Naquela tarde, Manu subiu com o professor de empreendedorismo, um professor universitário chamado Guerra, e a Brisa aproveitou para se despedir. Manu me apresentou ao professor e propôs que eu ficasse para o curso. Eu não estava com a menor vontade, mas acabei ficando. O público do curso foi bem diversificado, e diferente do que estivera nos cursos anteriores: basicamente eram homens e mulheres que já haviam trabalhado por muito tempo como empregados de empresas e agora estavam abrindo seus próprios negócios. O mais novo ali devia ter uns 30 anos. Não havia ninguém abrindo empresas "descoladas" como as dos amigos da Manu: duas mulheres haviam adquirido uma clínica de estética; um homem estava abrindo uma pizzaria; uma professora estava abrindo uma creche; e um casal estava montando um negócio de lavagem de estofados em domicílio. Eu não estava abrindo negócio algum, nem tinha a intenção, mas fiquei ali porque não tinha forças para sair. Não consegui nem inventar uma desculpa para a justificar à Manu que eu não poderia ficar para a aula. No final das contas, mais uma vez, eu gostei muito das explicações e comecei a me ver em muitos negócios - em todos eles, talvez.
Quando a aula terminou, o restaurante estava fechado (não funcionava na segunda-feira à noite) e me sentei para jantar com Bruno, Manu e Nina. Perguntei à eles, em tom de brincadeira:
- Se vocês seguissem seu coração, onde vocês estariam?
Todos sorriram, e Manu respondeu logo:
- No Quênia, trabalhando com comunidades carentes.
- Eu estaria dançando em uma produção teatral, em algum lugar - respondeu Nina.
- Eu estaria lá na minha horta, mesmo - disse Bruno, com simplicidade - montando meu apiário.
Fiquei desconcertada com as respostas. Todo mundo sabia exatamente o que gostaria de estar fazendo, menos eu!? Manu fez a pergunta que eu estava temendo:
- E você?
- Esse é o problema. Eu não sei.
- Não estaria fazendo Direito?
- Não sei. É isso que eu quero descobrir. - Depois de pensar um pouco, perguntei:
- Como você conheceu a Brisa, Manu?
- Eu estudei Psicologia com a Pétala.
Nina olhou de canto de olho para o Bruno. Bruno pareceu esconder o olhar no prato de sopa.
- O que foi?
- A Pétala era namorada do Bruno - disse Nina.
- Ah, foi? E o que houve? - Perguntei, tentando parecer interessada e desinteressada ao mesmo tempo.
Bruno não respondeu. Manu olhou para ele, olhou para Nina, mas esta parecia decidida a esclarecer as coisas:
- Bruno é muito lento para essas coisas. Ficou esperando demais, perdeu o lugar.
Bruno se levantou e levou o prato para a cozinha. Aproveitei para perguntar:
- Ele ainda gosta dela?
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Contrata-se, com Experiência
Narrativa generaleA vida de Joana Maria é uma sequência de más escolhas baseadas em conselhos errados. Mas nunca é fácil tomar decisões quando não se tem experiência de vida, ou dinheiro, ou uma família que apoie, ou uma bolsa que combine com os sapatos. O livro, co...