Capítulo 8

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                O pior de fazer uma péssima prova é ter que responder às pessoas como foi a prova. Quem é que vai dizer "fiz uma ótima prova", e estragar sua possibilidade de êxito com a inveja que essa resposta gera? E quem é que vai dizer "fiz uma péssima prova" para ouvir um monte de críticas, ou, pior ainda, consolos antecipados, que também são pura má sorte? De todo modo, se não saiu o resultado, não tenho como saber como foi a prova, né? Então essa pergunta é a maior tolice do mundo. Calculo que vou ter que ouvi-la pelo menos dezesseis vezes, mais ou menos metade do que ouvi na primeira vez que prestei o exame.

               – Como foi a prova? - perguntou minha mãe, assim que pus o pé em casa. Péssima, mãe. Péssima! Pior que a anterior!

               – Foi boa.

               – Não se preocupe. Se você não passar – lá vem a uruca - seu pai vai ter que pagar sua faculdade. Ele não pagou a da filhinha querida dele? – isso é a Sabrina? - Agora, que se vire!

               Faz sentido.

               Logo depois a Débora chegou. Adivinha o que ela perguntou?

              – Como foi a prova?

              Ótima, Débora. Ótima! Jamais vou dar o braço a torcer!

              – Boa.

              – Tudo bem. Se você não passar - sai pra lá, mau agouro! - a gente pensa numa segunda opção.

              Segunda opção?!

              – Segunda opção?

               – É, ué. Um curso menos concorrido, que você pode entrar com a sua nota.

               Isso é pra quem não sabe o que quer! Eu sei o que eu quero.

                – Eu tenho uma segunda opção: continuar na faculdade.

                – Mas o papai não tem como pagar a faculdade!

                – Ele vai ter que dar um jeito! – gritou a mamãe, sem tirar os olhos do celular.

                – EU vou pagar a minha faculdade – falei, colocando a mão no meu peito, para enfatizar ainda mais a responsabilidade que eu estava assumindo. – Vou pedir um financiamento estudantil, e vou arrumar um emprego. Não quero depender mais de ninguém.

                   Débora sorriu com incredulidade e minha mãe riu com sarcasmo. Eu não precisava daquilo. Fui para meu quarto, de volta à busca por emprego. Eu já havia enviado para todas as vagas no site em que estava cadastrada, mas comecei ampliar a busca. Desta vez enviei mensagens a todos os meus amigos para avisar que estava precisando de indicação de vagas. Aproveitei para enviar uma mensagem para a Manu. Pois é, eu também estava pensando no irmão dela. Não que ele fosse um gatinho – até porque eu mal olhei para ele – mas eu não tinha namorado há tanto tempo que agora era uma das minhas prioridades, logo depois do emprego. Eu não tinha o celular da Manu, mas ela tinha uma conta nas redes sociais, então procurei nos amigos da Débora e logo encontrei, cheio de fotos de comunidades alternativas e coisas naturebas. Era essa, sem dúvida. Uma das fotos me chamou a atenção pela legenda: "vivência de yoga com Brisa e Liliah". Bom, Liliah devia ser erro de digitação para Lilian, mas Brisa era o nome do pivô de uma das separações dos meus pais. Quantas Brisas existem? Enfim, mandei a mensagem para a Manu, com o mesmo texto que mandei a todos os meus amigos: "se souber de alguém precisando de uma profissional sem experiência, to precisando de emprego. Topo tudo!" Acrescentei meu número de celular, e enviei. Em seguida fui fuçar as fotos do seu perfil. Descobri que seu irmão, que se chama Bruno, cultiva orgânicos, e é um dos fornecedores do espaço de alimentação da sua mãe. A Manu também trabalha lá, na cozinha. Será que eles precisam de garçonete? Quanto será que uma garçonete ganha? Será que o Bruno tinha namorada? Havia uma loira em algumas fotos com ele, já comecei a ficar com ciúmes da criatura sem nem saber quem era.

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