Capítulo 22

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                               Se você espera receber um abraço efusivo da mãe que não vê há semanas, você está pensando em outra mãe. A minha apareceu com o ar desgostoso de quem está num lugar muito contrariado. Ao me ver, olhou imediatamente para o Bruno, e voltou a me olhar, como quem me julga. E começou a falar mal do País, da alfândega, do voo.

                                - Basta o avião chegar aqui e tudo já para de funcionar direito. - E, mais uma vez olhando o Bruno, para, em seguida, olhar para mim, perguntou, simplesmente: - Quem é?

                                - Este é o Bruno, irmão da Manu, amiga da Débora - respondi, enquanto ele estendia a mão que ela apertou sem abrir mão do olhar de julgamento.

                                - Eu não sabia que você estava namorando.

                                - Não estou namorando, mãe! - suspirei, irritada - Ele está me fazendo um favor.

                                - Ah. É Uber?

                                 - Não, mãe! 

                                 Mas antes que eu pudesse explicar ela voltou a falar do voo, dizendo que ia abrir uma reclamação contra a companhia aérea por algum motivo sem sentido, enquanto nos dirigimos ao estacionamento. Quando abri o porta-malas, a surpresa: eu havia esquecido que o carro ainda estava cheio de caixas com objetos pessoais e livros, e ainda por cima com pneu novo que eu comprara e ainda não havia colocado no lugar do estepe porque era muito chato tirar tudo e colocar de volta. 

                                 - É assim que você espera me levar para casa?

                                 - Não se preocupe, a gente dá um jeito - disse Bruno, e começou a reorganizar as caixas, tentando aproveitar mais espaço. 

                                 - Você não se mudou ainda, por quê? Não está no apartamento que seu pai arranjou?

                                  - Não, mãe. Estou na casa da família do Bruno.

                                  Mais uma vez minha mãe olhou de canto de olho para o Bruno.

                                  - É melhor colocar a mala na parte interna - minha mãe disse, indo sentar-se no banco dianteiro. Eu, sem disposição para perder minha madrugada naquele estacionamento, aceitei a oferta do Bruno de ir no banco traseiro com a mala da minha mãe no colo. E minha mãe aproveitou para ignorar completamente a presença do Bruno naquele veículo durante o caminho para o apartamento da Débora, onde ia ficar. Por sinal eu não sabia onde era, mas ela me explicou, e segui apressadamente, disposta a me livrar o quanto antes da passageira inconveniente. Eu até tentei aproveitar para tentar esclarecer alguns aspectos, mas minha mãe só respondia as perguntas que a interessavam.

                                  - Escreva o que eu estou dizendo - minha mãe declarou, com dedo em riste - vocês não vão ver nem a cor do dinheiro do seu pai. O que não foi confiscado pelo governo nem pelos credores, vai ser confiscado pelas amantes. E você vai ficar morando embaixo da ponte se não for atrás do que é seu por direito!

                                   - Não fala assim, mãe... - eu sabia que não ia conseguir evitar que ela falasse assuntos pessoais na frente do Bruno, mas de vez em quando eu tentava mudar de assunto ou amenizar a fala. Ela não entendia, ou fazia de conta que não entendia as indiretas.

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