I25I - Toxina

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Eu me levantei, forçando um passo para esconder a lamina na bota novamente. Não olhei para o Lobo, mesmo consciente de que ele me observava.

Eu simplesmente não sabia o que falar. Um obrigado enquanto eu ainda conseguia ouvir o suave gotejar do sangue em seus dedos parecia profano demais para ser dito. Hipocrisia minha, sim, eu sabia. Também havia sangue em meus dedos e boa parte dele não era meu. O que era bom de alguma forma retorcida.

Na verdade eu ainda estava assustada, não pelo fato de que para ele, era tão fácil ceifar uma vida. Mas pelo nosso falso acordo. Eu teria ido adiante, mesmo que não quisesse admitir, eu seria capaz de matar sem ressentimentos para me proteger.

Mas como eu me protegeria daquilo? Como eu podia ter proposto um acordo quando estávamos tão distantes em nível de poder?!

- Por quê? – Perguntei finalmente, quebrando o silêncio quando fui capaz de falar sem colocar o restante do meu estômago para fora.

- Porque eu o matei? - Ele perguntou. Simples e raso.

Balancei a cabeça, já tinha ouvido seus motivos e por mais terrível que parecesse, eu simplesmente não conseguia me importar com a morte de alguém que havia tentado me matar.

-Por que eles acharam que poderiam o derrotar quando você pode apenas os subjulgar e arrancar suas gargantas fora? – Falei, criando coragem para enfrentar seus olhos. E lá estavam, mais anormais que sua cor natural, vermelhos como o sangue em nossas mãos.

Quando ele não me respondeu arrisquei um passo, dissipando a tensão em meu corpo.

- O que não está me contando Lobo? Eles disseram que eu o tinha enfraquecido! Pensei que fosse pela flecha de prata, mas não foi isso, não é?! Porque realmente precisa de mim? – Insisti, continuando a andar em sua direção à medida que falava.

Ele permaneceu em silêncio, sendo sua vez e talvez a primeira vez que ele desviou seu olhar. Isso me deteve, antes mesmo que ele pronunciasse as próximas palavras ou que seus olhos tivessem voltado à cor original.

- Meu julgamento foi precipitado, não achei que Barno tramaria usando você como um meio para me atingir. Acredito que dessa vez tenho alguma culpa sobre essa situação.

Minha boca caiu aberta, ele não podia estar falando sério.

- Dessa vez?! - Eu quase gritei. – É a quarta Lobo! A quarta maldita vez que quase morro por sua culpa. Sabe isso realmente me deixa mais tranquila, agora posso parar de pensar em você arrancando minha garganta, porque sei que vou morrer bem antes disso. Em mais uma dessas situações – fiz aspas com os dedos – não causadas por você! E mais uma coisa eu não precisava que tivesse vindo, estava lidando muito bem sozinha com ambos! – Antes que percebesse estava batendo meu dedo em seu peito, face a face, encarando furiosamente seu rosto neutro. – Não pense que serei grata por isso. – Falei por fim, dando um passo para trás. Ele segurou meu braço, antes que eu completasse o movimento. E me puxou de forma bruta, até que meu corpo estivesse junto ao seu.

- Não quero que seja grata. Não me importo com o que pensa de mim. Ou mesmo se me odeia. Continue a endurecer seu coração, se necessário. A única coisa que quero de você é que continue viva até completar meu objetivo. – Disse, falando em meu ouvido. Trinquei meus dentes, incomodada com sua força. Incomodada que estivesse cansada e sagrando o suficiente para não lhe oferecer resistência.

Eu já estava pronta para amaldiçoá-lo quando ele me soltou rapidamente, me empurrado para trás.

Antes que eu caísse em uma poça sanguinolenta, só pude pensar em como era estúpida. A acreditar mesmo que por um momento, que o Lobo até teria me trancafiado para minha segurança.

VermelhoWhere stories live. Discover now