Capítulo 27

15 2 0
                                    


                          Naquela tarde, Manu subiu com o professor de empreendedorismo, um professor universitário chamado Guerra, e a Brisa aproveitou para se despedir. Manu me apresentou ao professor e propôs que eu ficasse para o curso. Eu não estava com a menor vontade, mas acabei ficando. O público do curso foi bem diversificado, e diferente do que estivera nos cursos anteriores: basicamente eram homens e mulheres que já haviam trabalhado por muito tempo como empregados de empresas e agora estavam abrindo seus próprios negócios. O mais novo ali devia ter uns 30 anos. Não havia ninguém abrindo empresas "descoladas" como as dos amigos da Manu: duas mulheres haviam adquirido uma clínica de estética; um homem estava abrindo uma pizzaria; uma professora estava abrindo uma creche; e um casal estava montando um negócio de lavagem de estofados em domicílio. Eu não estava abrindo negócio algum, nem tinha a intenção, mas fiquei ali porque não tinha forças para sair. Não consegui nem inventar uma desculpa para a justificar à Manu que eu não poderia ficar para a aula. No final das contas, mais uma vez, eu gostei muito das explicações e comecei a me ver em muitos negócios - em todos eles, talvez. 

                         Quando a aula terminou, o restaurante estava fechado (não funcionava na segunda-feira à noite) e me sentei para jantar com Bruno, Manu e Nina. Perguntei à eles, em tom de brincadeira:

                          - Se vocês seguissem seu coração, onde vocês estariam?

                         Todos sorriram, e Manu respondeu logo:

                         - No Quênia, trabalhando com comunidades carentes.

                         - Eu estaria dançando em uma produção teatral, em algum lugar - respondeu Nina.

                         - Eu estaria lá na minha horta, mesmo - disse Bruno, com simplicidade - montando meu apiário.

                          Fiquei desconcertada com as respostas. Todo mundo sabia exatamente o que gostaria de estar fazendo, menos eu!? Manu fez a pergunta que eu estava temendo:

                           - E você?

                           - Esse é o problema. Eu não sei. 

                           - Não estaria fazendo Direito?

                           - Não sei. É isso que eu quero descobrir. - Depois de pensar um pouco, perguntei:

- Como você conheceu a Brisa, Manu?

                            - Eu estudei Psicologia com a Pétala.

                          Nina olhou de canto de olho para o Bruno. Bruno pareceu esconder o olhar no prato de sopa.  

                          - O que foi?

                         - A Pétala era namorada do Bruno - disse Nina.

                        - Ah, foi? E o que houve? - Perguntei, tentando parecer interessada e desinteressada ao mesmo tempo.

                        Bruno não respondeu. Manu olhou para ele, olhou para Nina, mas esta parecia decidida a esclarecer as coisas:

                        - Bruno é muito lento para essas coisas. Ficou esperando demais, perdeu o lugar.

                        Bruno se levantou e levou o prato para a cozinha. Aproveitei para perguntar:

                        - Ele ainda gosta dela?

Contrata-se, com ExperiênciaDove le storie prendono vita. Scoprilo ora