Parte Trinta e Seis

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Sicília, Itália. 1998 d.C.


O quarto de Perséfone ali no palácio de Catânia era diferente do quarto que tivera no Mundo Inferior. Esse era em tons de bege claro e branco. Um enorme dossel caia sobre a cama. A deusa estava deitada com as pernas abertas para Pasifae, Deméter segurava sua mão e enxugava o suor da testa com um lenço.

Medeia, Hécate e Circe estavam atrás observando tudo. Mais ao canto Sullivan, fiel companheiro de Perséfone, aguardava para ver o rosto da criança. O que ninguém sabia era que o bebê que Perséfone dava a luz naquele momento era filho do Caçador de Dragões.

— Você consegue minha filha! – Deméter incentivava. – Mais um pouco e a criança sai. Força!

A deusa urrava de dor, uma dor que já sentira diversas vezes. Fazia séculos desde que Perséfone engravidara e não esperava ter mais filhos, mas aconteceu, e no momento mais inapropriado, pois tinha sua cabeça voltada para os planos de derrubar os deuses e dominar o mundo com seu poderio.

O choro começou baixo e tímido, e cresceu gradativamente chamando a atenção de todos do palácio. Sullivan sorriu disfarçadamente ao ver o filho ser enrolado nos lençóis por Pasifae. As feiticeiras logo caíram em cima para apreciar o bebê.

— Deem meu filho. – A deusa pediu para as mulheres. Quando a deusa pegou o menino viu seu reflexo nele. De todos filhos que teve, aquele era o que mais se parecia com ela. – Meu Bruno.

— Ele é tão lindo! – Deméter babava o novo neto. – A criança mais linda que já vi.

— Sullivan, saia do canto. Vai ver a criança. – Hécate chamou o homem.

O Caçador de Dragões apenas assentiu com a cabeça e chegou perto para ver o filho. A criança tinha a pele branca quase como leite e ao abrir os olhos revelou a íris preta como a noite.

A porta do quarto se abriu com tudo, mas quem entrou não foi nenhuma pessoa, foi a fumaça verde que Perséfone já esbarrará, não só ela, mas a maioria das deusas e feiticeiras ali presentes já tiveram contato com o Oráculo. Medeia foi o alvo, a mulher foi possuída pelo profeta:

— A criança com a mãe não poderás ficar. Longe dessa ele há de crescer. Na terra onde o inimigo habita, ou não vingará, para quando crescer um lado escolher.

Todos no quarto ficaram paralisados. Perséfone apertou o filho nos braços com medo de que o Oráculo usa-se o corpo de Medeia para lhe tomar o menino, mas ele apenas saiu do corpo da feiticeira deixando-a atordoada.

— Eu vou ter outro filho tomado de mim! Eu não vou poder criar uma cria minha novamente... – Perséfone chorava olhando o rosto da criança que apenas queria o peito para se amamentar. – O primeiro olimpiano que matarei será Apolo, mas permitir que essas criaturas fiquem circulando ditando a minha vida!

— O certo é acabar com as Parcas. – Hécate comentou. – Mas elas são seres que não devemos mexer, o mundo entraria em colapso.

— Eu vou criar meu filho! – Perséfone estava relutante.

— Perséfone ele não viverá se crescer com você. – Deméter disse. – Você ouviu.

— Se souberem que meu filho está solto no mundo e longe de mim, o matarão para me atingir. Assim como Hera me tirou Zagreu.

— Perséfone, ninguém precisa saber da existência dele. – Sullivan se intrometeu na conversa das mulheres, ele queria proteger o filho. – Eu deixarei Bruno em um orfanato. Eu me responsabilizarei por olhar ele de tempos em tempos.

— Ouça o Sullivan. – Pasifae ainda segurava os lençóis sangrentos do parto. – Não vai ser a primeira vez que você faz isso. O mais seguro é que a criança esteja longe de você.

Perséfone ficou quieta olhando para o filho enquanto ele mamava em seus peitos. Os pensamentos correndo a mil até chegar em uma conclusão:

— Sullivan, leve ele. Leve ele para os Estados Unidos. É lá que os Francher estão, a "terra onde o inimigo habita".

O Caçador de Dragões pegou a criança do colo da mãe. Olhou para as feiticeiras que apenas confirmaram com um aceno de cabeça o que ele deveria fazer.

Perséfone - A Origem (Bruxos e Deuses)Onde histórias criam vida. Descubra agora