os amigos de vez em quando, mas me reservava a um drink ou dois. Karl era o único que conseguia me fazer beber mais que isso. Só que no meu aniversário, enquanto eu sentia falta da minha mãe mais que tudo, eu simplesmente queria encher a cara.

Como tinha certeza de que não voltaria menos do que muito embriagado, pedi a Carlos que me levasse. Eu não mesclava minha vida pessoal com o trabalho, mas meu motorista tinha comentado antes que queria fazer hora extra para ganhar um dinheiro a mais, e, bem, eu poderia fingir que isso era um tipo de ajuda.

Me arrependi assim que entrei na Stars. Música alta, gente bêbada e o ambiente lotado. Por sorte consegui ver um lugar vazio no bar ao lado de uma loira e...

Parei estarrecido. Não era uma loira qualquer. Embora seu cabelo estivesse quase platinado, diferente do loiro escuro que eu me lembrava tão bem, aquela era o meu primeiro amor do colégio.

Mesmo tendo se passado tanto tempo, revê-la foi como sentir que jamais a tivesse esquecido.

Fazia alguns anos desde que tive notícias dela. Sua personalidade perversa finalmente a tinha levado a ruína. A irmã mais nova a enfrentou para a alegria dos justos. A mãe praticamente a deserdou. E o irmão a destinou a uma vida de verba reduzida – e depois nenhuma verba.

Eu não desejava mal a ela. Minha mãe me ensinou a nunca fazer isso com ninguém. Mas também queria que ela aprendesse uma lição – e que fosse uma pessoa melhor.

Eu sei que ela daria um jeito. Tinha que dar.

Agora, em uma noite que deveria ser meu aniversário, mas só era mais um dia sentindo um vazio no peito, a vejo ali, sentada no bar, parecendo solitária e perdida.

E belíssima. Em seu vestido dourado que a fazia parecer o próprio sol, com toda a sua luz própria. Já cheguei a pensar que Kaila era a versão feminina de Apolo, claramente uma deusa.

A desculpa que usei para me sentar ao lado dela obviamente foi a do único acento vazio. Outro tomaria o lugar se eu não o fizesse. Era só isso.

Independente de conhece-la – e perceber agora que a rever me proporcionava uma nostalgia excitante –, ela ainda era a mesma garota malvada de antes, então eu não deveria sequer pensar em falar com Kaila Collard.

Mas foi ela quem falou comigo. E para minha total surpresa uma cantada que só piorava a tentação que eu de repente passei a sentir naqueles poucos minutos.

Não. Era errado. Eu conhecia o irmão e irmã dela – Mark, o marido de Kate, era um dos meus amigos mais próximos além de Karl –, e eles ainda mantinham aquela velha opinião que eu bem conhecia sobre Kaila.

No entanto, ela estava sozinha e os amigos que eu ouvira falar a evitavam como o diabo fugia da cruz. E era o que eu devia fazer.

Então, ela de repente lembrou de mim – não do meu nome, mas de quem eu era. E eu vacilei um pouco, desejando que pudesse ser diferente. Mas não podia – não seria. Ela não estava interessada em mim de verdade, ainda pensava só em dinheiro, status e aparência. Enquanto eu pensava que poderia me afogar naqueles olhos azuis.

Se eu não podia ficar com ela – isso nem era discutível, embora beijá-la me passou pela cabeça pelo menos umas cem vezes –, queria ao menos ajuda-la de alguma forma, já que claramente ela precisava.

Carlos seguiu minhas instruções e a levou para casa. A princípio o dinheiro que dei era realmente para que ela pegasse um taxi, mas não queria que algum filho da mãe sem vergonha se aproveitasse dela – ou mesmo que ela fizesse alguma besteira.

Vários dias se passaram desde que a vi. Mencionei o nosso encontro para Kate – não sei bem porque fiz isso, a irmã mais nova de Kaila tinha passado maus bocados na mão dela, mas lembro de ter me contado que foi contra a decisão do irmão de parar de banca-la –, mas não tive coragem de contar para Mark e Karl, porque os dois costumavam ser bem inflexíveis e eu não queria chateá-los.

Singularidades de um Amor (sem cerimônias) ✔Where stories live. Discover now