Parte Três

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— Onde está Koré? – Perguntou Deméter ao ver Atena, Ártemis e as ninfas voltarem. Todas olharam em volta e devolveram olhos assustados a Deméter.

— Minha senhora – Uma ninfa avançou. – Ela havia me dito, ao sairmos, que queria colher uma flor especial para lhe entregar, e faria isso nem que tivesse de passar a noite à procura da flor.

— Entendo... – Deméter deixou-as e saiu com um ar preocupado.


Os gritos apavorantes dos mortos uivavam por todos os lados. O calafrio lhe percorreu pela espinha. Hades a segurava pela mão enquanto a guiava para seu palácio. Era um lugar bonito, mas de uma beleza sinistra. Árvores brancas esqueléticas cresciam em bacias de mármore. Canteiros transbordavam com plantas douradas e pedras preciosas. Dois tronos, um, cor de osso, e o outro, prateado, erguiam-se na sacada com vista para os Campos de Asfódelos. Guerreiros esqueléticos guardavam a única saída, portando armas feitas de todo tipo de mineral.

— Quando irá me libertar? – Koré soltou da mão de Hades quando entraram no palácio.

— Você está livre aqui. Aqui será seu novo lar, doce Koré. Minha pequena... – Hades passou a mão levemente pelo rosto da menina.

Sai! Eu não quero ficar aqui! Eu quero ir para casa. – Ela deu alguns passos para trás. – Quando meu pai souber que me sequestrou, ele vai lhe matar.

— Então cuidaremos para que ele não saiba de nada, não é mesmo? – Hades sorriu maliciosamente. – Venha comigo. Tenho que te mostrar algo.

Koré o seguiu receosa. Subiram uma escada em caracol que dava direto na sacada que vira ao chegar. À frente os Campos de Asfódelos, onde milhares de almas sem rumo vagavam. A cena era mórbida e triste, e fez os calafrios de Koré aumentarem.

— Este trono lhe pertence. – Hades apontou o trono prateado. – Você reinará ao meu lado.

Nunca!

— Não resista Koré. Será pior para você se adaptar.

Naquela noite, ao se sentar à mesa do jantar, Koré não comeu nada, apenas observou Hades se empanturrar com um delicioso cordeiro.

— Coma. Não quero vê-la morrer de fome.

Mas Koré resistiu mesmo assim. Não iria agradar ao deus dos mortos.

Hades a conduziu para um quarto só dela ao fim do jantar.

— Tenha uma boa noite, meu amor.

Ela ouviu o clique da trava da porta, indicando que estava presa ali. O quarto era todo em tons vermelhos. Uma enorme cortina pesada vermelha caia sobre as janelas que davam no jardim de Hades, o qual era cheio de tulipas negras, petúnias roxas, e as estranhas plantas douradas que haviam por todo lado do castelo. Ao centro do jardim um enorme pé de romã crescia esplendoroso.

Koré desabou na cama e as lágrimas caíram silenciosamente. A noite transcorreu rapidamente e ela não percebeu. Em momento algum fechara os olhos. O céu, de roxo passou para um avermelhado. Ouviu um clique na porta, secou as lágrimas e viu Hades adentrar com uma bandeja farta.

— Vim trazer seu café. – Ele colocou a bandeja na frente de Koré e a observou. – Coma.

Ela apenas mexeu a cabeça em negação. Os dias foram passando e Koré se recusava a sair do quarto ou comer qualquer coisa. Não dormia em momento algum, apenas observava o jardim obscuro de Hades, a única coisa que lhe fazia ter esperanças ali embaixo.

Hades se preocupara. Koré estava definhando de tristeza e fome. Precisava fazer ela se sentir em casa, então notou que ela sempre ficava a olhar o seu jardim.

— Koré, me acompanhe.

A menina, como um zumbi, seguiu o deus. Hades a conduziu até os fundos e abriu as enormes portas de madeira negra. Um brilho percorreu nos olhos de Koré e Hades os captou.

— Deixarei minha doce senhora desbravar meu jardim. – Disse ele se retirando e a deixando a sós.

Koré ficou um tempo a olhar. Poderia agora tocar as tulipas e petúnias que estivera observando ao longe durante todo o tempo que estivera ali. Queria ver que tipo de planta se tratava aquelas douradas que não havia em lugar nenhum da superfície. Ela começou a andar pelas trilhas de pedras enquanto cheirava cada uma das flores.

Depois de muito examinar, não conseguira identificar as plantas douradas. Koré sentiu uma felicidade borbulhar dentro de si, que mesmo sabendo estar no Mundo Inferior, se sentia na superfície. Hades tinha a feito sorrir depois de tantos dias. Quem sabe ele realmente estava gostando dela. Koré saltitou até ficar abaixo do pé de romã. Belas romãs, enormes e fartas estavam pendidas pelos galhos.

Ela esticou a mão e ficou na ponta dos pés para pegar a romã mais vermelha. Abriu-a e comeu seis sementes doces e saborosas. Sentiu uma brisa balançar seus cabelos. Aquelas pequenas sementes foram como uma refeição completa.

Pela primeira vez, Koré estava feliz de estar ali. Hades a amava, e ela não tinha dúvidas disso. Um homem realmente a amava, não apenas desejava ter uma noite com ela.

Perséfone - A Origem (Bruxos e Deuses)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora