Capitulo 7 - Parte 4

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O selvagem não queria responder e por isso perguntou "Tens a certeza que queres saber disto? Vais deixar de poder ignorar a verdade sobre tudo o que te tem acontecido e passar a conviver com ela"

Adélia séria responde firme com segurança daquilo que queria "Sim, eu tenho a certeza absoluta"

Nisto o selvagem fecha os olhos, quando repentinamente profere as palavras seguintes "Adélia, esta és tu, mas já alguma vez te questionaste sobre todos os momentos em que tu não controlavas o que dizias, ou mesmo os instantes em que não percebias porque razão te sentias em conflito constante contigo mesma? Talvez o imenso tempo em que não percebes como voa, ou como tenhas ido ter a uma certa localidade ou tenhas acordado num certo sitio, quem sabe...uma conversa, ou algo que tu ficasses confusa sem saberes o porquê, nem quando, quase como se estivesses perdida..."

Adélia ao ouvir aquelas palavras verdadeiras e duras, sentia-se completamente naquele estado na sua maior parte do tempo, mas o selvagem não ficou por ali, continuou a dizer em seguida "Por vezes um desejo de algo que tu não sabias gostar, ou mesmo um sítio que te parecesse familiar, sem nunca teres estado lá...quem sabe também, com os teus amigos, com o Daniel, ou mesmo com a tua família uma rejeição por completo de algo que não compreendes...certo?"

Adélia sentia-se naquele momento transparente perante tantas afirmações e tão verdadeiras que arrepiavam, no entanto, afirmava agora com a cabeça, dando toda a razão ao selvagem.

No fim simplesmente com algumas lágrimas nos seus olhos perguntou uma vez mais "Diz-me...quem é ela?"

O selvagem de seguida aproximou-se dela e passando-lhe a mão pela face disse "Ela és tu...ela é a Eva, uma criação tua, do teu inconsciente, uma forma para tu te protegeres de tudo aquilo que tens vivido durante anos seguidos..."

Adélia pensava agora na questão tão óbvia, mas tão estranha, pois apesar de ela sentir que sabia a resposta, ela não a conseguia proferir, nem mesmo através de pensamentos e como tal disse "Eu não sei o que eu passei...agora que penso nisso, eu sinto que sei, mas na verdade eu não o consigo dizer, nem mesmo ter a certeza do que é...porque me está a acontecer isto?"

O selvagem sorri e afastando-se um pouco diz "Adélia imagina um corpo, em que tudo aquilo que é bom ficou na parte A, e tudo o que era mau, ficou na parte B. Agora a parte complicada é...tu és a parte A e ela é a parte B. Ambas não sabem tudo o que a outra sabe. Vivem numa constante desarmonia, desencontradas e infelizmente tudo no mesmo corpo. E por outro lado, a parte A criou a parte B para ignorar o que é mau, por outro lado, a parte B nunca ignorou nada...e como tal deverá ter ganho mais conhecimentos.

Dito isto por crianças e de uma forma simples, tu perdes tempo porque tu ignoras, e ela nunca perde tempo, e a dado momento, ela está a começar a adquirir formas de continuar ativa, enquanto tu continuas a dormir..."

Adélia mal acreditava no que estava a ouvir e entretanto lembrou-se de algo e como tal perguntou "Mas tu dizias-me conhecer e teres falado já com ela, tem a haver com este sitio é isso?"

O selvagem sorri e responde "Exato, aqui é o intermédio, a fonte dos vossos pensamentos transformados em pessoas, objetos ou atitudes, e por vezes pensamentos daquilo que poderá acontecer. Tu já viste o que poderá acontecer se ela continuar a controlar...o Daniel irá morrer."

Adélia pensativa em seguida pergunta "Se tu és a minha consciência, então tu deverás ser a consciência dela também certo?"

Ele ao ouvir aquela pergunta respondeu com um sorriso "Sim, exato"

Assim, continuando com a ligação de palavras e pensamentos disse "Então quem é que ela vê, já que eu quando olho para ti vejo o Daniel...digamos assim."

O selvagem sorri e baixando os ombros responde "O teu irmão, somente o teu irmão, sem nenhuma transformação para algum vagabundo ou uma metáfora de algo. Ela vê o teu irmão tal e qual como ele é"

Nisto Adélia vai para perto da cascata e questiona dizendo "Então depois disto...ela vai saber que eu sei?"

O selvagem em seguida afirma com um acenar de cabeça, afirmando a sua resposta, deixando quase de seguida que Adélia retorquisse da seguinte forma

"É aqui então que eu nunca mais poderei voltar atrás e ter um descanso falso, por outras palavras, eu tenho de me ver livre dela...é isso?"

O selvagem em seguida aproxima-se de Adélia e diz "Isso e resolver a tua vida...o teu pesadelo...percebeste?"

InocenteWhere stories live. Discover now