Parte Nove

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Seis meses. O casamento de Hades e Perséfone era admirado por todos do Olimpo. Ninguém nunca imaginou que Hades amaria alguém durante sua eternidade.

Perséfone voltou à superfície. E antes de correr para o encontro de sua mãe no Olimpo, ela foi para a vila onde deixara Zagreu. Bateu a porta da mulher que acolhera seu filho.

— Perséfone! – A mulher se lançou ao chão de joelhos e começou a venerar a deusa. – Rainha dos Mortos! Que sorte a minha lhe ter novamente a minha porta. – Com um pouco de dificuldade se pôs em pé novamente. – A mulher que me deu um filho que nunca pude ter.

— Obrigada! – Perséfone sorriu para a mulher. – Eu vim ver Zagreu. Posso?

— Ah, mais é claro! Entre, entre. – A mulher abanou a mão para que a deusa adentrasse em sua casa.

A pequena mulher correu e puxou uma cadeira de madeira para Perséfone.

— Sente-se! É tudo simples, mas é confortável.

Perséfone olhou a casa humilde, sem reparar muito nas coisas.

— Zagreu já vem minha senhora. Ele foi pegar água no poço e já vem. Ele está tão grande. A senhora verá. – A mulherzinha estava toda esbaforida, correndo para todos os lados. – Aceita um pão? Tirei do forno mais cedo...

— Não precisa se preocupar. – Perséfone interrompeu calmamente.

A porta da casa se abriu e por ela entrou um rapaz alto. Agora mais parecido ainda com Zeus, tirando os cabelos negros. Usava na cabeça um chapéu de palha que foi logo tirando, mas ao ver Perséfone o levou de volta a cabeça.

— Zagreu, pode tirar isso da cabeça! Essa moça, essa bela moça, é Perséfone!

— P-Perséfone? A minha mãe? – Zagreu desceu o chapéu lentamente revelando os chifres que se erguiam na cabeça.

— Sou eu mesma. – Perséfone se levantou e se juntou ao garoto, alisando seu rosto. – Meu filho. Como cresceu, e tão rápido! – Ela abraçou Zagreu e sentiu as lágrimas quentes descerem por seu rosto.

Perséfone passou à tarde na casa conversando com o filho e lhe contando sua história, e porque fora abandonado.

— Quero conhecer meu pai. – Zagreu pediu.

— Seu pai? Mas Zagreu, ninguém sabe que você existe. – Perséfone olhou tristemente para o filho.

— Menino besta! – A pequena mulher lhe deu um tabefe na orelha. – Para de exigir coisas para a Rainha dos Mortos.

— Não se preocupe. – Perséfone riu. – Ele é meu filho, pode exigir o que quiser.

— Então me leve ao meu pai.

— Tudo bem. Eu te levarei a ele, mas não sei como reagirá.


Perséfone chegou ao Olimpo e encontrou o salão vazio, apenas com a presença de Zeus.

— Ora! Se não é minha doce filha e meu mais novo fruto! – Zeus sorriu maldosamente.

— Você sabia da existência de Zagreu? – Perséfone arregalou os olhos.

— Posso não ser Hélio, mas muita coisa não passa despercebida pelos meus olhos. Eu venho cuidando de Zagreu todo esse tempo. Este é um filho do qual eu tenho certo carinho especial.

— Pai? – Zagreu entoou. – Se você sabia de mim, porque nunca se mostrou para mim?

—Eu precisava que você crescesse o suficiente antes de saber. Eu tenho planos para você, Zagreu. Quero que assuma meu lugar no Olimpo.

— O quê? – Perséfone esbravejou e as chamas de todas as tochas se intensificaram. – Você está louco! Não pode fazer isso...

— Zagreu – Zeus interrompeu a filha. – tome o meu Raio. – Zeus estendeu a mão para o menino, lhe passando o Raio.

— Meu pai, eu fico muito grato, mas... – Zagreu pegou o Raio na mão. – Isso é muito para mim.

— Você merece Zagreu. Você é o único digno de assumir meu lugar.

— Mas que ultraje! – Hera adentrou o salão. – Como ousa dar seu Raio a um mero mortal?

— Ele não é mortal, Hera! Ele é meu filho, um deus como todos os outros que tive. – Disse Zeus entre dentes.

— Todo filho que você tem não deveria continuar a respirar! – Hera berrou. – São todos frutos seus e de meras vadias mortais!

— Uh! – Perséfone arfou, lançando Hera ao chão com um gesto de mão. – Zagreu é meu filho! Sua vaca!

— Chega! – Zeus entoou como um trovão. – Está decidido. Zagreu tomara o meu lugar.

— Nunca! – Hera se levantou. – Esse garoto é cria de uma bruxa! Filho de um incesto! Não é digno para governar os deuses. Vamos ver do que ele é capaz de fazer. Se viver a fúria dos Titãs, será digno do trono, mas duvido muito. – Hera riu amargamente.

O Olimpo todo tremeu.

— Fuja Zagreu! – Perséfone olhou para o filho. – Viva! E nunca volte.

Zagreu começou a correr e seu corpo foi se modificando, ficando maior, mais corpulento, e então ele se transformou em um imenso touro. Mas era tarde, a fúria dos Titãs fora invocada, e o jovem Zagreu, enquanto corria, foi tendo os ossos quebrados e vários machucados sendo abertos por seu corpo, enquanto o sangue corria.

Zeus retomou seu Raio e lançou-o na direção de Zagreu, terminando com seu sofrimento rapidamente. Ele se aproximou, colocou a mão dentro do corpo do touro e retirou o coração ainda pulsando.

Perséfone, com os olhos inchados, encarou Hera.

— Nunca te perdoarei. Megera!

Perséfone - A Origem (Bruxos e Deuses)Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang