— Deméter, as terras estão estéreis, e todos estão sofrendo com falta de alimentos. – Zeus dizia para a deusa.
— Não tem como eu cuidar das minhas tarefas no momento. Faz um mês que Koré sumiu e eu preciso encontrá-la. – Deméter colocou um xale de palha seca e se retirou. – Você como pai deveria se preocupar mais.
— Aonde você vai? – A voz do deus retumbou como um trovão.
— Atrás de minha última esperança. – Disse a mulher sem olhar para trás.
Deméter descera à terra dos humanos e se deslocara para uma floresta. Um pátio em ruínas, quadrado, do tamanho de uma quadra de tênis. Havia um portal de entrada e nas outras três paredes, três outros portais. No centro do pátio cruzavam-se dois passeios calçados com seixos, formando uma cruz e os dois lados tinham suportes de metal para tocha. Muita Névoa dominava o pátio, se retorciam e ondulavam como se tivessem vida. Por um momento ela sentira arrepios no corpo.
— Estou aqui. – Deméter ascendeu uma tocha para iluminar o caminho.
— Bem a tempo. – Um homem alto, pele bronzeada e corpo escultural. Os cabelos oleosos e loiros, brilhando como o sol. Olhos azuis como o céu límpido. Usava uma túnica branca de linho e uma sandália de cabedal com várias tiras.
— Hélio, o prazer é todo meu. – Deméter olhou para a personificação do Sol em carne e osso. – Onde está ela?
— Bem aqui. - Uma jovem surgiu; usava um vestido escuro sem mangas. Seu cabelo dourado, no estilo grego clássico. Seu vestido era tão sedoso que parecia ondular. E os olhos negros. — Como combinado.
— Hécate! Esplêndido! Você conseguiu trazer o homem que a tudo vê. – Deméter poderia bater palmas para a feiticeira se não fosse sua tristeza.
— Eu não quebro com minhas palavras, Deméter. – Hécate a fitou por um tempo. – Vamos ao preço...
— O que você quiser desde que traga minha filha de volta. – A deusa da agricultura ficou com os olhos brilhando e pequenos pés de trigo brotaram aos seus pés.
— Eu quero Koré como aprendiz.
— Só isso? Este é o seu preço? Pois eu o pago.
— Muito bem. – Hécate sorriu de canto. – Hélio, fale para ela onde a pobre menina está.
Hélio, que estivera quieto desde que chegara se aproximou.
— O Rei do Submundo a levou para os seus domínios enquanto a garota colhia flores. Ele a quer como esposa. – A voz calorosa do homem era calma e ao mesmo tempo urgencial.
— Oh! Então é por isso que aquelas ninfas que dei corpos de abutre não a encontraram.
Deméter nunca sentira tanta felicidade na vida. Sabia onde achar a filha, só precisava chegar até o submundo. Retornou até o Olimpo o mais rápido que pode.
— Onde está Hermes? – Bradou a deusa ao encontrar todos os deuses reunidos no salão principal do Olimpo.
— O que você quer com o Mensageiro? – Zeus indagou.
— Preciso que ele me leve até nossa filha.
— Você a encontrou? – Zeus bradou.
— Hades a raptou! – Disse Deméter secamente.
— Deméter, olha quem chegou. – Hera apontou para as portas, a voz com o tom ácido e esnobe de sempre.
Hermes entrava voando com suas sandálias aladas.
— Você não tem tempo para descanso, Mensageiro. Me leve até o Mundo Inferior, ao palácio de Hades. Preciso recuperar Koré.
— Mas minha senhora...
— Agora! – O Olimpo se silenciou ao berro de Deméter.
— Antes de ir, tome este chá de papoula. – Héstia estendeu a xicara para Deméter. – Você precisa se acalmar minha irmã, desse jeito não conseguirá colocar as ideias no lugar.
Deméter tomou o chá e sentiu os nervos se acalmarem aos poucos, como num efeito dominó.
— Leve-a. – Héstia falou para Hermes.
O jovem mensageiro pegou Deméter pelos braços e voou para longe do Olimpo. Adentraram em uma caverna cheia de estalactites, que mais pareciam dentes prontos para se fechar sobre eles. Quando a deusa percebeu já estavam no Mundo Inferior. Os gritos guturais dos mortos lhe incomodavam. Pousaram a frente do palácio de Hades. Deméter correu as escadarias e escancarou as portas, Hermes veio logo atrás.
— Que invasão é essa? – Disse Hades surgindo de uma sombra.
— Onde está minha filha? Onde está Koré?
— Calma. Calma. Eu não estou com sua...
As portas que davam no jardim se abriram e Koré veio sorridente.
— Koré! – Deméter abraçou a filha e desatou a chorar. – Eu vim te salvar. Vamos para casa.
— Vamos! – Koré disse sorridente. – Eu não vejo a hora de voltar à superfície. Como a senhora me encontrou?
Então Deméter contou tudo que aconteceu até chegar ali.
— Chá de papoula? – Koré olhou para a mãe. – Farei da papoula meu símbolo para sempre me lembrar do seu amor por mim. – A menina saltou e deu um beijo na bochecha da mãe.
— Sinto em lhes dizer que Koré não pode mais se retirar do meu reino. – Hades interrompeu as duas sem demonstrar emoções.
— Como assim? – Deméter o encarou. – Ela é minha filha e vem comigo!
— Acho que até Hermes entendera o grau da situação... – Hades olhou para o mensageiro. – Koré comeu uma romã do meu jardim.
— Eu comi só seis sementes. – Disse a garota apreensiva. – Eu juro que não foi uma romã inteira, mas eu não resisti... elas pareciam tão gostosas... e realmente eram!
— É... Deméter, ela não pode sair daqui ou morrerá. Ela comeu algo do submundo, isso quer dizer que em parte ela aceitou Hades. – Hermes olhava do deus dos mortos para a deusa da agricultura.
— Não pode ser. – Os olhos da deusa encheram de lágrimas.
— Koré me pertence agora, Deméter. – Hades se aproximou da menina e envolveu o braço em seus ombros.
— Zeus não vai deixar assim! Ele vai retomar nossa filha!
![](https://img.wattpad.com/cover/219390329-288-k44930.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Perséfone - A Origem (Bruxos e Deuses)
FantasyPerséfone fora filha única de Zeus, deus dos deuses, e Deméter, deusa da agricultura. Descrita na mitologia grega como deusa das ervas, flores, frutos, perfumes e estações do ano. Ficou conhecida também como rainha do Mundo Inferior, após se casar c...