Capitulo 2 - Parte 2

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“Não te segui, mas talvez não tivesse sido má ideia…”

Disse o rapaz, que Adélia reparava agora ser Daniel, aquele que a abordou perto da escola.

Adélia pegando no cigarro e fumando mais um pouco, em seguida pergunta em tom de curiosidade “Então Daniel, é esse o teu nome não é? Explica-me então porque razão foi provavelmente uma má ideia não me seguires?”

Daniel sorrindo retorque proferindo cuidadosamente as suas palavras “Talvez da primeira vez, quando me apresentei, tivesse sido demasiado apressado, deixando-te provavelmente com a sensação de que eu era um daqueles sociopatas em busca de raparigas bonitas”

Adélia por momentos fica estagnada a olhar para Daniel, nisto, Daniel, julgando ter dito algo de errado, diz “Talvez eu não tenha começado bem outra vez…” e em seguida, virando lentamente costas diz “É melhor eu ir…”

Repentinamente Adélia diz “O que é que tu quiseste dizer com aquilo de raparigas bonitas?”

Daniel ao ouvir aquelas palavras, parecia ter havido uma certa luz, um certo chamamento de forma interessante, o que o levou a voltar-se para Adélia e dissesse “Tu és uma rapariga bonita, mas mais que isso pareces interessante, eu só te queria conhecer, sem parecer um daqueles…bem, tu sabes.”

Nisto, a mãe de Adélia chama ao longe pelo seu nome, e Daniel ficando pensativo diz “Julgo que te estão a chamar…”

Adélia afirma com a cabeça e começa a caminhar em direção ao carro, mas antes, mesmo um pouco antes, olha para Daniel e pergunta-lhe “Tu tens algum problema nos teus olhos?”

Daniel encolhe os ombros e responde sem perceber “Não, porque me perguntas isso?”

Adélia ignorando completamente o chamar da sua mãe, e caminhando em direção a Daniel, até permanecer a um palmo, profere as palavras seguintes “Olha bem para mim, eu sou feia, eu não…”

Nisto Daniel interrompe Adélia e diz “Não digas isso, não faz qualquer sentido…”

Entretanto, Adélia empurra Daniel e diz com alguma agressividade “Tu és mentiroso! Tu só queres aquilo que todos os homens querem! Tu nunca mais te atrevas a falar comigo, muito menos a seguir-me! Se não eu…!”

Adélia ainda esperou um pouco por alguma reação, mas ele não disse nada de nada, absolutamente e rigorosamente nada, permanecendo somente a olhar para ela, sem perceber onde e como tinha errado.

Assim, ela foi-se embora, dirigindo-se até a sua mãe, para que fossem ambas para casa, mas na verdade, aquilo foi algo ao qual Adélia já não estava habituada, e pouco se lembrava como era falar com um rapaz, principalmente, um que a elogiava, e a queria conhecer genuinamente.

Quando mãe e filha chegaram a casa, e a sua mãe colocou as chaves na porta, Adélia sabia que o seu irmão estaria do outro lado a sua espera, para a abraçar e dar um beijinho de boa noite, assim como, muito provavelmente o seu pai, José.

Adélia tinha-se enganado, hoje o seu pai já tinha saído para ir trabalhar, e tinha-lhe deixado um envelope, nas escadas, a caminho do seu quarto.

Ela mal entrou, fez o que sempre fazia, abraçou-se ao seu irmão, acarinhou-o, perguntou-lhe sobre como é que ele tinha passado o dia, as notas e tudo o que tivesse direito a saber, demonstrando de facto, uma faceta bondosa, carinhosa e bastante preocupada.

No entanto, mesmo logo em seguida, foi buscar a carta, em que por fora estava escrito “Do teu pai, para a minha princesa”

Aquilo era hábito, e de facto, era um mimo que o seu pai fazia questão de cumprir, todas as noites, antes de ir trabalhar, caso, fosse.

A intenção era simples, pois esta era uma forma de matar alguma saudade, entre os laços tão fortes que ambos tinham um pelo outro, enquanto o seu pai estivesse a trabalhar, num trabalho humilde, e por vezes negligenciado pela sociedade, pois ele era um “Almeida da Câmara”, dito num termo popular, um lixeiro, alguém que trabalha a recolher lixo.

No entanto, isso nunca tinha sido, nem era motivo para que Adélia não tivesse orgulho no seu pai, embora, já no caso da sua mãe, apesar de humilde, este não era o trabalho predileto para o seu marido.

InocenteWhere stories live. Discover now