I42I - Defeitos pt. 2 e I43I - Apresentações

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Era uma mecha de cabelo.

Tão vermelha se destacando contra o fundo claro da caixa. Tão sangrenta que em sua ponta havia um pedaço de escalpo. Eu recuei daquela visão horrenda, meu peito subia e descia de repente.

Só havia duas pessoas a qual eu conhecia com cabelos ruivos e vibrantes, mas só havia uma que eu tinha dito proteger, que deixei para trás sem remorsos, acreditando que depois de matar Ângela ele estaria seguro.

- Kay... – Sussurrei, olhando de relance para minhas mãos, onde finos vergões vermelhos dos ferimentos que ele havia tratado pareciam uma lembrança distante.

- Elikham suspeitava que houvessem mais traidores infiltrados no clã, devem ter o pego quando parti para encontrá-la. – Raymond revelou, fechando a caixa com um baque. Um dos empregados silenciosamente recolheu o objeto e o levou para longe

- Temos que resgata-lo. – Falei, encontrando seus olhos com determinação.

- Gosto do seu entusiasmo, senhorita. – Interrompeu Edmon, descendo a escadaria de uma forma teatralmente solene. Era inegável a familiaridade entre ele e Raymond, o formato do rosto e os mesmos cabelos escuros. – Mas isso é exatamente o que Ulrik espera, e os Deuses Maiores e Menores sabem que ele é bastante ardiloso para fazer o que for necessário aos seus objetivos. E no momento... – Ele fez uma pausa, seus olhos se demoraram sobre mim antes de irem até Raymond. – Suponho que saibamos o que ele quer.

Como eu sabia que o que mais queria, em retribuição, era enterrar uma faca de prata no coração de Ulrik. Kaydor tinha sido a única pessoa a me tratar de forma gentil quando cheguei no covil do Lobo, mesmo em desvantagem numa hierarquia absurda de Licans que só valorizavam a força bruta, ele havia me ajudado. E eu havia falhado em compensar isso, abandonando-o sem pensar em nada mais do que minha liberdade. Um gosto amargo se instalou na minha boca. É para a senhorita, um agrado do nosso mestre...o mensageiro havia dito. Uma isca. Licans nunca jogam limpo, minha mente relembrou.

- Devo parabenizar Ulrik pela ousadia em furtar um membro do meu clã, o poder deve ter o enlouquecido por achar que uma ofensa ao meu território vai ser apenas um chamariz. – Raymond falou. Percebi que suas palavras não eram vazias de significado, eu podia não entender muito bem a politica Lican, mas sabia reconhecer uma ofensa de sangue e para eles sangue derramado exigia mais sangue. Essa como outras lições, eu havia aprendido na prática.

- Muito mudou desde que deixou a cidade, primo. Os Grandes Mestres não se importam mais em cumprir o Tratado. Ulrik está armando sua guarda, boatos dizem que ele quer independência.

Isso explicava a presença maçante de soldados e a tensão nos cidadãos que vi. Era como se a iminência de um conflito ou perigo deixasse o ar carregado. Poder, senti a caixinha em meu peito sussurrar. Obscureci esse pensamento.

- Do líder supremo? – Perguntei, lembrando-me da conversa que tive com Raymond na carruagem. A hierarquia tinha se tornado clara para mim, haviam os Licans que eram subordinados a um Mestre Lican na organização de clãs selvagens, que por conseguinte eram subordinados ao Mestre da Cidade, e estes por último, eram subordinados ao Líder Supremo de sua Casa, que governava a faixa de território designada pelo Tratado, como uma espécie de rei.

Edmon me olhou com surpresa, Raymond parecia satisfeito.

- Nós o chamamos de Lukoi. Mas sim, é isso. – Edmon falou, trocando olhares com Raymond.

- Então se matarmos Ulrik, quer dizer que... – Engoli minhas palavras, a conexão estava ali. Raymond havia dito que matar o Mestre da Cidade o colocaria mais perto do seu verdadeiro alvo. – Você quer matar o Lukoi, ele é o seu alvo. – Falei, quando ninguém riu de mim, engoli em seco.

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