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O som estrondoso de uma onda se quebrando contra o casco do navio foi o que me acordou. Aqui em baixo o movimento era muito pior. Como e sentia falta do convés... Tudo era muito úmido aqui e a escuridão não deixava nada mais acolhedor, as especiarias que me cercavam não ajudam com o fedor característico de estar a, pelo menos, uma semana no mar. — Suor e maresia, vindo de absolutamente todos os lados. — Raramente alguém descia ali, o que era bom, lidar com a tripulação era a última coisa que eu queria.

Meu único companheiro ainda permanece ao meu lado, ele era arisco com a tripulação, mas estranhamente, o bichano parecia gostar de mim e sempre procurava se esquentar sobre meu casaco nas noites frias e quando a água invadia o lugar de algum modo. Conversar com ele era a única coisa que me mantinha sã e impedia de devanear demais, mesmo que ele não me respondesse, não era muito bom pensar demais quando não se tem nada além do escuro e do som das ondas se chocando contra o barco.

No entanto, ele não apareceu no último dia. A solidão caiu como uma pedra e me vi pensando no que eu faria se tudo desse errado, essa Soo Yun impulsiva dos últimos tempos não está me rendendo momentos calmos e desde que parei de analisar a situação tudo se tornou uma bagunça sem tamanho. Quando minha paranoia começou a fazer sentido, pude sentir o navio bater em algo e o som da âncora caindo na água é minha confirmação.

Finalmente.

Me levanto para ficar em uma posição confortável em meu esconderijo quando abrem o compartimento de carga. Caixa por caixa eles começam a tirar tudo dali, o que significa que não me resta muito tempo, preciso sair daqui antes que me achem.

Procuro por um abertura, até mesmo outra saída, mas passar pelo interior do cargueiro e pelo convés está fora de questão. Só me resta uma saída para então me misturar com as pessoas que estão lá fora. Conforme eles adentram eu me movo para a saída, me aproveitando da escuridão que o crepúsculo trazia.

— Ya! Hojin!

— O que foi? — Eles param bem no caminho para a saída.

— Aquele gato, ainda está aqui. — Eles se aproximam e só me resta contornar o caixote e ir para o outro lado antes que me vejam. — Os caixotes estão arranhados de novo.

— É hoje que eu pego ele, estamos perdendo dinheiro por causa desse pequeno filho da mãe há semanas.

Foi tudo muito rápido.

Quando acharam o pequeno bichinho, ele correu pelo lugar, fazendo sons altos e os trouxe até mim quando subiu e se agarrou em minha roupa com as garras finas e afiadas. Os homens não reagiram a princípio, ficaram estatelados me encarando confusos.

É claro que eu não esperei que eles reagissem. Corri dali com gato e tudo.

Obviamente eles me seguiram, clandestinos nunca eram bem vistos. Minha única opção é continuar a correr com um gato assustado em mãos e desviar das pessoas que estão no cais e reclamam que esbarro nelas.

Eu não sabia para onde estava indo, só queria despistar os dois que continuavam a correr ao meu encalço, torço para que não me alcancem, afinal não seria difícil me puxar pelo cabelo que se soltava do coque que usava. Tudo o que pude fazer foi entrar em uma rua movimentada e tentar me misturar até encontrar uma saída. Ao contrário de Joseon, tudo ali era muito iluminado, o que não me deixava muitas opções para me esconder além é claro de beco muito estreitos entre algumas construções.

Isso já está ficando repetitivo.

Só agora me lembro da bola de pelos que está encolhida em meus braços, conseguia ver com clareza agora que ele tinha uma única para branca e o rabo torcido em um ângulo não muito convencional.

Black Pearl » » Lee SeokminWhere stories live. Discover now