Capítulo 24

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                           Depois de chorar a noite inteira ao ver que perdera não só meu pai, mas toda a minha família, despertei no domingo com uma nova atitude: ser feliz com a família que me acolhera. Fui para a casa do Bruno e da Manu para ir com eles para a horta. Passei a manhã inteira trabalhando com eles, e, apesar de muito cansada, eu gostei muito do tempo que passamos juntos. Manu disse que o contato com a terra e com as plantas fazia bem.

                            Dona Silvia colocou o almoço numa mesa de madeira sob um caramanchão coberto por trepadeiras. O namorado da Nina também almoçou conosco. Nesse dia, pela primeira vez, ele estava falante, e contou sobre seu trabalho: ele tinha uma empresa de manutenção de bicicletas. Imaginei-o com a barba cheia de graxa, numa oficina apertada com peças pelas paredes, mas ele contou sobre os cursos que ministrava e os serviços que prestava para clientes que tinham bicicletas mais caras que seus próprios carros. Eu comentei, então:

                            - Vocês e seus amigos têm empregos tão descolados!

                           Eles acharam o comentário engraçado, e começaram a falar das profissões de alguns de seus amigos: tatuadores, ilustradores, contadores de histórias, construtores de brinquedos...

                            - O mais legal é o trabalho da Pétala - disse a Manu - ela é consultora de bem-estar!

                            - Como assim? - perguntei, rindo - O que é isso?

                            - Ela trabalha com terapias alternativas, óleos essenciais, e dá palestras motivacionais em empresas.

                             - Com um nome desse, só podia ter um emprego assim - comentei.

                             - A Pétala é filha da Brisa! - disse Manu, para me divertir com o nome. Mas não teve esse efeito.

                             Brisa. Será a mesma Brisa? Como eu poderia saber?

                             - E tem a minha amiga Liliah, que dá aulas de dança espontânea.

                            - É "Liliá", mesmo? Pensei que fosse Lilian... E como se ensina dança espontânea? Isso não é uma contradição?

                             - Vou levar você para fazer umas aulas com ela - disse Manu, ainda dando risada - mas a Nina não gosta nada desse tipo de dança.

                             Ao invés de responder ao comentário, Nina perguntou, de repente, como se estivesse apenas esperando a oportunidade:

                           - E você, Joana, pretende trabalhar no quê?

                           - Quero passar em um concurso - respondi, meio hesitante. Era a primeira vez que eu não dizia decididamente "quero ser concursada".

                           - Concurso de quê? - seu namorado perguntou.

                           - Qualquer coisa... quero ter estabilidade e independência financeira.

                            - Tá, mas, fazendo o quê? - ele insistiu.

                           - Qualquer coisa! - não era óbvio?

                           - Então, se você for concursada num emprego que te deixa infeliz, tudo bem? - Nina perguntou.

                           - Por que eu seria infeliz, sendo concursada?

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