O MISTÉRIO DO GALINHEIRO

526 44 116
                                    

Quando eu era pequena não entendia muito bem o porquê minha mãe havia construído um galinheiro feito de tijolos e com uma grade como porta. Sabe aquele lugar era tão confortável, que dava para morar junto com as galinhas se alguém precisasse, era uma construção bem feita, e é até o dia de hoje. Todas as noites meus pais trancavam a porta do galinheiro, é gente, tinha até chave, e quando amanhecia eles abriam para as galinhas saírem ciscar o terreno, sempre foi assim, e é até os dias de hoje. Mas sabe qual é a história que envolve tal ato? Ela é simples, "lobisomem".

Minha mãe me contou que quando minha avó era apenas uma garotinha vivia em um lugarejo, bem distante da cidade. Ali naquele lugar tinha várias casas de madeira, era um pequenino vilarejo no meio da mata, onde durante o dias os homens iam trabalhar na roça e suas mulheres e crianças ficavam cuidando da casa. Meus bisavós eram tipo nômades, ficavam um pouco em cada lugar, sempre se mudando, e nunca criando raízes em um município, até conhecerem a cidade onde moro, aqui meu bisavô passou seus últimos dias, e minha bisavó na cidade vizinha.

Nesse lugarejo durante as noites de lua cheia, fatos inexplicáveis aconteciam, várias galinhas apareciam mortas na manhã do dia seguinte, era algo estranho e nojento de se ver, já que uma boa parte das aves estavam estraçalhadas e havia sangue para todos os lados. Isso acontecia havia vários anos, antes mesmo de meus bisavós irem morar naquele lugar, e certamente continuou depois deles irem embora. 

Mas a história é a seguinte, quando eles foram morar naquele lugar, os vizinhos alertaram para que eles construíssem um galinheiro reforçado, pois se não o fizessem, iriam perder todas as suas aves, pois naquela região existia uma besta fera que se deliciava com o sangue das aves, mas durante um tempo nada havia acontecido. A história continuou a ser contada, e como nada acontecia, os moradores começaram a relaxar no cuidado de suas galinhas até que em uma certa noite, se ouviu uivos naquela região. Mas não era nada fora do comum, pois ali vivia uma matilha de lobos selvagens.

Minha avó e meus tios como eram pequenos ficaram assustados com o barulho durante a noite, eram uivos estridentes e assustadores, na manhã do dia seguinte meu bisavó levantou mais cedo que o costume, porque nesse dia o trabalho na roça seria cansativo, então ele queria adiantar o serviço, antes que o sol começasse a esquentar. Minha avó sendo a mais velha entre os irmãos, e conhecendo a história queria verificá-la pessoalmente, mas antes de ir ao galinheiro, notou que na porta da vizinha ao lado estava um rapaz dormindo, nada de mais né, dormir ao relevo!

Nessa hora ela se aproximou da cerca para bisbilhotar, e lá estava o jovem dormindo encostado sobre a porta da viúva, suas roupas sujas, e quanto mais ela se aproximava, mas nítido ficava. As roupas do jovem estavam cheias de penas grudadas, assim como manchas vermelhas, e de sua boca escorria sangue, e em seus braços havia uma levem pelagem. O susto foi grande, pois ela jamais havia visto tal coisa, e assim voltou correndo para dentro de casa e contou tudinho a sua mãe. Minha bisavó não acreditou, porém para tirar o medo da filha resolveu ir indagar sua vizinha, e a mesma lhe pediu para não comentar com ninguém aquela história.

O que realmente aconteceu? O que foi que minha avó viu quando era uma garotinha?

A mãe do rapaz contou a minha bisavó que seu filho tinha um grave problema de saúde, no qual ela não sabia como resolver. O rapaz durante uma vez no mês sentia um desejo incontrolável em tomar o sangue das aves, para que ele não atacasse as galinhas dos vizinhos, ela criava as suas para oferecer ao seu único filho quando esse se transformasse, assim evitaria que os moradores resolvessem caçar a fera que eles diziam que existia naquele lugar.

O rapaz nada lembrava do que fazia, e sua mãe limpava todos os vestígios do ocorrido, antes mesmo de amanhecer. Ele era seu único filho, era uma benção no qual ela foi agraciada já com uma certa idade, e depois que seu esposo faleceu, foi a única família que lhe restou naquele lugar. A mãe do rapaz garantiu que seu filho não fazia mal a ninguém quando estava em outra forma, mas que ele também não se lembrava de nada do que acontecia. E quem o conhecia jamais diria que ele era fã do sangue das galinhas, já que o mesmo era tímido e mal saia de sua casa, e quando saia, estava sempre ajudando sua mãe. Era um jovem carismático e bom, simples em seus atos. Algum tempo depois meus bisavós foram embora daquele lugar, e nunca mais se soube em que fim se deu a vida de tal rapaz.

De uma coisa todos tinham certeza, seja lá de que mal o jovem sofria, esse era muito parecido com o que o lobisomem fazia. Se tal maldição ainda assola aquela região, de nada sabemos, mas aqui onde moro há também algumas histórias sobre tal aberração.

Para finalizar esse conto, minha mãe dizia que era por isso que mantinha as galinhas presas, pois nesse mundo existia coisas que não podiam ser explicadas.

Para finalizar esse conto, minha mãe dizia que era por isso que mantinha as galinhas presas, pois nesse mundo existia coisas que não podiam ser explicadas

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.


          ━━━━━ • ஜ • ❈ • ஜ • ━━━━━

Até o próximo conto arrepiante

Se gostou do relato, não esqueça de deixar seu voto.

Contos de uma Cidade no Interior (REESCREVER)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora