Capítulo 11

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               Nos dois ou três dias que se seguiram tudo foi mais ou menos igual: meu pai não respondia minhas mensagens, não aparecia em casa, nem dava notícias; a Brenda falava em seu namorado, e em arrumar um estágio; a Débora, eu mal via, envolvida com namorado, estágio e formatura; eu perdia o sono procurando um jeito de ganhar dinheiro – não necessariamente através de um emprego: podia ser, também, encontrando um italiano que me levasse embora para a Itália, largando faculdade, e meu pai, e as entrevistas, tudo para trás.

               Era a última semana de aulas, e havia uma normalidade geral, que precedia uma série de mudanças: logo teríamos as provas; e eu completaria dezenove anos; e minha mãe iria embora para a Europa; e minha irmã ia se formar...

               Mas, agora que me lembro, uma coisa já estava diferente... Brenda não pegava mais carona comigo. Dizia que ia esperar o namorado passar por lá após as aulas para almoçarem juntos. Lembro que perguntei o nome do namorado, e ela disse que se chamava Fábio. Mas tenho quase certeza de que ela já tinha dito anteriormente que o nome dele era Flávio.

               Na véspera do último dia de aula o Edgar me mandou uma mensagem me convidando para sair com ele naquela noite. Ele nunca havia me convidado para nada assim. Na época da escola eu costumava ir estudar na casa dele, depois víamos um filme, e sua mãe nos fazia pipoca. Eu não o chamava para ir à minha casa porque eu não queria que ele presenciasse as brigas dos meus pais. E, também, porque meu pai não gostava dele, então certamente iria tratá-lo mal.

                Mas naquele dia era diferente. Era um convite tão... adulto! Era o primeiro convite que eu recebia para sair com um rapaz! Tudo bem que o rapaz era o Edgar, então não era o mesmo que ser convidada por um homem. Mas eu só saía à noite com as meninas da faculdade, nunca com um menino. Aproveitei para pedir socorro à Brenda para me emprestar uma roupa.

                – Você já me devolveu aquelas que eu te emprestei? – ela me perguntou, como se puxasse pela memória.

                  – Já, sim. E eu acho que ainda tem roupa minha com você. – Comentei, meio que intimando.

                  – Tem certeza? – ela franziu mais a testa, apertando bem os olhos, como se não se lembrasse. ­

                 – Tenho.

                 – Tá, quando eu for em casa eu vejo.

                Foi aí que caiu a ficha.

                – Você não está mais indo dormir na casa da sua mãe?

               – Ah! Não te contei, né? Aluguei um apartamento.

               Agora já estava até mafioso. A Brenda "se esqueceu" de me contar que saiu de casa?

               – Não contou, não! Nossa! Onde você está morando?

               – Ah, é numa quitinete. Depois vamos fazer um chá de casa nova! Por enquanto só tenho um colchão e um frigobar. Mas já é um começo, né?

               Meu telefone chamou e a Brenda aproveitou para se despedir com um aceno e fugir.

               – Joana? É a Manu!

               – Oi, Manu! – finalmente alguém com quem eu realmente tinha interesse em falar! ­– tudo bom com você?

               – Tudo! Flor, falei com a Débora agora, e ela me disse que você ainda tá procurando emprego, é vero?

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