— Acho que escapamos, companheiro fugitivo. — Respiro fundo e ele se sacode quando toco suas orelhas.

Um relâmpago clareia o céu e o som estrondoso não demora a reverberar e o animalzinho se assusta, cravando as unhas em meu braço.

— Vai querer me acompanhar até meu destino?

Ele se aninha em baixo do meu casaco e solta meu braço, miando baixo como se dissesse que não sairia dali.

— Tudo bem então, companheiro.

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Não foi difícil encontrar o Coroa escarlate, mas a chuva não perdoou. Caía com força sobre mim e enlameava todo o chão, as pessoas corriam para procurar uma área coberta e fugir da rua. Como em um passe de mágica toda a luz que deslumbrava meus olhos se apagou.

A taverna não era muito diferente das que eu já visitei. Lugar a meia luz, com música e homens e mulheres caindo de bêbados. Vou logo falar com o barmen, que secava alguns copos e olhava para tudo de cara amarrada, era um homem baixinho, quase da minha altura, trajava um kimono de cores claras e parecia cansado de ficar ali.

— Nenhuma cerveja é de graça e eu não faço descontos para uma tripulação maior. — Ele mal olha para mim quando fala. — Se está a procura de informações só passo com a quantia certa de...

Quando ele se deu o trabalho de me encarar, seus olhos desceram direto para o gato que quase dormia enrolado em meus braços e seus olhos se arregalam.

— Me desculpe eu não imaginei que teria problemas em entrar com ele aqui.

Almirante? — Demorei para lembrar o significado em japonês, mas nem isso me ajudou a entender o que raios estava acontecendo.

O meu companheiro de viajem pulou para o balcão e imaginei que tudo estaria perdido ali mesmo, porque esse pequeno animal não era lá muito amigável, no entanto o homem deixou que ele se aproximasse e o acolheu em seus braços. A bola de pelos cinza, por sua vez, apenas ronronou e se deixou aninhar nos braços do homem baixinho.

— Como você o encontrou? Ele estava desaparecido a semanas.

— Ele estava no navio que me trouxe aqui. — Prefiro omitir que eu era uma clandestina.

— E o que te traz aqui? — Agradeço aos céus por terem enviado esse gato, já que agora, o barmen emburrado parece estar prestando alguma atenção.

— Vim a mando de Choi Seungcheol.

Ele mostra compreensão e eu passo a carta que meu amigo me deu.

— Graças... Aquele grupo ali. — Ele aponta para os fundos da taverna e só consigo ver alguns homens reunidos. — Está me ameaçando a um bom tempo, piratas claro, mas não faço ideia de que lugar é esse que eles tanto falam e pedem para que eu os dê a localização. Você sabe onde fica o Fim das esperanças, certo?

Assinto e ele se curva, agradecendo em voz baixa e segurando em minhas mãos. Ele está mais para um senhor medroso agora.

— Não precisa me agradecer. Vou levá-los até lá.

— Aqui. — Ele me serve uma cerveja. — Por conta da casa como um agradecimento por trazer o Almirante de volta.

Sorrio e acaricio o meu companheiro uma última vez, para então pegar minha cerveja e seguir até aqueles que são a razão pela qual eu vim até aqui.

Era um grupo pequeno, quatro homens e uma mulher. Logo eles notam minha presença ali perto, mas termino minha cerveja antes de chegar até eles.

— O que te traz aqui, bela moça? — O que está mais perto de mim diz e oferece a cadeira ao seu lado. Ele tinha barba e usava um chapéu de palha já gasto pelo tempo, era o mais velho dos cinco com todo certeza.

Me sento sobre o olhar de todos, deixando que eles me estudem de maneira curiosa. Aproveito para tirar o casaco que estava encharcado.

— Sou uma oferta de paz, vinda dele. — Aponto sob o ombro para o barmen, que alimentava o gato recém encontrado. — Soube que querem ir até o Fim das esperanças.

Paro para estudar suas caras assustadas. Eles me pareciam jovens, não vi muitas armas também — Pude notar uma faca no cinto do homem ao meu lado. — Julgando a primeira vista eles eram só um grupo de desgarrados sem recurso algum. Contudo, a mulher no meio deles era diferente de qualquer um que eu já tinha visto, seus cachos em um tom claro faziam uma bonita bagunça abaixo do chapéu que usa e a pele morena se destaca à luz do fogo, mas seus olhos eram tão puxados quanto os meus, tudo nela se encaixava de uma maneira única e bela.

— Por acaso a mocinha tem um mapa? — Eu detesto quando me chamam assim. O barbado ainda tem a audácia de tocar minha bochecha com o indicador e segurar meu queixo entre os dedos.

Meu único reflexo foi segurar sua mão e a prender na mesa no mesmo momento que pego a faca presa em seu sinto e a finco bem ao lado de seu pulso na mesa, prendendo a manga de sua camisa. Foi o suficiente para o calar e ver os outros três pegarem as pistolas.

— Se encostar em mim de novo, eu mesma corto sua mão fora. — Antes de fazerem qualquer coisa eles olham para a mulher, que apenas nega com a cabeça e logo eles soltam as armas. — Não tenho um mapa, mas posso levar vocês até lá.

— E qual o seu interesse em ir até lá? — Ela pergunta se inclinando sobre a mesa.

— Quero encontrar alguém. E vocês?

— Tem um capitão recrutando. — O que parecia mais novo diz, está sentado bem a minha frente e seu cabelo passava do ombro.

A mulher acerta um tapa em seu pescoço e o repreende.

— Íamos perguntar quem ela é antes, seu bocó. — O outro diz, parecem serem irmãos. Seguro o riso, mas mantenho a compostura.

— Sou Moon Soo Yun. — Ganho alguns sorrisos cautelosos e um olhar assustado do homem que se senta ao meu lado, agora ele estava acanhado como um filhotinho. — Qual o capitão que está querendo novos marujos?

Eu não poderia deixar de perguntar. Se for qualquer um da frota, significa que eu finalmente poderia ter alguma esperança baseada em algo além de devaneios. Significa que estou exatamente no lugar que deveria estar.

— Não sabemos. — O mais novo dá de ombros, mas logo a mulher ao seu lado o completa e meu coração se agita com o filete de esperança que o toma.

— Nossa única informação concreta é que seu navio tem uma cobra entalhada na proa.

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Black Pearl » » Lee SeokminWhere stories live. Discover now