I32I - Instinto

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Não seja ingrata, reclamou. 

E eu não queria ser, sabia que estava viva por seja lá o que tivesse feito, no entanto, sabia como funcionava, havia um preço, sempre havia um preço. Um desespero sem medidas tomou conta de mim.

- Uma moeda pelos seus pensamentos. - Escutei a voz do Lobo quando todos saíram a contragosto, havia um tom suave bem diferente de minutos atrás. E com a mesma suavidade eu respondi.

- Vai se foder. 

- Fiquei profundamente insultado. - Disse, escutei o som de algo sendo rasgado e levantei meus olhos para onde ele deveria estar.

Fui surpreendida por ver que ele tinha descido do seu trono, estava agachado a minha frente, havia tirado sua camisa e agora a rasgava em tiras.

- Sua garota teimosa, por que não me contou que Ângela estava a ameaçando? - Falou, enrolando o tecido para depois pressiona-lo atrás da minha cabeça. 

- Isso dói. - Reclamei.

- Ótimo, assim vai lembrar de pedir minha ajuda quando necessário. Quantas vezes preciso falar, não me será útil morta. - Disse, a cadência atípica em sua voz estava começando a me assustar.

Tentei mover minha cabeça para olhar Turvan novamente, mas ele a manteve no lugar.

- O que aconteceu? - Perguntei. - Não lembro do final da luta. Lobo, o que aconteceu? - Insisti.

- Isso minha querida Aysha é você quem precisa dizer. Retirou a Dominância de Turvan, antes mesmo que eu pudesse interferir.  - Proclamou. 

- Mentiroso, você ia me deixar morrer. - Rebati magoada, mas o que eu deveria esperar dele? As vezes que escolheu me ajudar tinha sido apenas para o seu beneficio. 

- Possivelmente. Não há honra em um desafio onde os outros lutam por você. - Falou e com essas palavras me afastei dele, sentando pateticamente no chão.

- Vai se fuder de novo, estou cansada disso e qual a maldita honra em morrer? Não há nenhuma. - Falei. Encolhendo-me quando outra onda de dor inundou meu corpo, a sensação estrangeira de que havia algo a mais comigo se tornou mais forte. Tentei concentrar minha mente na analise dos últimos minutos.

Ele é nosso, é o preço. A caixinha bradou. 

Vai nós rasgar em pedaços se não devolvermos. Refutei.

Dando forma aquela sensação, imaginei uma sombra, como tinha visto em outra ocasião cercando o lobo, se movendo junto a ele. Imaginei uma forma lupina grande e feroz rosnando para mim e por um momento foi o que vi, um fantasma ou cerne, algo que em outro momento teria chamado de alma. 

Com curiosidade ergui a mão em direção a forma brumosa,  sua hostilidade inicial dando lugar a uma subserviência amigável. Aos poucos senti que as dores haviam se tornado apenas uma lembrança e eu me vi chegando cada vez mais perto daquela imagem selvagem, quando meus dedos finalmente o tocaram senti sua agonia, a dor de uma separação imperdoável e o medo de ser deixado sozinho.

 - Retorne. - Proclamei, sentido um poder primitivo inundar aquelas palavras. Sem demora, aquela forma caminhou para perto de Turvan e desapareceu.

Totalmente tremula traguei o ar. A dor dos meus ferimentos havia desaparecido por completo, como que em algum momento eu tivesse roubado a cura milagrosa dos Licans para mim. 

Com essa descoberta voltei meus olhos para o Lobo, rebatendo sua expressão de contentamento com um olhar frio.

Sem dizer uma palavra eu me levantei e andei até o corpo de Ângela, arrancando a adaga de prata que nenhum Lican tinha ousado encostar, então voltei a caminhar até o Lobo, enfrentando seu olhar de interesse. Ele havia ficado em pé no meio tempo que fiz meu pequeno passeio.

- Pense bem no que pretende fazer, Aysha. - Disse, o leve roçar de sua magia acertou minha nuca, um aviso. Eu o ignorei, assim como ignorei o olhar confiante em seus olhos. 

- Sou uma mulher de palavra Lobo, deveria ter aceitado minha proposta quando era tempo. - Falei, recordando-me muito bem de minhas palavras no primeiro desafio que tinha me posto 'quer saber quem sou? sou a maldita garota humana que vai dar cabo de cada Lican desse lugar se continuar a me provocar'. - Essa sua confiança exacerbada é tão irritante. - Disse, parando a sua frente, ele ainda segurava o tecido que tinha usado para estancar o sangramento em minha cabeça. 

- Este é o ultimo sangue que vai arrancar de mim. - Falei pausadamente, tomando cuidado para deixar minha voz neutra. 

- Não me culpe pelas atitudes impulsivas que toma, senhorita Nowak. - Disse, largando o tecido, que pousou confortavelmente no chão empoeirado, detive meus olhos sobre aquilo por algum tempo.

 Ele sabia, maldições ele sabia o que eu queria fazer naquele momento, com mais seguridade apertei a adaga em minha mão e fechei os olhos, concentrando-me nas palavras que diria em seguida. 

- Você me machucou pela ultima vez. - Falei, então levantei aquela adaga e o cortei no ponto exato de onde havia o ferido pela primeira vez, no meio da floresta que cercava o Limite. Não pude abrir os olhos até sentir seu sangue gotejar em minha mão.

Covardemente dei minhas costas para ele, o corte não passaria de uma linha rasa em sua pele depois de algum tempo, mas aquela marca nunca sumiria. Arrisquei um passo em direção a porta.

- Acredito que pensa que finalmente encontrou sua coragem, Aysha. - Falou rispidamente.  - Então darei algum tempo para que tente escapar sem consequências do caminho que escolheu trilhar. 

Continuei caminhando, passando sobre o corpo de Turvan, depois sobre o corpo de Ângela.

- Não pode fugir para sempre, senhorita Nowak. - Disse por fim.

Eu parei, olhando para trás uma única vez.

- Muito pelo contrario, Raymond. - Fiz questão de pronunciar seu nome. - Não estou fugindo, apenas cansei disso, assim como de seus jogos e ocultações, você  sempre me tratou como se me possuísse. Mas eis a verdade, você não me possui e sempre soube disso, pois esse é o motivo que precisa de mim. Nenhum de vocês pode me controlar. Você sempre fez de tudo para ocultar isso de mim, mas precisava que eu descobrisse essas habilidades para seu plano. Seu erro foi me tratar dessa forma, te dei a opção de negociar, mas você preferiu me subjugar pela força. 

Sorri. Verdadeiramente pela primeira vez em muito tempo.

- Eu te agradeço por isso. - Falei ainda mantendo meu sorriso. - Você fez com que eu descobrisse meu próprio poder.

- Não sou o vilão, Aysha. Você não conhece o mundo lá fora. - Falou.

- Então, já passou da hora de descobrir. - Falei, voltando a caminhar. - Adeus Raymond Mondavarius, mande seus lobos atrás de mim e eu os mandarei de volta em pedaços.

***

N.A: Desculpem, não tenho nenhuma justificativa boa o suficiente para o meu sumiço. É isso. Agradeço por continuarem a ler, mesmo depois de todo esse tempo. 

VermelhoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt