CAPÍTULO DEZENOVE

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Um suspiro longo fugiu de seus lábios.

— Menos eu — Ellie encarou os olhos cheios de preocupação de James. — Eu entrei em desespero. Comecei a chorar e soluçar, não conseguia ajudar ninguém. Não tinha nenhuma maneira de ajudar.

— E você acordou.

— Sim — Ellie esfregou as mãos nos olhos. — Eu espero que isso nunca aconteça.

O garoto da Grifinória mordeu o lábio inferior. Parecia estar alheio diante da explicação do pesadelo, mas não hesitou em falar o que estava o afligindo após ouvir o relato da menina.

— Que estranho — James franziu as sobrancelhas. — Eu tive o mesmo pesadelo há poucos dias.

Uma carranca se formou no rosto da jovem de cabelos áureos. Milhares de teorizações e hipóteses surgiram como uma lâmpada sobre a sua cabeça.

— Por que eu acho que isso não é uma coincidência?

— Eu acho que você pensa demais — James disse, sonolento.

— Eu não acho, mas é melhor pensar demais nas coisas do que ser lerdo como você — Ellie alfinetou. — O seu jeito me assusta às vezes.

— Eu não sou lerdo — ele protestou. — Apenas penso com calma.

— Grande diferença — ela abafou um riso. — E se alguém estiver controlando os nossos pensamentos?

James jogou o próprio corpo dramaticamente sobre a cama e deitou a cabeça em um dos travesseiros que preenchiam os lençóis. As suas mãos repousaram sobre a sua testa e depois se voltaram em direção à Ellie, indicando a jovem com o dedo indicador direito.

— Você pensa demais — ele bufou.

— Eu não penso demais, James.

— Eu apenas quero dormir demais — insistiu o menino. — E você deveria fazer a mesma coisa.

— É claro que eu vou conseguir dormir depois de ter visto os meus amigos mortos e descobrir que um deles teve o mesmo pesadelo — Ellie não pôde controlar o sarcasmo.

O jovem hesitou em respondê-la no mesmo tom, mas não conseguia pensar em nenhuma resposta com sono. Ele fechou os olhos para ignorar as supostas ideias de Ellie sobre os pesadelos em comum, porém um barulho de estilhaços caindo ao chão fez James pular da cama.

O som atiçou também todos os sentidos da menina.

— Isso é alguma brincadeira para não me deixar dormir hoje? — James perguntou, esfregando a mão na nuca.

— Mas é claro que é uma brincadeira — Ellie revirou os olhos. — Acha mesmo que eu perderia o meu tempo com algo assim?

Os lábios de James se curvaram em um sorriso fraco.

— Não me responda.

— Eu não ia responder mesmo — ele mentiu, analisando o dormitório. — O barulho veio do banheiro.

Os olhos da menina correram até o encontro das camas no dormitório masculino. A cama de Sirius encontrava-se desarrumada, os lençóis amarfanhados, o travesseiro no chão provocou a atenção de Ellie.

O som de estilhaços sendo esmagados ao chão causou novamente a atenção dos dois adolescentes acordados. Ellie levantou-se, e cuidadosamente, caminhou em direção ao banheiro.

— Lumus — ela proferiu.

Uma luz fraca e esbranquiçada irrompeu da ponta de sua varinha. Ouvindo passos atrás dela, Ellie virou-se e viu James fazendo o mesmo caminho até o banheiro do dormitório da Grifinória. A mão da garota empurrou gentilmente a porta e ela encontrou uma figura agachada no chão.

A cena diante de seus olhos fez o coração de Ellie arfar em seu peito. Havia vidros do espelho pelo chão, estilhaçados em mil pequenos pedaços e Sirius estava sentado perto dos mesmos. A garota se esquivou entre os estilhaços para conseguir chegar até o amigo.

— Sirius — ela chamou em um sussurro.

Lágrimas silenciosas corriam pelas bochechas do garoto quando ele encontrou os olhos da menina. Ele começou a soluçar. A intensidade do soluço foi tão forte como se todas as emoções atoladas no coração quisessem sair sem a sua permissão, e muito menos sem o seu controle.

— Eu estou bem — mentiu Sirius. — Me desculpa por ter acordado vocês.

— Não — Ellie colocou a mão sobre o ombro do garoto. — Você não está bem.

— Me deixa aqui, por favor — ele fungou, a voz cedendo no final da frase. — Eu não quero que ninguém me veja assim.

— Me dê uma boa razão para te deixar sozinho agora, Sirius — a menina insistiu, olhando o cinza místico na profundidade dos olhos de Sirius.

— Eu sou um fardo — Sirius sussurrou. — Para vocês e todas as pessoas que eu conheço.

— Eu disse uma boa razão — Ellie agarrou firmemente o ombro do garoto.

O garoto caiu em seus braços, ele não conseguiu controlar as lágrimas por mais um segundo.

Sirius chorou com satisfação, as mãos trêmulas envolveram o abraço da garota. Ellie ergueu uma das mãos que envolvia ele nos seus braços e enroscou nos cabelos longos de Sirius que normalmente seriam perfeitamente escovados, mas agora estava em um estado que ninguém via. Estava embaraçado e grudado em algumas áreas por conta das lágrimas.

— Quer me contar alguma coisa? — perguntou Ellie, gentilmente.

— Foi um pesadelo — ele deixou escapar de seus lábios. — Ela queria me matar.

Pelas suas lágrimas e o seu soluço incessante, Ellie nem precisou perguntar para saber que Sirius se referia a sua mãe.

— Foi apenas um pesadelo — ela sussurrou, arrumando uma mecha do cabelo de Sirius. — Isso não vai acontecer.

— Eu odeio ela — Sirius suspirou e chorou com a cabeça no pescoço de Ellie. — Eu não quero mais ficar naquela casa.

— Você pode ficar na minha casa — Ellie sugeriu.

— Ou na minha — disse James, encostado na porta.

— Eu não quero atrapalhar ninguém — os olhos avermelhados de Sirius encontraram os dois amigos. — Não é justo com vocês.

— Não é justo ver você assim e não ajudar — James caminhou até Ellie e Sirius abraçados no chão.

— E você não atrapalha ninguém — Ellie deu um sorriso amigável. — Nós somos a sua família também, Sirius. Estamos aqui para o que você precisar.

Um último soluço escapou dos lábios de Sirius antes de corresponder corretamente ao abraço da jovem lufana. Ele forçou um sorriso em meio às lágrimas que insistiam em arder em suas pálpebras.

— Obrigado.

FALLING - JAMES POTTEROnde as histórias ganham vida. Descobre agora