Capítulo 30

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Foi assim que começamos a conhecer melhor a Sabrina, graças a dois veículos atolados, uma tempestade e uma casa sem eletricidade. E se isso tudo não tivesse acontecido, não só não teríamos conhecido melhor a Sabrina, mas também as circunstâncias da fazenda.

Com os primeiros raios de sol já estávamos de pé, procurando tábuas para calçar os pneus dos carros. Mas encontramos algo mais.

- Gente! Olha o que eu achei! – gritei, com uma gaveta da cômoda aberta. Todas acudiram para ver do que se tratava. Eram fotos antigas; havia uma foto do vovô e da vovó juntos, duas fotos do papai ainda bebê, algumas fotos do papai com uns dez anos de idade, e uma foto de sua formatura. Havia também uma foto antiga de uma mulher jovem, que, pelos nossos cálculos, concluímos não ser a vovó.

- Deve ser uma namorada do vovô – disse Débora.

- Vocês vinham muito a esta fazenda? – perguntou Sabrina, ao ver uma foto de quando Débora e eu éramos crianças, junto com o vovô e outra menina, que não sabíamos quem era.

- Todos os anos, – disse Débora – até o vovô se mudar para a cidade.

- Foi quando sua avó faleceu que ele se mudou? – perguntou Denise.

- Não, – Débora respondeu – quando a vovó faleceu nós ainda não havíamos nascido. Só a conhecemos por fotos. O vovô se mudou por causa de uns problemas de saúde. Papai não gostava da mulher com quem ele vivia, e deixamos de frequentar sua casa. Há anos não vejo o vovô.

- E eu me sinto muito mal de só procura-lo para resolver questões de herança.

- Isto não é sobre uma herança, - disse Sabrina – mas sobre consertar os erros do filho dele. Tenho certeza de que ele vai entender.

Denise, então, sentou-se, e comentou:

- Alguém tem algo para comer? Eu estou me sentindo muito fraca, e com fome.

- Você não trouxe comida? – perguntou Débora – Uma gestante não deve passar muito tempo sem se alimentar.

- Os salgadinhos acabaram? – Denise perguntou.

- Sim. – E, olhando pela porta aberta, comentei - Talvez haja alguma fruta numa árvore lá fora.

Sabrina e Débora continuaram procurando calços para tirar o carro do atoleiro, enquanto eu saí para procurar frutas. De fato, havia muitas árvores, mas a maioria delas não era frutífera. Por sorte avistei uma mangueira carregada mais ao longe. E caminhei até lá por entre o mato, pisando com cuidado, e pensando que aquele lugar não costumava ser frequentado, e que eu não me lembrava dali.

Logo voltei com várias mangas, e encontrei as três ao redor dos carros, já envolvidas no processo de colocar as tábuas sob os pneus.

- Vocês estão percebendo que esta não é a casa antiga do vovô?

Débora comentou:

- É verdade... a casa tinha um alpendre.

- Será que estamos no lugar certo? – perguntou Denise, retirando duas mangas dos meus braços, e sendo imitada pelas outras.

- Assim que tirarmos os carros daqui vamos voltar à estrada e subir pelo outro caminho – disse Sabrina – porque eu acho que vocês fizeram a curva no lugar errado.

- Precisamos ser rápidas – falei, checando as nuvens – porque parece que vai voltar a chover.

Depois de chupar as mangas, começamos a trabalhar para tirar os carros. Começamos pelo carro da Débora, porque a Sabrina reclamou tanto que achamos que se a ajudássemos ela iria embora e nos deixaria sozinhas com o outro veículo. Em parte, eu entendia suas reclamações, mas não concordava. Ela disse que não tinha carro, que teve que pedir para vir com a Denise porque não tinha carro, que nunca tinha conseguido comprar e nosso pai nunca a ajudou a comprar um carro velho, enquanto eu havia ganho um carro novo sem esforço algum.

Contrata-se, com ExperiênciaWhere stories live. Discover now