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— Ei! Novato. — Não era preciso muito para saber que era a mim quem chamava.

Olho para Wonwoo que estava quieto no canto observando tudo e ele assente, dizendo que está tudo bem. Eu ainda não me sinto confortável no meio de todos eles, por esse motivo estou sempre perto do imediato, e quando possível, do capitão Lee. Contudo não posso ficar grudada neles o dia todo e nem quero isso. Uma hora terei que me acostumar.

Eu não lembro o nome dele, só sei que já troquei poucas palavras com o homem alto, moreno, queimado pelo sol, barbado e com o braço coberto de tatuagens. Ele me oferece a garrafa de rum e eu digo que não queria, ganho apenas um dar de ombros e passa para os outro que estavam ali perto.

— Vi que chegou a poucos dias e está desarmado, uma única pistola não vai servir para te proteger, garoto. Confie em mim. — Ergo as sobrancelhas interessada.

— Onde quer chegar com isso? — Ele coça a barba já grisalha e puxa o ar entre os dentes. Esse sim fazia jus ao estereótipo que ouvia por aí.

— O velho Byun aqui foi com a sua cara, pequeno Yunho. Você me lembra outro jovem rapaz magrelo. Eu, então vou te ajudar a criar pelo nesse rosto. — Contenho a vontade de rir e mais uma vez olho para o imediato que estava tentando se manter firme e cobrindo seu sorriso faz um gesto para que eu continue com eles. — Tenho armas sobrando, e não há melhor maneira de lutar contra sereias traiçoeiras e atraentes do que armado até os dentes.

Mordo a língua antes que possa dizer que essas criaturas são um mito nunca comprovado.

— Contra aquelas beldades sanguinárias só boas lâminas afiadas. — O velho Byun se levanta e me pede para segui-lo. — Onde já se viu... Encarar os sete mares sem uma boa espada.

Caminho em seu encalço negando com a cabeça e tentando segurar o sorriso.

— Isso vai ser interessante... — Digo para o vento enquanto entrava no porão do navio atrás do senhor grandalhão.

Eu não fazia ideia de que tinha um baú de armas ali em baixo, aliás eu desci aqui uma única vez para entregar um aviso ao homem de olhos exóticos, Hyunjin.

O velho Byun mexia loucamente no baú, revirando os velhos pedaços de metal e murmurando comentários aqui e ali sobre a qualidade das armas.

— Vamos ver... — Ele separa poucas peças e se vira para mim novamente. — Não parece ter muita força para uma espada grande, uma longa sim, talvez algo mais ágil seja a melhor escolha. Uhm... Isso!

Ele estala os dedos animado e finalmente se vira na minha direção com um par de espadas curtas, simples com o cabo de couro e metal escuro.

Ele me entrega, elas não pesam muito. E me encara com expectativa, esperando por algo que ainda não percebi o que é.

— Vamos, teste-as. — O grandalhão parece animado como um filhotinho quando seu dono volta para casa.

Eu odiava esgrima. Lembrava apenas do básico quando tinha que praticar com Jaehwan porque não havia outra dupla para o meu caçula, nunca fui boa o suficiente e nunca gostei de todas aquelas regras.

— O que foi? Não sabe lutar?

— Nunca fui um bom esgrimista. — Admito e ganho um mero arquear de sobrancelha.

— E quem aqui falou em esgrima, garoto? — Não me assusto mais com o velho Byun, mas algo em seu sorriso louco me fez ficar com o pé atrás. Recebo um tapa fraco mas costas como um empurrão e ouço ele rir. — Venha, pequeno Yunho. Hoje você estará um passo mais perto de se tornar um homem.

Será que uma mulher demora muito para se tornar um homem?

Rio sozinha desse pensamento e me ponho diante dele no convés.

O resto da minha tarde foi preenchido por duelos amigáveis com os marujos que já haviam terminado suas tarefas. O velho Byun estava oferendo uma garrafa de rum a quem vencesse e os outros tocavam uma música alegre. Não posso dizer que amo isso, mas as duas espadas curtas se completam de uma forma tão bela e única, que entender como utilizá-las não foi tão difícil. Logo O sol já caminhava para o seu pôr e o suor descia pelas minhas costas, as tranças que prendem o meu cabelo estão firmes abaixo do chapéu e sou grata por ter lembrado de prender meu cabelo hoje cedo, meus braços doíam da mesma forma que a anos atrás. Antes que eu possa recuperar o fôlego e cruzar as lâminas com Hyunwoo, ouvindo um tilintar muito característico a voz de Seokmin se faz presente.

— O que estão fazendo? — Sua voz soa firme e consigo ver os homens se encolherem, o que para mim não fazia sentido algum.

O capitão não me parece uma figura severa, muito menos cruel. Tem presença, claro, mas não consigo ligá-lo à essa imagem, principalmente com o sorriso que carrega e os olhos expressivos até demais.

— Estamos mostrando ao pequeno Yunho como ser um homem de verdade. — Um deles fala convicto e vejo o capitão segurar o riso e voltar a sua expressão séria rapidamente.

— Essa eu quero ver com os meus próprios olhos. — Ele se encosta no mastro ao seu lado e cruza os braços. 

Hyunwoo volta a se posicionar e eu o imito, seguimos em um jogo de pés, quase uma dança, e nisso eu posso dizer que sou boa. Esse momento de tensão é a única coisa de que me lembro das aulas de esgrima, ambos esperando o momento certo para atacar e como ele não faz eu o faço. Já estava mais confiante com as duas lâminas leves cortando o ar ao meu redor, não me esforçava para machucá-lo, no entanto conseguia ver as brechas que poderia usar.

Espadas se cruzam e não tenho força para aparar o golpe, jogo sua espada para o lado e antes que possa pensar, chuto sua costela. Não foi muito forte, todavia foi o suficiente para fazê-lo parar com a mão no local e um sorriso no rosto.

— Você está ficando forte, baixinho. Pegue o seu prêmio. — Seu sorriso dolorido me faz rir e ele massageia a costela quando aponta para a garrafa nas mãos do velho Byun.

Eu estava com tanta sede que não pude resistir. O rum desceu queimando pela minha garganta e recebi leves empurrões no ombro.

— Tudo bem, homens. Chega de farra por hoje. — a voz de Wonwoo tira Seokmin do estupor e faz com que os homens se calem.

Na última semana percebi que eles têm uma relação um tanto quanto incomum, quase como se equilibrassem um ao outro. Wonwoo me parece uma pessoa séria mais centrada, enquanto Seokmin era mais solto, apesar de tentar esconder isso. São uma dupla e tanto isso eu posso garantir.

— Isso! Já estamos quase chegando ao ponto de encontro, se preparem para atracar ao cair da noite. — O capitão volta a assumir a postura que sempre carrega e os homens logo assumem suas posições, se preparando para seguir os próximos comandos.

Imaginei que ganharia um sermão por passar a tarde cercada de homens e ainda ter bebido, com o velho papo de que isso não é coisa que uma dama faça e todo aquele lenga lenga ridículo que costumo ouvir de homens que nem ao menos se esforçam para tentar me conhecer antes de me julgar, mas para minha surpresa, não foi o que aconteceu.

— Vai me dizer que sabia lutar antes também? — Aquele sorriso que fazia meu sangue ferver tomava seu rosto e me contentei em arrumar o chapéu e guardar as espadas nas bainhas que ganhei de Hyunjin, ainda surpresa por ele não ter me julgado.

— Se eu disser que foi a primeira vez estaria mentindo. E damas não devem mentir. — Sussurro a última parte e faço uma leve reverência com o meu vestido inexistente. — Mas eu era péssima em esgrima.

Ele ergue a sobrancelha e não tira o sorriso do rosto.

— Você luta bem para uma princesa. — Reviro os olhos e ganho um sorriso maior. — Mas cuidado. Damas fatais são as primeiras a serem devoradas pelo kraken.

O capitão passa por mim e bate na parte da frente da aba do meu chapéu, deixando a peça cair sobre meus olhos. Vejo sua figura se distanciar em meio aos homens atarefados e por um segundo ele olha para mim enquanto ouço o aviso de um navio se aproximando há boreste, Seokmin logo se mistura em meio há tudo e bebendo o gole restante da garrafa de rum eu procuro um lugar naquele meio, assumindo novamente a fachada de Yunho.

Tenho o leve pressentimento de que irei me afundar ainda mais a partir daqui.

Talvez eu realmente seja devorada pelo kraken.

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Black Pearl » » Lee SeokminWhere stories live. Discover now