Capítulo 14

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                Queria muito conversar com alguém, mas eu estava exausta. Fui direto para casa. Quando cheguei, da porta pude ouvir os gritos dos meus pais. Teria dado meia-volta se tivesse dinheiro e um lugar para ir, mas eu também precisava falar com meu pai, por isso entrei. Eles continuaram berrando, ignorando minha entrada, mas quando eu estava chegando ao quarto meu pai gritou por mim.

                 - Que foi, pai?

                 - Temos uma situação para resolver – ele disse.

                 - Quem tem que resolver é você – minha mãe gritou – foi você quem causou tudo isso.

                 - Não se meta! – meu pai gritou.

                 - Ela é minha filha, também! – minha mãe berrou de volta.

                 - Que você está abandonando!

                 - Olha só quem fala!

                 Débora entrou a seguir, e gritou:

                 - Gente, dá para ouvir esses berros do elevador! Podem parar com isso, e discutir como gente civilizada?

                 Não adiantou muito o pedido, mas vou resumir os gritos e ir direto ao que interessa.

                 - O apartamento foi vendido, e nós vamos nos mudar – explicou meu pai.

                 - Para onde?

                 Minha mãe respondeu:

                 - Bom, EU vou para a Itália... a Débora vai morar com o Flávio, e o seu pai já está morando com a amante há muito tempo.

                 - E eu?

                 - É isso que eu estou dizendo a seu pai; ele não pode deixar no meio da rua.

                 - É claro que ela não vai ficar no meio da rua! – ele gritou, mas minha mãe o interrompeu:

                  - E ela vai morar onde, com você e sua amante? Se você pagou uma casa para ela até agora, pode pagar uma casa para sua filha!

                  - Eu não tenho como pagar; será que você não está entendendo?

                  - Gente, o que é que está acontecendo? – perguntei, já chorando. Eu estava muito fragilizada nos últimos meses, com todos esses problemas financeiros, e as lágrimas saíam facilmente. Mas, naquele momento, era como se tudo aquilo que eu tinha tentado ignorar, achando que ia se resolver sozinho, estivesse explodindo de uma só vez, e um choro profundo e incontrolável estava explodindo.

                  – Meu sócio me deu um golpe; saiu do escritório e levou meus maiores clientes. Estamos endividados, e eu vendi o apartamento – preciso do dinheiro, urgente, e já estava devendo muitas prestações. Então agora precisamos sair daqui o quanto antes para entregar as chaves, ou vou pagar uma multa contratual altíssima.

                   – A Débora já vinha se organizando para morar com o Flávio há algum tempo – minha mãe continuou, enquanto minha irmã permanecia calada, de braços cruzados, olhando para o chão –, então falta encontrar um lugar para você morar.

                   – Parece que tudo isso vem acontecendo há um bom tempo, então? - Eu falei, olhando para cada um deles - Por que vocês não me avisaram antes?! Antes de vender o apartamento, antes de tirar a placa com nome do Torres da frente do escritório, antes de cada um arranjar outra pessoa para morar e me deixar sozinha?!

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