I13I - Visitas indesejadas

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- Então agora que temos as roupas e que não serei mais uma vergonha aos seus olhos, vai me contar seu alvo? E porque tenho que ser eu a fazer essa tarefa? – Perguntei. Ele me jogou uma olhadela antes de voltar para sua janela. Era sempre assim tão reservado? Se não o tivesse visto naquele salão de ossos diria que até mesmo com seus olhos infernais ele não pareceria tão ameaçador.

- Mesmo que conte você não seria capaz de entender. – Falou. – Há assuntos mais complexos do que sua interpretação como humana poderia lidar.

- Me acha estúpida. – Afirmei.

- Se achasse não teria a escolhido, a principio por não servir aos meus objetivos...

- Que são? – Indaguei.

- É uma mulher tão barulhenta, Aysha. – Falou acenando com a cabeça, uma mecha curta caiu à testa se desprendendo do rabo de cavalo que tinha feito.

- E você é um ho... – Não continuei, ele não era exatamente um homem, era?

- Não, não sou um homem. – Falou, pude ver aqueles olhos ganharem luz própria outra vez, ele tinha retirado os óculos quando entrou na carruagem. – Esta certa em recobrar disso.

Baixei meus olhos para o colo, muitas coisas tinham acontecido nesses três dias, manter minhas noções era importante, mesmo que ele tivesse me salvado mais cedo, ele era o Lobo. Ele era o inimigo.

- Porque quer matar essa pessoa? – Perguntei, se precisava de tanto planejamento para fazê-lo a ponto de criar um falso noivado tinha que haver uma grande historia por trás.

- Não preciso de motivo para matar. – Falou e com isso desistir de lhe perguntar mais alguma coisa. Ele era o monstro no final de tudo, porque desejava sê-lo. Os sacrifícios, forjar uma noiva de mentira, nada fazia sentido.

A carruagem parou.

- Espere aqui, não devo me demorar. – Disse, saindo da carruagem em direção a lugar nenhum, tínhamos parado perto de um jardim. Pessoas caminhavam presas em seu próprio mundo, sorrindo, conversando, amando. Esperei uma pontada de inveja alfinetar meu coração, ela não veio.

Dei um pequeno sobressalto quando ele voltou minutos depois. Tinha um saco de papel em uma das mãos, ele esticou o saco em minha direção. Olhei suspeita do saco a ele.

- Pegue logo. – Falou, obedeci hesitante.

Abri o saco apreciando o cheiro doce que seu conteúdo exalou, dentro pequenos bolinhos cobertos por açúcar esperavam para serem devorados. Peguei um mordendo a metade, poderia ter o devorado inteiro.

- Isso é delicioso. – Falei, empurrando as migalhas com o dedo de volta a boca, os lambi em seguida aproveitando o açúcar.

Era tão raro ter açúcar na vila, não despedaçaria nenhuma grama. Comi o que tinha sobrado do primeiro e logo peguei outro, já ia no quarto quando me dei conta do que ele havia feito.

Estava sendo gentil novamente.

- Obrigado. – Sussurrei.

- É dever de um noivo cuidar de sua prometida. – Falou despreocupadamente.

- Não precisa fingir para mim. – Falei mastigando outro bolinho.

Se queria jogar esse jogo para os outros tudo bem, mas eu sabia suas intenções ou pelo menos o principio delas. Fingir sobre isso era irritante.

- Quantas vezes precisarei falar para que entenda que não é uma farsa? – Afirmou, de repente bem próximo de mim, recuei para meu banco encostando as costas nele.

VermelhoWhere stories live. Discover now