Capítulo 1 - Parte 3

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Repentinamente Adélia ouve uma voz a proferir o seguinte “Tu realmente és engraçada…”

Nisto ela olha e repara num rapaz, um pouco mais velho, pelo menos aparentava ter cerca de vinte anos, no entanto a questão que perdurava não era nem a idade nem outro assunto, se não a própria curiosidade sobre o comentário de ela ser engraçada.

Adélia perguntou de seguida “Conheço-te?”

O rapaz sorriu e retorquiu “Não, julgo que não, nem por isso, mas estamos a tempo para corrigirmos isso, o meu nome é Daniel”, e em seguida erguendo a sua mão continuou “Muito gosto em te conhecer!”

Adélia ficou a pairar naquele pensamento sobre o porquê daquela abordagem, o porquê de este Daniel querer conhece-la sem qualquer tipo de intimidade, e antes que ela lhe estendesse também a sua mão questionou “Tu queres-me conhecer com que intuito? Vais-me roubar ou vender alguma coisa parecida?”

Daniel ficando com a sua mão no ar, suavemente retira-a, e diz “Achei-te gira, e gostei especialmente do teu sorriso, e algo em ti puxou-me…”

Adélia começa estranhamente a corar e responde “Desculpa, mas eu tenho de ir embora…”

O rapaz vê a ir embora e nisto diz “Todos os dias tu vens deixar o teu irmão com um sorriso, no entanto, todas as vezes que te vais embora, a tua face muda radicalmente, olhei para ti, e despertou-me curiosidade…”

Repentinamente Adélia para de andar…e suspirando fundo responde “Tu não me conheces de lado nenhum e agora acabaste de perder a tua oportunidade de alguma vez me vires a conhecer, adeus”

Dito isto, voltou a retomar o seu caminho, e retirando um cigarro e um isqueiro do seu bolso sussurrou “Rapazes, não poderia esperar outro comportamento se não a intromissão, e a mentira…onde é que eles seriam somente curiosos? Não é possível.”

Naquele dia Adélia fez o costume que era após deixar o seu irmão, ia dar umas voltas até a praia mais próxima, comprar drogas leves e bebidas, e se possível consumi-las antes de voltar para perto do seu irmão.

A verdade é que o seu dinheiro nunca proviera do seu trabalho, pois ela nunca tinha trabalhado, provinha sim do dinheiro que os seus pais lhe deixavam para almoçar e lanchar na escola, assim como o seu irmão.

Depois disto, ia novamente buscar, na hora de saída o seu irmão, mas na vez de se dirigir diretamente a casa, ela passava sempre por uma loja de doces e comprava uns quantos para o irmão, deixando-o completamente radiante.

Após isso, levava-o para um consultório, onde por norma, a sua mãe o ia buscar, até que a chamassem, para as suas consultas semanais, de um psicólogo.

Em parte, esta rapariga, levava esta rotina como sendo o ultimo folego da sua vida e estava ali para mudar o seu comportamento, no entanto, até a data, ela ainda não tinha aberto a sua boca para falar ou contar o que quer que fosse ao psicólogo. Talvez por motivos de intimidade tal como tinha referido ao outro rapaz, o Daniel, ou provavelmente fosse segredo, ou quem sabe, nem se apercebesse e estivesse já num estado “perdido”.

Adélia enquanto estava sentada, esperava a ouvir várias músicas que passavam na rádio, umas comerciais, outras nem tanto, mas a sua vontade era ouvir as suas, mais pesadas, para que lhe ajudasse a aliviar o stress, assim como para ajudar a fluir mais o tempo, pelo menos, estas eram as suas palavras.

Poucos minutos depois, a porta do consultório abria-se e o psicólogo despedia-se da sua paciente com um sorriso e um aperto de mão com as duas mãos. Parecia haver uma boa ligação entre eles, talvez por a paciente se ter comprometido a deixar-se ajudar, pois muitas vezes o problema é mesmo não querermos que nos ajudem, também devido ao facto de nem aceitarmos ou acreditarmos que temos mesmo de facto algum problema.

Após a paciente se ter ido embora, o psicólogo, com o nome de Otnas olhou para Adélia e sorrindo chamou-a “Ah, menina Adélia, eu já a esperava, venha, entre, vamos começar”

O comportamento de Adélia foi o mesmo de sempre, com a mesma repetição, que foi entrar, tirar o casaco e simplesmente permanecer calada, olhando sempre para a rua através de uma janela.

Ela não só não acreditava nela mesma, como também não acreditava que seria possível algum dia explicar a situação em que se encontrava, ou mesmo impedi-la de acontecer.

Ela tinha desistido.

InocenteWhere stories live. Discover now