Capítulo 29

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                      Faz uma semana que não escrevo nada porque as coisas estão bem corridas por aqui, como você bem sabe. Não há muito mais a dizer, porque, depois que saímos dessa casa, você já sabe tudo o que aconteceu, já que foi você que nos encontrou e, depois, disso, nos ajudou a cuidar de tudo. Mas vou lhe contar como foram esses dias na casa abandonada, porque foram muito importantes para mudar o rumo dessa história.

                       A chuva caía pesada lá fora, e eu vi minha irmã surtando como nunca tinha visto antes. Ela andava para lá e para cá feito um siri numa lata. A principal preocupação dela era que não queria passar a noite naquela casa. Eu não estava tão preocupada assim; afinal, tínhamos um teto para uma noite de chuva, e imaginava que logo o vovô chegaria, de preferência com uma empregada para limpar toda aquela poeira. Só depois de perceber a inutilidade do seu pânico e parar para raciocinar foi que Débora compartilhou tudo o que a afligia tanto.

                        - A gente não pode perder tempo. A Sabrina vai causar um grande problema se envolvendo nessa negociação. - E, depois de pensar um pouco, respirou fundo e disse: - Joana, eu nunca tive uma relação muito boa com seu pai, você sabe, até que ele adoeceu pela primeira vez. Naquela época eu fiquei com ele porque a mamãe estava cuidando de tudo sozinha; você estava estudando para o ENEM pela primeira vez, e ainda era muito nova, então deixamos você de fora. Mas foi por causa desse contato que eu tive com ele que acabei sabendo de muita coisa. 

                         - Tipo o quê?

                         - Tipo... como ele se casou com a Letícia Amendoeira por interesse.

                         - Ele disse isso?

                         - Não com todas as letras, mas deu a entender. Ele era apaixonado pela Brisa. Só que ela não sabia o que queria da vida, e ele tinha vindo do interior para fazer a vida. Ele não podia errar, e tinha na cabeça que se casasse com uma mulher pobre como ele, ia ser uma vida tão sofrida quanto a que ele tinha aqui, com o vovô. A Letícia era uma menina rica; ele encarou como uma oportunidade. Ele conseguiu tudo o que não tinha: casa, emprego, prestígio, de uma só vez. Só que ele continuava apaixonado pela Brisa. 

                          - Mas a Brisa me disse que não teve nada com o papai...

                         - Isso é o que ela diz, né? Mas, pelo menos nessa época, talvez não tenha tido nada, mesmo. A questão é que o papai não estava feliz com a Letícia, e acabou se envolvendo com a secretária do escritório.

                         - Ah. A tal Irlene.

                         - Isso. Aí você sabe: ele se divorciou e se associou a outro advogado, o Dr. Torres. Sem o apoio e o nome do Dr. Amendoeira, que ficou ofendido com o que o genro fez, o escritório ia perder todos os clientes - mas tudo ficou bem, graças ao relacionamento do Dr. Torres com o Dr. Amendoeira. Foi ele quem intermediou as relações para que o papai continuasse bem visto no meio jurídico. O problema é que o Dr. Torres era envolvido com muita coisa errada. Falsificação de documentos, compra de sentenças, tudo o que podia ser feito de ilícito no meio jurídico eles faziam.

                         - Nossa! Que horror! 

                         - Pois é, e durante muito tempo isso foi dando certo. O papai ganhou muito dinheiro com isso, mas, para manter uma imagem de advogado bem-sucedido, ele gastava muito, também. Ele se endividou muito, e, quando alguns esquemas foram desmontados, ele perdeu tudo. Foi aí que ele adoeceu e me contou muita coisa...

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