Capítulo 1 - Parte 2

193 7 13
                                    

"Acorda! Acorda!" Gritava alguém com enfase para fosse possível ouvir em toda a casa.

Acordava Adélia calmamente, como se não tivesse dormido nada durante a noite, demonstrando uma dificuldade imensa para se levantar ou mesmo mover algum membro do seu corpo.

Adélia assim que se colocou em frente a um espelho, reparou nas suas enormes olheiras, algo que nos últimos tempos se tinha tornado frequente, quando subitamente a sua mãe abre a porta e profere as palavras seguintes "Filha, desculpa mas são horas de te levantares, sabes que..."

A mãe repentinamente parou o seu raciocínio e demonstrando a sua surpresa com uma careta disse "Não... hoje estás pior, foi outra vez o mesmo, filha?"

Adélia encolhendo os ombros responde "Sim, o que é estranho não achas mãe?"

A sua mãe, meio antiquada, e com algumas raízes de uma terra já antiga, profere as palavras seguintes num tom zangada "Filha, olha para mim, eu já te disse que isso são pesadelos não já? Então veste-te e vai para a escola, se não ainda te atrasas, a ti, e ao teu irmão!"

Nisto, a sua mãe, Alcina, saí do quarto e Adélia esfregando a sua face sussurra "Ele faz-me mal durante a noite e vocês ainda me obrigam a leva-lo à escola, um dia eu mato-o, ou mato-vos"

Repentinamente Adélia, perturbada, liga o seu rádio e uma música pesada é iniciada e ela começa a sorrir, abanando a cabeça enquanto se veste e prepara para prosseguir com o plano da sua mãe, levar o seu irmão à escola e ir igualmente.

Esta rapariga, a Adélia, no seu quarto tinha todo o tipo de objetos macabros e sombrios, assim como desenhos espalhados, rabiscos, sobre os seus pesadelos, haviam dias em que ela sonhava com ele dia e noite, pois não se conseguia esquecer, por isso, desenhava, riscava, e assim se exprimia.

No entanto não tinha qualquer tipo de talento para essa mesma área, a sua era especialmente o oculto, o sombrio e aquilo que muitas pessoas também faziam, drogas, leves, pesadas, todo o tipo, mas no seu ponto de vista, sempre controlada.

Assim que Adélia chega a porta da rua, grita pelo nome do seu irmão "Abadom!!!!"

Ainda hoje ela se questionava pelo nome esquisito de seu irmão, mas talvez pelo factor da sua mãe e de seu pai terem vindo de uma terrinha longe, nos confins do mundo, isso teria influenciado.

Quando o seu irmão desce, Adélia olha para ele e diz "Aqui estás tu...podes-me dar um beijinho de bom dia?"

O seu irmão, com uma diferença de dois anos, tendo agora quinze anos, sorri, e beijando a sua irmã responde "Olá mana, tudo bem?"

Aquilo não parecia certo, pois o seu irmão aparentava ser o oposto a ela, alegre, com uma boa presença, bem vestido, a respirar vida e felicidade.

"Abadom olha..." Retorquiu Adélia com uma certa tristeza e igualmente sentimentalismo na sua voz "Eu quero que saibas que eu gosto muito de ti está bem?"

O seu irmão mal ligou aquelas palavras, como se estivesse já a contar com elas todos os dias da sua vida nos últimos quinze anos, e que de facto, era nada mais, nada menos que a verdade.

E assim foram, os dois, lado a lado, para a mesma escola, sendo que a única diferença, era Abadom ser completamente brilhante para a sociedade, enquanto que Adélia, era somente e infelizmente o maior desperdício para a humanidade.

No caminho para a escola, a cerca de duzentos metros, Adélia despediu-se do seu irmão com outro beijo, e um grande abraço, e disse-lhe "Boas aulas e vê se estás atento..."

Abadom, como sempre sorriu, e prosseguiu a sua marcha até a sua sala de aula, deixando a sua irmã para trás, mas infelizmente, sempre a chorar, e sem nunca que o seu próprio irmão reparasse que ela estava a demonstrar a sua dita e cuja sensibilidade e sentimentalismo.

Adélia de seguida virou costas e começando a caminhar, referiu as seguintes palavras a sussurrar "Por favor, não me obrigues a matar-te, por favor não me obrigues a tirar-te a vida, não sabes como te odeio, como me enojas, não sabes como te quero morto seu monstro!!"

InocenteWhere stories live. Discover now